quinta-feira, 31 de maio de 2018

Led III – Uma análise tripla de passado, presente e futuro


Bem-vindos, novamente, promíscuos concubinos do rock!

Este blog sofreu um grande hiato, devido a fatores externos e que envolvem forças maiores, porém não devem ocupar sequer meia palavra neste espaço. Eu e o Betão prometemos entreter novamente os amantes do rock com mais posts sobre este estilo tão amado. Sem mais delongas vamos ao que importa.

“Porra Leandro, você não posta nada há anos, e vai voltar para falar de Led? Cadê a proposta de Blog descolado, metido a alternativo? Toma vergonha nessa cara!” Calma lá! Primeiro que Led sempre gera assunto (fale bem ou mal de mim, mas fale) e gerará assunto para sempre. Segundo que estes quatros ingleses criaram um aparato musical que será copiado, imitado, sampleado e reverenciado perante toda a eternidade, passando pela guitarra suja de Jimmy, pela voz rasgada e estridente de Robert, pela sensibilidade e virtuosismo de John no baixo, bandolim etc., e por fim, mas não menos importante, a porrada absurda na bateria do outro John. Claro que ainda falta citar todos os trejeitos e cacoetes que tinham em cima de um palco, criando moda e tendência. E já vou avisando que este blog, em toda a sua proposta de catarse, não passará pano algum para estes senhores, que apesar de serem uma sumidade em termos de criatividade, tem a carreira marcada por diversas acusações de plágios, algumas infundadas e outras totalmente descaradas.

E qual a motivação desta análise? V.Ex.ª Alberto Costa, Betão para os íntimos, veio de sobressalto, em uma conversa descontraída de Zap, denunciar os absurdos cometidos por uma banda composta por quatro fedelhos de Michigan, EUA. “Quem são os caras?” perguntei eu. “Greta Van Fleet, já ouviu falar?”. Talvez por mera coincidência do destino havia lido uma matéria na internet sobre os ditos cujos, falando sobre a participação deles no Oscar, tocando com o vulgar Elton John (ironia detected). “E qual é a deles Albertones?” novamente indaguei. “É Led, saporra”. Não sei se certamente com estas palavras, mas o conceito é este. Pois bem, como sou um maníaco obsessivo por conhecer a fundo a história das bandas que aprecio, fui atrás como um viciado no auge da abstinência. Ouvi tudo que tinha de gravações de estúdio no youtube, vi boa parte dos shows disponíveis e, finalmente, dei-me conta de algo muito importante. Nós, roqueiros, sujos e morféticos, estamos extremamente carentes de um novo Led! 

Vivemos um momento da mais pura bunda molice no cenário mundial de rock, com falta de vontade, criatividade e uma inércia que parece não ter fim. Meu objetivo aqui não é denunciar outros estilos, respeito todos, de coração, pois a vida me ensinou a ser menos xiita e elitista com relação à música. O que me entristece é ver que o rock não produziu mais nada de relevante nos últimos anos, apesar de ter muita gente fazendo coisas legais, autorais, diferentes e artísticas, que vai de figurões do rock à bandas experienciando as margens do mainstream. A grosso modo, tá faltando novos movimentos como: grunge, punk, progressivo, alternativo, heavy metal entre outros.

“Voltou com tudo hein? Tá viajando na maionese!” Querido leitor, espero ao final deste post concluir com sucesso minha linha de raciocínio. Vá se preparando para o pior!

Por fim, se você acompanha o Blog, já deve ter notado que Led moldou meu caráter musical, e o de grandes músicos famosos pelo mundo, e, por este motivo, é a banda que pode ser usada como referência para qualquer outra que se aventure por aí. Não é raro ouvir “nossa, esta banda é o novo Led” ou “esta banda é o Led dos anos 90”. Estas frases podem ser replicadas também para Sabbath, Beatles, Floyd etc.

Em suma, Led é foda, amamos mais que x-bacon e estamos muito frustrados por nada tão bom surgir. Sendo assim, minha proposta é: traçar uma linha do tempo do Led, apresentando passado, presente e futuro, representados pelos discos, Led Zeppelin III (do próprio), Amorica (The Black Crowes) e From The Fires (Greta Van Fleet) em 3 posts distintos (ficou grande pra kct, era tudo um post só, então eu quebrei). Explico as escolhas posteriormente, confiem em mim. Vamos lá!

Led Zeppelin – Led Zeppelin III


O Led é o passado por razões óbvias, né, nem precisa explicar? Olha as caras de tiozões do rock ai! (O Robert ta parecendo a mistura do Oswaldo Montenegro com a Vanderléia)


Escolhi Led Zeppelin III para este post pois acredito que o disco seja o ápice da maturidade musical da banda, sem menosprezar, obviamente, os dois anteriores. Toda aquela fúria verificada no primeiro álbum, foi se dissipando, atenuando e o caminho a ser seguido ficou límpido e claro, com a banda finalmente alcançando o paroxismo da mescla “chumbo que flutua”. A escolha desta magnífica obra de arte embasará os comentários sobre o presente e futuro também.

Como uma fita rebobinando, sem precisar de caneta bic, a horda provinda de valhalla - o olimpo dos deuses nórdicos - traz o martelo voraz de Thor e cia, que açoita a carne da incauta humanidade. “Valhalla, I am cominggggg”. É isto senhores, aqui está Immigrant Song, uma das músicas mais barra pesada já feitas, com um riff absurdamente simples, em contraste ao gelo e o sol da meia-noite. Robert grita a plenos pulmões, estridentemente, rogando uma praga pestilenta sobre os ouvintes. Posso dizer sem medo da leviandade, que esta música me fez arder em paixão por Led. A despretensão total em não soar como um clássico, a torna épica. Afaste os móveis e tente não se jogar na parede enquanto escuta, ela passa rápido e não vale a pena morrer por ela (será?).


O próximo petardo já foi falado aqui no Blog, no post sobre o disco No Quarter, da duplinha carimbada Page & Plant. Friends perdura a despretensão da música anterior, porém é rica em detalhes. Um violão de afinação aberta, um Robert agudo de quebrar taça, sintetizadores, vozes não identificadas ao fundo, um vento que traz o gosto salgado das areias do longínquo deserto babilônico. Kashmir só veio no sexto disco da banda, e Friends, com certeza é o prelúdio. Possui um fim espacial que culminou em celebração. Celebration Day é o sarau de comemoração aos anos 70. Vamos cantas, dançar e curtir isso tudo. Começa como um country sulista, cheio de subversão blueseira, que te contagia. Mr. Page não poupou crueldade nas guitarras e é o grande destaque da música. Mr. Plant continua com sua voz irritantemente saborosa. Mas a cozinha está lá, John², mexendo essa panela com força, para não queimar no fundo. Ficou felizinho? Se prepare para o pior então.

Since I’ve Been Loving You é a melancolia em sua maioridade cívica. Pode ser só uma música de amor, porém atravessa o peito e te sufoca em lágrimas. Esta paixão hipócrita sai fervorosamente do coração e atinge em cheio as cordas da guitarra. No trecho em que Plant bate em nossa porta, denunciando a perfídia, a música explode em magnificência. Destaque para a frieza e precisão de Bonzo em agredir a bateria, como se estivesse fazendo ao amásio. Seria mentira dizer que esta é minha versão favorita desta música, principalmente para quem acompanha o Blog e já leu isto aqui, porém continua sendo meu ponto alto do disco.

A celebração volta em Out On The Tiles e a porrada come solta. Creio que esta música é o divisor de águas do disco, trazendo todo o peso visceral do Led, seja nos grandes riff de guitarra, na bela vocalização e na consistência baixo e bateria. O que vemos a seguir é uma mudança de andamento mais amena, em que o dirigível começa a revoar por terras mais “folk”. Aguente firme, pois Gallows Pole chegou para nos salvar, com uma bela pitada acústica, com um bom punhado de influência norte americana, ou seja, uma já conhecida receita de sucesso.

E o acústico continua e o country também em Tangerine, a primeira baladinha do disco, recheada de simples acordes em um belo violão 12 cordas - é tipo uma viola, só que a viola tem 10 cordas, porque gringo faz tudo melhor #ironiaagain. É uma melodia doce como uma mexerica mesmo, e inocente como uma paixão de adolescente.

A partir da metade o disco assume esta toada acústica e vai até o fim, e é assim que tem que ser: That´s The Way. John Paul Jones nos brinda novamente com um tímido bandolim, que propicia o clima dos fados lusitanos, já abordados em outro post sobre o Led. E ainda tem uma guitarrinha de colo, que acende um incenso floral ao fundo para transcendência espiritual.


Agora o momento mais polêmico do disco, pois aqui temos dois plágios, Bron-Y-Aur Stomp e Hats Off To (Roy) Harper. Pelo menos é o que nosso colega de longa data, google, nos diz. A primeira está na lista dos plágios de Jimmy a Bert Jansch (se você curte música folk da Escócia, Irlanda e agregados, PROCURE MAIS SOBRE ESSE CARA!!!!!!!!!!!!!!!!!!) e a segunda é mais um blues orgânico dos anos 20, talvez perdido em sua real autoria, que os caras do Led foram lá e kibaram. Plágio ou não, são músicas excepcionais, que exalam o fresco e fétido odor dos mangues formados no rio Mississipi, desaguando na terra do Jazz, New Orleans. Toda essa carga emocional está lá, seja no bumbo exagerado de Bonham, ou no slide ansioso de Page. Vale destacar que o disco termina onde o Led começou, no diabólico delta blues!

E aqui terminamos o passado, a fundição que concretou o rock de várias maneiras. Vários cantores apareceram depois cantando agudo de estourar taça, centenas de guitarristas colocaram a guitarra no joelho enquanto fumavam (tá bom, Keith Richards é o pioneiro), um monte de baixista que toca piano (Geddy Lee?) e por fim, mas novamente não menos importante, trocentos bateristas tomaram coragem e fizeram solos de 40 minutos.

To Be Continued...

Grande Abraço!