quinta-feira, 7 de junho de 2018

The Black Crowes – Amorica


Bem vindos!

Conforme prometido, contínuo minha incursão despretensiosa nos vales de chumbo Zeppelinianos, tentando provar o improvável: o Led criou tendência, formatando uma linearidade temporal de passado, presente e futuro. Neste post discorro sobre o presente!

“Banda do presente? Os caras se separaram em 2015, não fode!” Eu sei que os muitos (dois, o Betão e eu) leitores do Blog devem estar se perguntando por que escolhi Black Crowes, uma banda que mais anda separada que outra coisa, como a perspectiva presente de Led. Em minha defesa alego que Black Crowes é uma banda com potencial de fazer algo relevante para o rock, mesmo tendo que lidar com os egos explosivos e incompatíveis dos irmãos Robinson - quem conhece a história da banda sabe do que estou falando. Acrescento ainda que os caras já encontraram a sonoridade e identidade deles, produzindo um conteúdo totalmente autoral e magnífico!!! Eles foram e voltaram várias vezes (tipo o Scorpions) então ainda tenho fé que voltem o quanto antes.


E por que o Led do presente? Esta é a parte mais interessante para mim, pois talvez para olhos menos atentos não há tantas semelhanças assim. Uma banda que contou com seis membros em sua formação (um teclado e uma guitarra a mais da formação do Led com quatro), um vocalista estridente, mas sem o alcance total de Robert, com leves trejeitos de mick Jagger, além de uma dobradinha de guitarras, coisa que o Led nunca teve. Concordo, porém, o som dos mestres do dirigível está lá, sem tirar nem pôr, nos riffs, no clima blues rock com muito peso, na pegada setentista e por aí vai.

E o argumento final: quem fez um show na Grécia em 2000, que virou cd e dvd, com nada mais, nada menos que Mr. James Patrick Page, reproduzindo os maiores clássicos dos ditos cujos? Ponto final, 7 a 1 pra mim!

E por que Amorica? Porque eu gosto desse disco e a arte da capa é polêmica (coloquei a foto de uma versão minimalista, mais light, julguem-me).


Foi, mas já? Calma lá, Gone chegou, mas ainda não foi. Umas batidinhas leves de colher no copo, ditam o ritmo da guitarra abafada que puxa o trem. Não temos um retorno aos anos 70 à Zeppelin, porém toda a pasta base que criou o Led, dá o tom nesta música. Microfonias, guitarras sujas, solos de veia blueseira e muita gritaria de Chris Robinson. Tem até piano de criança. E sem trocadilhos, “foi” tudo isso aí mesmo. Uma porrada!

Em flagrante ação conspiratória com o Belzebu, em alguma encruzilhada empoeirada, A Conspiracy monta sua armadilha. É cheia de swing, com muito pedal Wah Wah, saindo da nebulosa Inglaterra e indo direto a Seattle, ao covil do saudoso mestre das seis cordas, Jimi para os íntimos. Mas como o título anuncia, não passa de uma tramoia, e o refrão taca o Led na tua cara, te dando um belo traumatismo craniano. O riff do refrão e o mini solo do fim são Jimmy (não vai se confundir com os Ji(mi)mmy(s) aí não hein?) em essência.

Num suave tom de galhofa High Head Blues começa, com uns reco recos de pia de área de serviço, um riff de poucas notas e um clima de fim de tarde ensolarado. Ai a porrada chega no refrão, com direito a Hammond, E7/9+ (busque conhecimento) e batata frita em óleo vagabundo acompanhando. Chris Robinson não é o Plant de verdade, mas tem toda marra de cantor branco de blues de seu antecessor. Um solinho vulgar (no bom sentido) à Page no fim, dá tons finais. Pois bem, apertaram a bagana durante toda a música, acenderam e puxaram só para deixar a “cabeça lá no alto”. Menção honrosa ao clipe que eu adorava assistir na MTV, viagem pura!



Cursed Diamonds é a primeira balada do disco e nos transporta diretamente a outro petardo Zeppeliniano: Ten Years Gone. Acordes molengas em uma guitarra limpa e algumas notas de piano acompanhando, aram a terra para o que vem pela frente. Eis que tudo explode e a fórmula de sucesso está toda lá, um puta riff pesado, a voz estridente e blues de Chris e um delicioso e cortante slide de guitarra que tira um teco de nossos corações. Aquela tensão e calmaria que só o Led propicia está ai jovens!


Non-fiction é uma de minhas favoritas do disco. Não sei pontuar diretamente por quê, porém Black Crowes sempre me dá a impressão de ser a junção de duas bandas que simplesmente amo: Led Zeppelin e Allman Brothers Band. O clima de blues sulista está sempre lá, com um pezinho no country, meio dançante e um galho de trigo no canto da boca. Ambas as bandas foram mestres em criar este clima, mesmo uma sendo de origem britânica. Escute a música Midnight Rider do Allman Brothers e prove que isto tudo não é uma ficção. Mais uma balada perfeita para se deleitar em um dia tranquilo, aumentando o som e cantando alto o refrão.

Hammondzinho de leve, só para clarear as ideias. Ai a guitarra vem e estraga tudo. She Gave Good Sunflower traz um pouco de peso de novo e te faz balançar a cabeça em uma leve convulsão de sentimentos. Mais setentista impossível, principalmente no belo solo de guitarra, cheio de wah-wah (de novo? Vai gostar assim lá na pqp). Faça um esforço e repare na base cheia de tensão que faz o pano de fundo para os dois solos. É possível ouvi-la melhor após um breve silêncio, acompanhada posteriormente pelos votos de amor de Chris. É um dos contrapontos mais interessantes do disco, mostrando que não é só uma banda de inspiração e aspiração setentista.   

Agora é bluesão nos moldes de Muddy Waters na tua cara, guenta ai! P. 25 London traz aquela gaita estridente dos mestres clássicos do blues, dos mestres clássicos do Led, isso aí é mais clássico que Mozart, rapá!!! Atente para a guitarra slide em clara fusão com a gaita, detonando nossas mentes. E dá-lhe solo. Acho que os irmãos Robinson se odeiam, pois não foram capazes de tolerar seus gigantescos talentos. Infelizmente essa é uma das grandes mazelas da música. Egos!!!

Faz-se necessário, a esta altura do campeonato, uma balada que nos represente. Ballad In Urgency veio suprir esta lacuna. E para resolver tal problema trouxeram o conhecimento adquirido desde Beatles: guitarra trastejando com cara de cítara, bons refrãos e um inquestionável solo de guitarra. Para concluir, passarinhos, piano, baixo fretless (me corrijam, mas parece baixo sem traste) preparando o prelúdio do que vem a seguir...

... os tempos de sabedoria chegaram para deduzir nossos espíritos. Wiser Time é o ponto alto do disco senhores, como um corredor ultrapassando os retardatários, nada irá alcança-lo. Lembro-me a primeira vez que a ouvi, parei tudo que estava fazendo, pois, o céu é aqui mesmo na terra. É o tipo de música para ouvir viajando, viajando de carro, de avião, na sua mente, em qualquer lugar. Tem blues, tem letra bonita, tem solo de guitarra, de piano, de lap guitar, de violão blues (caixa acústica de metal). Tudo o que você precisa tá ai, nem precisa sair de casa para comprar arroz e feijão.




Uma pequena digressão. Black Crowes, assim como o Led, nunca se furtou a recriar o blues em seu mundo musical, e, este, talvez seja o maior elo que os une. São bandas de blues que quiseram fazer mais e esbarraram no rock. Downtown Money Waster é a prova irrefutável disto. Você enxerga tudo:  slide de pacto com o demônio, a musicalidade do delta blues e Chris buscando incessantemente a blue note.

Mais uma ótima balada pela frente, Descending, tão boa quanto as feitas pelo Led. Tudo o que já foi falado anteriormente aparece aqui, slide em violão - os caras gostam muito de slide, e quem não gosta? – um ótimo refrão e um piano suave e limpo que finaliza os trabalhos. Em via de regra, o disco acaba aqui, porém, a versão analisada aqui, (UK 1998 Reissue) ainda tem mais duas músicas!

Song Of The Flesh começa absurdamente estranha, com uma base de teclado que parece fora de contexto e uma gaita nada a ver (para dizer no mínimo) dando a impressão que começou errado. Quando o blues volta, tudo entra nos eixos, como um trem voltando a terra natal. Cara, e dá-lhe slide, mas a gente não enjoa!!!

E por fim, mas não menos importante, temos nosso momento Bron-Yr-Aur na prolixa Sunday Night Butterfly Waltz. Um belo instrumental, contando somente com um violão, carregado do sentimentalismo folk de outrora. Sinceramente, gosto do jeito que o disco acaba neste release, mesmo sabendo que talvez a concepção inicial do álbum não contemplava esta música.

Black Crowes é isto, uma banda de rock, despudorada em soar blues, com talentosos músicos totalmente influenciados por grandes bandas dos anos 70, em especial o Led, que contava com uma energia frenética em suas apresentações ao vivo. Destaco que apesar de beber do cálice abençoado do dirigível de chumbo, ela sempre teve vontade própria e personalidade. Já não posso dizer o mesmo dos “xovens” que vem a seguir.

To Be Continued, Again...

Grande Abraço!

**Editado em 08/06/2018

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