segunda-feira, 23 de julho de 2018

Bill Mumy - Velour

Salve Galera do Rock!!!

Hoje, o que me trouxe até aqui foi um misto de estupefação, nostalgia e alegria. E por que tantos sentimentos envolvidos numa postagem sobre um simples disco de rock?

Bom... Vamos lá... Mais uma vez, resgatando momentos da minha infância feliz...

Sou do tempo da televisão. Quando não estava na rua brincando com os amigos do bairro (coisa cada vez mais rara nos grandes centros), eu estava em casa ou assistindo televisão ou então ouvindo os discos de vinil de meu pai e dos meus irmãos mais velhos... Tá bom... Tinha a hora de fazer a "lição de casa"...

Mas falando de televisão, este era um hábito que eu alimentava com bastante fervor, na medida em que havia um sem número de seriados e desenhos animados que faziam a alegria da molecada.

Terra de Gigantes, Viagem ao Fundo do Mar, Túnel do Tempo, Jornadas nas Estrelas, Jeannie é um Gênio, A Feiticeira, Daniel Boone... Havia também os seriados japoneses, tal qual Ultraman e Ultraseven (e havia um, que quase ninguém lembra, que se chamava Ultra Q)... Em termos de desenhos animados... vixe... aí a coisa fica séria... Desde os incontáveis personagens Hanna Barbera (sem condições de citar os nomes)... Passando por Pica Pau e Pantera Cor de Rosa... Jonny Quest... Scooby Doo... Manda Chuva... Havia também os desenhos bem toscos (parados) da Marvel, os quais retratavam personagens como Homem de Ferro, Incrível Hulk, Thor, Príncipe Namor e outros... E ainda os japoneses... A Princesa e o Cavaleiro... Shadow Boy... Fantomas... Speed Racer... e o mais legal de todos... Sawamu (ele se julgava o demolidor)...

Porra Betão, por que você tá citando tudo isso? Isso aqui não é um blog dedicado a falar de discos e bandas de rock???

Exatamente... Mas o que me inspirou a resenhar o disco de hoje foi uma série televisiva que eu adorava (talvez aquela que mais me encantou durante minha infância)... Estou falando de Perdidos no Espaço.

Para quem não sabe do que se trata, o seriado mostrava as aventuras da Família Robinson, viajantes espaciais numa missão em direção ao sistema estelar Alpha Centauri, que se perderam no espaço e passaram a viver experiências inimagináveis, tais quais visitas em planetas desconhecidos e cheios e monstros e personagens muito pitorescos.

Os personagens da saga eram o Professor John Robinson, chefe da expedição, sua esposa Maureen Robinson e sua prole, as filhas Jude e Penny (no começo eu era vidrado na Penny, que era mais jovem do que Jude... Entretanto, ao me tornar adolescente, passei a reparar muito mais em Jude... kkkk) e o jovem prodígio Will Robinson. Além da família Robinson, o outro integrante oficial da expedição era o Major Don West, o qual, juntamente com o Professor Robinson, eram responsáveis pela navegação da espaçonave Júpiter II. Outro personagem da série era o Robô, uma parafernália mecânica que durante o andar da série ganhou ares humanos, na medida em que passou a se relacionar com os personagens de forma bastante emocional. E por fim, o vilão da trama: o pernóstico, intrigante, insidioso e pusilânime Dr. Zachary Smith.

Sem entrar ainda mais no mérito das tramas e aventuras vivenciadas pelos personagens de Perdidos no Espaço, os mais marcantes do seriado eram sem dúvida alguma o jovem Will Robinson, o Robô e o trapalhão e covarde Dr. Smith.

Eu, na minha condição de moleque, na época mais ou menos com a mesma idade do personagem Will Robinson, por certo que me identificava com o garoto esperto e aventureiro que se metia num sem número de encrencas junto com o Dr. Smith e o Robô.

Muito bem... O tempo passou... Me tornei um adulto, mas sem dúvida alguma que nunca me esqueci de Perdidos no Espaço e de seus personagens, principalmente de Will Robinson.

Dia desses, me encontrei com meu grande amigo, Wanderlei de Lima, um aficionado por séries e desenhos antigos, tais quais todos estes que citei acima. Num dado momento de nossa conversa, Wanderlei me disse que segue, via Facebook, o ator Billy Mumy (Will Robinson) e que ele é um contumaz postador de conteúdo na rede, principalmente com relação ao seu trabalho musical.

Pois bem meus amigos, o então ator mirim dos anos 1960 Billy Mumy se tornou, entre outras coisas, um músico. O sujeito é multi-instrumentista e já gravou vários discos (entre carreira solo e em associação com outros músicos).

Daí a minha estupefação, na medida em que eu nunca tinha ouvido falar de Bill Mumy (seu novo nome artístico) e de sua vasta e excelente obra musical.

E lá fui eu conferir o trabalho musical de Bill Mumy. Ouví vários de seus discos, sendo que alguns deles me impressionou bastante, positivamente falando. Um ou outro não me cativou. Mas, no geral, encontrei músicas de melodias muito agradáveis, bons arranjos, sacadas sonoras e levadas rítmicas deveras instigantes.

Bill Mumy faz uma música marcantemente inspirada naquilo que foi feito na década de 1960 e início dos anos 1970, com destaque para ritmos mais próximos do folk e da country music americana. Entretanto, em vários momentos entra em cena uma pegada mais vigorosa, onde Mumy imprime uma levada de guitarra mais forte, fazendo com que o rock tome conta do pedaço. Em outros momentos, uma levada mais bluesy também aflora e faz com que o ouvinte se inebrie com melodias repletas de swing e com algumas pitadas de grooves.

A voz de Bill Mumy puxa para algo mais rouco e levemente rasgado, lembrando em alguns momentos o grande Bob Dylan (e aqui vale um aparte, na medida em que eu diria que se trata de um Bob Dylan melhorado... E não é que eu não goste de Bob Dylan... Eu gosto! Todavia, tem músicas dele onde o vocal é sofrível).

Já no tocante às sessões de guitarra, algumas músicas me remeteram diretamente ao sensacional Neil Young, principalmente os discos da década de 1970 com o Crazy Horse.


O ALBUM VELOUR




Nesta resenha, estou tratando especificamente do disco mais recente lançado por Bill Mumy, o álbum "Velour", lançado em 2016. Entretanto, recomendo que vocês ouçam o primeiro disco solo dele, intitulado Dying To Be Heard (1997). Há outros trabalhos intermediários bastante bons.

Partindo agora para nossa breve viagem musical, a qual terá 12 paradas, falemos de "I Love My Banja Bean", canção que abre o disco e, com seus escassos um minuto e vinte e quatro segundos, nos transporta diretamente para alguma paragem bucólica do interior norte-americano. Não há muito o que dizer, mas apenas sentir... Bill e seu banjo suave nos conduzem ao começo de uma viagem tranquila e despretensiosa.

Seguindo nosso destino, temos "The Infrastructure of Our Soul", outra canção que sugere que nossa estrada é pouco sinuosa e sem grandes aclives e declives, proporcionando uma viagem sem solavancos e sobressaltos. Aqui, porém, já sentimos a presença da guitarra, a qual vem acompanhada por uma batida pouco encorpada e que certamente não tem a função de empolgar... Não que isso seja algo que desabone a música! Nesta etapa, Bill nos brinda com os primeiros tostões de sua voz rouca, entoando um cântico com um lirismo bastante voltado para a introspecção e algo na linha de uma oração.

Já em "When Roger Was Jim" a velocidade aumenta e o vento sopra com mais vigor em nosso rosto. Aqui temos uma música que me remete à sonoridade de Tom Petty, onde a guitarra se torna mais presente e instigante e a melodia mais encorpada face à uma levada ligeiramente mais vigorosa. 

Na quarta etapa dessa viagem, que tem início na estação "It's Always Something", o trem assume a velocidade de cruzeiro. Aqui sim temos um rock n' roll (com forte influência da country music) na pura acepção da palavra. As levadas e os riffs de guitarra engrossam e temos a presença mais cadenciada da bateria (mas, diga-se de passagem, que bateria não é o forte nas músicas de Bill Mumy). Em certo momento a paisagem ganha contornos bastante coloridos em função de uma brilhante incursão de gaita na música.

"Hills and Valleys" é certamente a música com a pegada mais blues do disco, insinuando um desvio para o território mais ao sul dos Estados Unidos. Nesta etapa do caminho, certamente encontramos a musicalidade negra que forjou o rock n' roll.

E o nosso trem vai serpenteando campos e vales, cruzando riachos... Adentrando pequenos povoados... Canções como "Who's Gonna Put This Fire Out", "She Came to Hollywood (For Joy)", " If I Ever Make It Back to Laurel Canyon" e "Intimate" vão nos mostrando a face das pessoas, delineando os contornos das casas e desnudando detalhes da vida simples de um artista que certamente tem uma sensibilidade muito impar.

Estamos chegando na parte final de nossa viagem, onde Bill Mumy nos embala com lindas e tristes canções que certamente falam de amor.

O destaque fica por conta de "We're One", balada de melodia lindíssima, a qual conta com arranjos de piano, cordas e gaita de tirar o folego de tão puras e encantadoras e que tem um lirismo poético ao mesmo tempo simples e profundo. Ao ouvir esta canção, dá até vontade de se apaixonar.

"I Couldn't Love You Anymore Than I Do" é a penúltima parada desta etapa final; certamente fala de amor e paixões, mas não me cativou como a anterior. 

O final da viagem sugere algo de muita tristeza... Talvez o fim de um relacionamento... Tal qual em "We're One", temos uma das mais lindas melodias do disco, onde o acorde final cala fundo em nossa alma. 

Bill Mumy não me pareceu ser um músico e instrumentista extremamente virtuoso. Algumas canções, inclusive, pecam pela falta de elementos mais elaborados e uma percussão mais forte e orgânica.

Entretanto, sua musicalidade tem uma abordagem sensacional, muito emocional e inspiradora. Ele faz música com a alma de alguém que quebrou as barreiras da superficialidade da vida atual. Esbanja pureza de espírito e sensibilidade em composições simples, diretas e que atingem em cheio os corações daqueles que estão preparados para um mundo melhor.

Foi isso que eu senti ao ouvir sua música...

Forte abraço a todos e até a próxima.

Betão Star Trips

P.S.: Gostei tanto da música de Bill Mumy, que antes de publicar esta resenha eu produzi um podcast Drops Star Trips onde falei brevemente sobre o artista e onde abordei o trabalho musical contido no álbum "Velour" e no seu primeiro disco, o álbum "Dying To Be Heard". A seguir, vocês tem o link do podcast para audição (clique na imagem abaixo):

 DROPS STAR TRIPS Nº 40 - BILL MUMY

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