quarta-feira, 29 de maio de 2013

Opeth - Heritage

Bem vindos!

As londrinas tardes de maio da Paulicéia instigam-me a dissertar sobre bandas gélidas. Há tempos quero falar sobre esta maravilhosa banda, conterrânea de Ingmar Bergman, ABBA (eita?) e de uma infinidade de bandas de Black Metal. De alguma maneira o paganismo da mitologia nórdica inflou os corações dos habitantes destas planícies com satanismo, ódio e glórias, estas agora perdidas.





Por tanto, Opeth, natural de Estocolmo, é uma das referências do metal progressivo, elevando este vocábulo à sexta potência, pois inseriu o gutural em um contexto que só permitia sopranos (vide Dream Theater e seu James LaBrie). Realmente quando falamos de relevância vocal em música, o nome de Mikael Åkerfeldt (difícil de escrever hein) tem que ser citado, e ele poderia parar por ai, no entanto é o dono de todas as composições da banda e ainda arranja tempo para ser um fanfarrão nos palcos. Beleza, já inflamos bastante o ego dele, agora podemos prosseguir.

Para os fãs mais puristas este não é o melhor disco do grupo, é menos pesado e não tem os característicos vocais guturais. Em meu caso, foi a primeira obra completa que ouvi deles, transformando-me em fã absoluto, além de me levar a procura dos outros trabalhos, como o excelente Ghost Reveries de 2005, o meu favorito. Aceitei que gritaria em música pode ser muito legal. E lá vamos nós!



Segundo o próprio Åkerfeldt (viva o control + c, control + v) Heritage, que dá nome ao disco, é uma homenagem ao Jazz Sueco incutido no subconsciente da banda, uma linda e delicada música, harmoniosa por si só, não é rock, mas é de onde ele veio. O piano apresenta-se sozinho para nosso deleite.

E após o maravilhoso prólogo, enfim The Devil’s Orchard. O rock aparece diminuto, porém forte e magnificente. Elementos perdidos nos anos 70 estão de volta, teclados estilo Hammond, guitarras com distorções leves e bateria arrítmica. Mikael havia provado nos discos anteriores que é um mestre na criação de riff’s, e prossegue assim sendo. O trabalho nas baquetas é fora do comum, toda a música é pautada por elas, modulando os 3 momentos marcantes. Bandas que conseguem agir como uma coisa só são minhas favoritas.

I Feel The Dark remete-nos ao disco Damnation do grupo, que abdicou, em partes, das guitarras. O início é suave por demais, barroco, erudito e talvez Bachiano, Blackmore ficaria orgulhoso. Perceba o agradável timbre de voz de Mikael, aliado ao belo instrumental criado. Na metade da música surtos de Robert Frip e Cia alvejam a música, transformando-a imediatamente em um clássico setentista do King Crimson. John Wetton, Greg Lake e Bill Brufford ficariam felizes também. Se não sabe quem são eles, busque conhecimento.



Citamos Blackmore, dois parágrafos acima, certo? Olha ele ai outra vez em Slither! Esta é a versão Rainbow do mago das guitarras. Uma homenagem da banda a Ronnie James Dio e a uma das melhores épocas dele (se é que houve alguma ruim). Muitos acusam esta nobre melodia de estar fora do contexto do disco. Primeiro que o rock não é um quadrado no qual tudo tem que estar perfeitamente alinhado, segundo que canções fora de contexto só devem ser criticadas se forem realmente muito ruins. Diga-me se você não ficou com vontade de ouvir Long Live Rock ‘n Roll, ou Rising na íntegra depois dessa?
 
Nepenthe começa com uma brisa viajante, imagino-me numa praia deserta e nublada. O casamento poligâmico de baixo, guitarra e bateria, lembraram-me alguns discos de jazz que ouvi muito na minha adolescência, de Mike Stern a Jaco Pastorius. O que mais me fascina neste disco é a potência dos teclados, como faz falta a inserção dele decentemente nas músicas da atualidade, parece que todas as bandas o utilizam de forma equivocada. Observem que todos os solos de guitarra parecem friamente calculados.

Häxprocess prossegue a toada da anterior, aproveitando o ritmo suave que paira no ar. Martin Axenrot é o nome dele, o dono das baquetas e com alto nível de virtuosismo. Notem que ótimos arranjos e levadas, os pratos tocam na batida de seu coração, ou pelo menos ditam ela. Mikael arrisca riffs e notas sob a chancela de um violão de nylon. Viajem!

Famine começa estranha, uma flautinha aqui, uns tambores asiáticos acolá. O piano, jazz sueco, dúvida, Heritage, tudo retorna. Ouçamos Mikael acompanhar as notas com sua voz. Tomamos um rumo novamente, o grupo parece ter achado o caminho, eis que tudo desaba, e o King Crimson retorna. Muitas notas diminutas e demoníacas adentram o cenário. E nesta obsessão setentista, partem para o absurdo, fundir King Crimson com Jethro Tull. Dá certo e gera muita tensão no ar, quase arrancamos os braços da cadeira de tanto nervosismo, o coração bate mais lentamente...

The Lines In My Hand prova que o baixo também é muito foda, ditando todo o ritmo. As linhas nas mãos do hermano uruguaio Martín Méndez são o destaque, o resto são coadjuvantes. O violãozinho de Paco está no ar, mas o baixo é o baixo. Na parte final, a música fica mais Opeth velha guarda, mais porrada.

A intro de Folklore parece-me fruto de uma brincadeira descompromissada na guitarra, talvez um sacrilégio de minha parte. Na verdade, o álbum inteiro é uma brincadeira que foi longe demais. Você alguma vez imaginou músicos malvadões do gabarito do Opeth fabricando músicas como esta ou Nepenthe. Esta faixa é mais uma do hall das músicas silenciosas que já falei aqui no Blog, principalmente quando ouvimos um instrumento só e o silêncio que o acompanha nos contagia. Consigo elencar três momentos que se contrapõem, o silêncio, perseguido pela violência, e por fim, a progressão, dando um ar de elevação e evolução. E mais solos meticulosos de Åkerfeldt. Sim, é a música chave do disco!

E por fim, o encerramento dos trabalhos. Marrow Of The Earth é um momento intimista de Mikael, que multiplica sua criatividade nos arranjos, aliando guitarra e violão, alternando levadas e fraseados, riffs e muita intensidade. A banda prepara uma virada de mesa, dando a impressão de que teremos guerra, porém era mentira, sendo um simples acompanhamento até a saída. As notas finais poderiam se repetir eternamente...

Pois bem crianças, isto é Opeth, uma banda com sonoridade extremamente pesada, que sempre teve bom gosto em suas composições, aliando vocais limpos aos guturais e investindo no progressivo que já foi enterrado várias vezes. Para quem conhece bem a discografia da banda, todas as músicas deste disco poderiam estar em qualquer disco deles, só tiveram o trabalho de agrupá-las e aplicar certo "conceito", por isto não reclame e aproveite um clássico. E para quem está ouvindo a banda pela primeira vez, ouçam o restante do trabalho e aprenderão a gostar de pancadaria também.


Para quem gostou muito da sonoridade do disco, leiam a matéria do Whiplash com Mikael, na qual ele cita as referências usadas para compor. Descobri coisas muito interessantes. Link: http://whiplash.net/materias/curiosidades/149309-opeth.html

Por hoje é só!
Grande Abraço!

domingo, 26 de maio de 2013

Black Country Communion - Black Country Communion II

Bem vindos!

Queridões, este é o primeiro post de 2013! Por quê? Porque o país só começa depois do carnaval? Porque o dono do teclado estava de cama? Inoperante? Bom, a verdade é que não deu mesmo e é isso aí. Prometo escrever alguma coisa que preste. Onde paramos mesmo? A sim, aquela coisa que nos foi apresentada pelo Capeta, chamada Rock.



Nossa história de hoje começa com nossos amigos bretões, sempre, sempre eles. Ela começa em dois momentos diferentes um há mais ou menos 62 anos a trás e o próximo há 47 anos. Baixo com voz e bateria respectivamente. O primeiro entrou numa das mais consagradas bandas do Reino Unido com a incumbência de substituir dois caras. E como desempenhou bem tal papel. Substituir Gillan e Glover ao mesmo tempo é para poucos. “A, mas tinha o Coverdale, Leandro!”. E daí que tinha o Coverdale, quem berrava pra caralho era o Glenn Hughes e ponto final. O outro é fruto de bumbos com alumínio e vodka com suco de laranja. Ele não é o maior virtuoso do instrumento, porém tem muito feeling e é descendente da porrada em pessoa.  Jason, e não é o dos filmes, traz o ácido desoxirribonucléico de Bonham para a melodia.

Sacrilégio, você não vai falar dos inigualáveis Joe Bonamassa e Derek Sherinian? Não me sinto muito a vontade para dissertar sobre estes dois cidadãos. O primeiro deu um show de soberba e arrogância ao sair da banda e achar que é o próximo Rory Gallagher. A insatisfação dele com a banda para mim não é motivo para proibir os remanescentes de usar o nome. Coisa de menininho mimado dono da bola. O segundo quis que a platéia gaúcha achasse legal uma manifestação de patriotada em seu show com Yngwie Malmsteen, outro calhorda de marca maior. O público tupiniquim agiu com a mesma repulsa característica dos norte-americanos, e o babaca fala de terceiro mundo? Ainda bem que tem o terceiro mundo para alimentar a boca destes ingratos. Falemos de música.



A banda reapresentou ao mundo aquela fórmula mágica de guitarra, baixo, teclado, bateria e vocais rasgados. Sinto muita falta de músicos que façam isso de forma inovadora e consistente. Resgatamos este orgulho perdido nos três álbuns do Black Country Communion, e neste post falo sobre o meu preferido, o segundo (óbvio). Prossigamos.

Certo, não vou ficar detonando os rapazes supracitados, tecerei elogios, prometo. The Outsider vai para eles. Derek e Joe casam bem os instrumentos, remetendo-nos a Ritchie e Jon, ótimo sinal. O riff de guitarra cumpre o prometido na letra: “Kill the Reaper”, ou, matar o ceifador, trocando em miúdos, matar a morte. É um belo começo, com muita energia, revivendo a força “púrpura” perdida de outrora. Joe traz o peso da tonalidade da “Gibson” para um clássico genuinamente de “Fender”, mais precisamente colocou o Jimmy Page para tocar um petardo de Deep Purple. Acho que essa é a melhor definição para o Black Country Communion, Deep Zepplin e Led Purple.

E Man In The Middle é mais uma demonstração disso, sinta o peso das baquetas da Famiglia Bonham. Glen Hughes parou com as drogas (pelo menos assim espero) e deve estar viciado em Yoga para conseguir cantar deste jeito com mais de 60 anos. Estamos na segunda música e Bonamassa já provou que tem muita criatividade, fazendo riffs e solos novos, coisa nova e música nova. É muito bom saber que ainda existem guitarristas que glorificam a herança blueseira, em detrimento aos estudiosos da velocidade, afinal, a base de tudo isso que gostamos está lá. Balance sua cabeça.



Já ouviu Ramble On, né? Já ouviu Going to California? Já ouviu Led, né, meu filho? Pois bem, óia eles aqui em The Battle For Hadrian’s Wall. Os acordes do discípulo são referências exatas às músicas supracitadas, falando o vernáculo do Led. E o que achar do bandolim, à la John Paul Jones? Os vocais são mais suaves, desferidos por Bonamassa, que prova ser um músico completo, calando a boca do que vos fala, porém creio saber separar o profissional da pessoa, nesse ponto não há o que falar. A facilidade com o qual a banda transforma momentos suaves em pancadaria me empolga bastante. Ouça os detalhes e note um clássico sendo construído.       

Agora um pouco de “Come Taste the Band”, ou, “You Keep On Moving”. Save Me relembra este passado perdido, quando o Purple experimentou outro guitarrista e deu relativamente certo. A virada instrumental lembra outro clássico, Gates Of Babylon. Como é bom sentir a ferocidade da escala menor harmônica novamente, fora do contexto heavy metal da atualidade. Como é bom saber que Ritchie e Jon ainda vivem na música. Ao final a psicodelia do grupo aparece um pouquinho e bends longos de Bonamassa perfuram nossa alma. Aleluia, aleluia.

Mais uma com clima altamente rock ‘n roll, quebrando um pouco a introspecção de Save Me. Smokestack Woman, não tem muitos segredos a serem desvendados, é a junção de força e riffs na sua essência, com o encaixe de um solo estilo “Summer Song” do xará Satriani. Um pouco dos gritos de Glenn caiem bem também.

Faithless oscila e disfarça. Começa deveras calma, dá uma má impressão. Uma escala que sobe escadas e depois desce de novo. O refrão é mais forte e intenso, porém, mesmo assim permanece calmo. O solo é rápido, tem um pouquinho de Stargazer, um pouco de Mistreated também, ou seja, quase uma sopa de letrinhas, mas com muita personalidade, não parecendo ser um cover de algo. Ao final, mais um sonoro John Paul Jones, agora nos teclados.

E novamente Bonamassa destaca-se no que faz de melhor, voz e cordas, por isto o critiquei no começo do post, ele detinha muita autonomia na banda, poderia ter aproveitado mais, enfim. Ordinary Son é outra que oscila de característica. Forma uma relação muito intimista entre guitarra e voz blueseira de Joe. As viradas cortam toda esta harmonia, culminando nos alegóricos gritos de Glenn. Vimos então uma perfeita parceria vocal, lembrando-nos de Hughes e Coverdale, guardadas as devidas proporções. O solo é cheio de Clapton a Gallagher. Queria que este filho ordinário não tivesse fim.

I Can See Your Spirit veio do mesmo embrião de The Outsider e Man In The Middle. Praticamente uma bastarda, uma filha com muitas mães. Possui tudo aquilo que já saboreamos bastante aqui no blog, riff pesadão, voz rasgada de Hughes e solo feroz e eficiente. E de tira gosto ainda rola um belo solo lordiano de teclado.

E agora um pouco de Since I’ve Been Loving You. Hein? É isso mesmo, Little Secret é formada primordialmente da fórmula matemática, blues lento + tom menor = sofrimento, que deu muito certo com o Led. Claro, como disse anteriormente, esta não é mais um cover e possui muita personalidade, porém os elementos estão lá, música que cresce, tem peso na guitarra, é coberta por um teclado que enche a melodia e a voz é sôfrega. A referência a Rory Gallagher continua, escute A Million Miles Away dele e chegue à suas conclusões.

Crossfire relembra um pouco da carreira solo de Glenn Hughes, principalmente o disco Soul Mover com Chad Smith do Red Hot Chilli Peppers na bateria. É a música com mais daquele swing que sempre marcou a carreira dele. Baixo e voz fazem este Mojo musical.

E por fim, na minha singela opinião, a melhor música do disco. Para quem possui o DVD Live In Europe sabe que Glenn dedica Cold a todos os amigos que já se foram. Não sei por qual motivo, mas ela sempre me causou uma tristeza funérea, depois que ouvi o DVD descobri o porquê. Escute a punhalada fria e certeira que este slide de Bonamassa crava em nossos corações. A voz aguda gela ainda mais esta ponta de lança. Por volta dos três minutos um riff mais ardiloso tenta aquecer nossos corpos, mas já é demasiado tarde.

Em especial gostaria de destacar o ótimo trabalho desenvolvido por Jason, ele realmente introjetou a estilística pesada de seu progenitor e incorporou-a na sonoridade da banda, empregando muita força em todas as músicas. Outro ponto forte da banda era a parceria Hughes Bonamassa, suas vozes e instrumentos completavam-se em nível quase espiritual. Pena os egos inflamados ainda permanecerem neste meio. Agora é aguardar mais notícias sobre o destino dos remanescentes e que venha algum guitarrista a altura. Sou pessimista e acho difícil haver continuidade que mantenha o nível apresentado até aqui.

Desculpem o hiato, quero voltar a escrever.

Grande Abraço.