domingo, 8 de julho de 2012

Frank Zappa - Roxy & Elsewhere


Bem vindos!

Desde que iniciei os trabalhos deste blog, quero fazer um post sobre o cidadão, porém é uma tarefa extremamente difícil destrinchá-lo. Sobre qual álbum falar? A discografia é muito extensa, composta de oitenta, (isso mesmo OITENTA, algumas bandas fizeram sucesso com cinco discos e olhe lá) completamente diversificada. E como falar sobre técnica e composição? Este artista desfruta de um portfólio musical impressionante, quase inclassificável. Resolvi arriscar-me, mesmo assim.



Frank Vicent Zappa é o nome deste ítalo-americano carcamano, que possuía ascendência francesa, grega e libanesa também. Por ser um mestiço de várias culturas, em um país que desaprova tal miscigenação, sua música e arte tem um caráter questionador e transcendental. As influências vão de Stravinsky, R&B e jazz, muito jazz, apesar de ter dito uma vez que o jazz não estava morto, só cheirava estranho. Dentro de meu conhecimento musical, noto que Frank criou um estilo somente dele, sem precedentes históricos, podendo se enquadrar assim aos grandes nomes da música internacional, como Bach, Beethoven etc. E o melhor, criou grandes obras de arte sem a interferência das manobras toxicológicas comuns da época, era genial por si só. 

E agora, sobre qual disco falar? A discografia tem oitenta discos! Resolvi falar sobre os três que considero meus favoritos. Roxy & Elsewhere, Uncle Meat e por fim o mais famoso de sua carreira Apostrophe. Começarei pelo primeiro (não me diga?!). 



Trata-se de um registro ao vivo, duplo e gravado em Hollywood, Califórnia, com talvez o melhor plantel de músicos que Zappa já teve, mesmo não contando com os geniais Jean Luc-Ponty e Ian Underwood. Destaques para George Duke, o dono dos teclados e vocais soul inconfundíveis e Ruth Underwood, esposa do supracitado Ian, representando o xilofone, instrumento que alia percussão e melodia. Zappa é hors concours e sempre será o destaque por trás de tudo e de todos. Mas por que decidi começar com este? Além do que já citei acima, acredito ser está a fase de maior maturidade musical do artista, além de ser a mais criativa, contando com algumas releituras fantásticas de suas próprias músicas. Vamos ao disco.

Penguin In Bondage começa com o prolixo Zappa introduzindo uma canção de letra totalmente sem sentido, como sempre, ou para os puristas, um pingüim na servidão. Hein?! A melodia é simplória para os padrões do disco e do músico, no entanto é um ótimo blues/funk. Conta com um divertido solo de guitarra do mestre, meio sujo e cheio de efeito. Prestem atenção em duas coisas, os sons esquisitos que permeiam a música, geralmente pautados pelos naipes de metal, e a letra que não fala nada com nada, em mais uma clara atitude provocadora de Frank, que não era muito adepto das letras, colocando-as de forma anárquica, na maioria de suas composições.

Pygmy Twylyte tem o mesmo clima da anterior, letras doidas, notas simples, só que com menos blues e mais peso nas guitarras. A banda trabalha duro, se acompanha por toda parte, com leves inserções de cada instrumento, em momentos espaçados. Isto é uma das marcas registradas de Zappa também, o respeito coletivo e individual de cada instrumento. Tudo é friamente calculado com precisão cirúrgica. E isto em apenas dois minutos de música, o que mais vem por ai?



Dummy Up está mais focada nas performances teatrais dos shows de Frank à época. A crítica é extremamente ácida ao ensino de uma forma geral, principalmente sobre o ensino superior, que na visão do autor, está preenchido de nada, fazendo até uma alusão as drogas, que são largamente consumidas neste período da vida. Em uma de suas frases célebres, ele diz não suportar o fato das pessoas usarem as drogas como aval para agirem como idiotas. Lendo sobre a vida e filosofia de Zappa, você provavelmente entenderá melhor está música.

Um pouco da história de Frank em forma de música: Village Of The Sun. Outra melodia mais simplificada, com muitos momentos jazzísticos, principalmente nas viradas de teclado. O clima soul nunca sai dela, notamos isto na voz de Napoleon Murphy Brock e na tonalidade do teclado de George Duke. Podemos sentir a brisa na cara, da cidade, apesar da letra dizer o contrário. Aos dois minutos temos uma ótima virada, dando êxtase à sonoridade, destaque para o cow bell (ou sino de pescoço de vaca) que aumenta o clima interiorano. Ao final uma conexão perfeita a próxima.

Echidna's Arf (Of You) é a tipificada. Notamos o estilo que Frank queria explorar nesta fase de sua carreira. É impossível ouvir e não achar que é dele. Os ligados, as notas fora de contexto, as mudanças de andamento, as diminutas, semi-diminutas e o próprio rock and roll em si. Aos três minutos e cinco segundos, achamos que vai acabar. Ai, fomos surpreendidos novamente, fica mais complexo ainda, dando-nos a impressão de que não acabará nesta vida, toda a banda se acompanha.

Don’t You Ever Wash That Thing? é a mais jazz de todas, causando inveja até em Miles Davis, John Coltrane e Cia. Cada parada diz alguma coisa, que não conseguimos entender. Primeiro destaque: Walt Fowler, com um ótimo solo de trompete, mostrando que Zappa propiciava o improviso em suas músicas, e que magnífico exemplo. Segundo destaque: George Duke um dos maiores talentos que já tocou com Frank, fazendo um solo de teclado a parte das críticas, magistral, imponente e mais tudo o que você achar, vários estilos musicais são identificáveis. Terceiro destaque, mais um solo, agora de baterias, já que a banda possuía dois, sinceramente acho que é um dos poucos solos de bateria que possui contexto e não é chato. Zappa destila algumas notinhas, mas ainda não chegou a hora dele.

Cheepnis faz uma “homenagem” aos filmes de terror de baixo orçamento, hoje em dia considerados Cult. Falando de melodia, não há muito que dizer, é rápida e meio barulhenta até. A tosquice denunciada permeia a melodia, todavia nota-se a complexidade de praxe em alguns instrumentos, como baixo e teclado. A meu ver, a música mais engraçada do disco, principalmente quando se ouve algo parecido a música japonesa. Não sei por que, mas sempre me lembro das películas de Quentin Tarantino quando escuto esta faixa.

O blues Zappaniano retorna, cheio de funk e ritmo em Son Of Orange County. Assim como em Penguin In Bondage, a melodia é simplista, utilizando-se de riffs até clichê para um artista desta criatividade, porém tudo feito pelo “mestre” é pensado e repensado sempre. Creio que esta faixa apenas serve como uma passagem para o que vem depois, já que conta com um inconfundível solo de guitarra. Provavelmente a música mais “californiana” de Zappa. Muito boa de ouvir, relaxante até.

More Trouble Every Day é a releitura do clássico do álbum “Freak Out!”. A faixa original é mais folk, meio blues caipira. A letra fala sobre as revoltas nos bairros negros do sul dos Estados Unidos, uma das mais sérias de Frank. Neste show a música vem vestida diferente, em um vestido rosa de bolinhas amarelas, bem largo. E agora sim a guitarra de Zappa é o grande destaque. Este solo me fez admiti-lo como um de meus guitarristas preferidos, provando que não era somente um grande compositor, mas também um músico exímio. Logo no começo sentimos a ferocidade das notas lançadas por sua Gibson SG.  

E finalmente, Be-Bop Tango (Of The Old Jazzmen’s Church). A meu ver, a música mais complexa que Zappa criou, a prova disso são os pedidos de calma que ele faz a toda banda antes de iniciá-la. O andamento feito nesta versão, não nos faz notar que se trata de um tango. Começa absurda, caótica, surrealista, com xilofone e trompete enlaçando-se. As notas, os músicos, os instrumentos, nada conversa e faz sentido. Espere! Preste atenção, tudo faz sentido sim, o que não faz sentido são seus conceitos sobre música em geral. Às vezes me pergunto como Frank colocava todas estas notas malucas em uma partitura, e mais, como conseguia dar papéis diferentes para cada instrumento e os fazer conversar? Aos três minutos, após a desordem, escuta-se o trompete solo, acompanhado apenas pelo baixo, oscilando pelo jazz de outrora, variando dentro de temas anacrônicos. E por fim cessa. Zappa faz uma inserção interessante, propõem aos membros da platéia dançar sobre os temas cantados e tocados por George Duke. Frank tira altos sarros da platéia, causa furor entre as mulheres e diverte. Para finalizar um ótimo blues capitaneado por Duke e seus teclados do inferno, com mais um solo abafado de Zappa. Toda a banda é apresentada e fim!

Que show! Meus parabéns aos privilegiados que puderam acompanhar os três dias de gravação deste petardo musical. Pena ter nascido nessa época de atrofia musical. Zappa foi a prova viva de que o Rock n Roll é mais do que só guitarras, pode possuir milhares de instrumentos atuando em conjunto e ainda por cima se auxiliar da tecnologia para explorar sonoridades ainda desconhecidas.

Vida longa ao mestre!

Por hoje é só!
Grande abraço.

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