sábado, 14 de julho de 2012

Frank Zappa - Uncle Meat


Bem vindos, autônomos do saber!

 Dissertemos mais sobre o inconfundível Frank Zappa.

Ao final dos anos sessenta, Zappa já havia emplacado grandes obras musicais. Este foi o período do The Mothers Of Invention, um dos mais “cricas” de sua carreira. As letras eram ácidas, corrosivas, e as performances ao vivo, teatrais. Histórias deste período não faltam. Foi também a época em que começou a misturar trechos de músicas ao vivo, com faixas de estúdio. Para quem tem uma noção mínima de música, sabe que o cara tinha que ser um metrônomo humano para desempenhar tal façanha.


Devo adverti-lo que este disco foge completamente de tudo o que você provavelmente já ouviu anteriormente. As músicas são todas relativamente curtas, tendo apenas algumas de maior duração. Inserções cinematográficas funcionam como gôndolas, discriminando faixa a faixa. Para o bem de todos, não escreverei sobre elas, já que são difíceis de compreender, mas quando for escutar o disco, tente ouvi-las. Suzy Creamchesse estará lá te esperando.


Uncle Meat: Main Title Theme marca o começo do experimentalismo mais profundo de Zappa, apostando na percussão. Notem, são notas batidas no xilofone, e acompanhadas pela bateria, e por um teclado estilo cravo. Depois temos barulheira e Suzy Creamcheese, personagem “principal” do disco.

Nine Types Of Indrustrial Pollution aprofunda mais o experimentalismo pregresso, retirando todos os instrumentos, colocando uma infinidade de instrumentos de percussão e adicionando uma pitada de guitarra limpa, estéril, estilizada e rápida. Frank mostra que sabe ser músico e sabe ser maestro inconscientemente. Zolar Czakl acompanha a pregressa e mostra uma nova cara para o tema apresentado na primeira faixa do disco. Os ouvidos mais aguçados notarão que Uncle Meat: Main Title Theme aparecerá vestida diferente muitas vezes.

Dog Breath, In The Year Of The Plague é uma das mais interessantes, principalmente pela diversificação. Tem folk, ópera, jazz, arritmia cardíaca, frenesi, vocais fazendo papel de instrumentos, ou seja, tudo! No minuto final temos dramaticidade.



The Legend Of The Golden Arches (os títulos são todos grandes assim mesmo) flerta com a proposta de Nine Types Of Indrustrial Pollution, percussão e notas malucas, só que agora no naipe de metais. E no minuto final, mais dramaticidade. Suzy Creamcheese aparece mais uma vez, meio que anunciando Louie Louie (At The Royal Albert Hall In London). Está é a demonstração da capacidade de síntese de Frank, que junta trechos ao vivo, com trechos de estúdio, e nos faz engolir tudo isto. Sem dar tempo de respirar começa The Dog Breath Variations e Sleeping In A Jar. A primeira apresenta mais variações dos temas anteriores, executados por xilofone, violão e clarinete. A segunda se parece mais com as faixas feitas nos álbuns anteriores do Mothers Of Invention. Música e letra “non-sense”. Mais e mais Suzy Creamcheese.

Para que tanta segregação instrumental Frank? The Uncle Meat Variations repete os temas novamente, e de novo separa instrumento, parece querer ouvi-los de forma única, não quer orquestrar. Formigas cantando ópera? O que você fumou para fazer este disco, hein, Frank? E depois, Electric Aunt Jemima, que é engraçada de tão absurda.

Prelude To King Kong é o prelúdio ao que há de mais magnífico em termos musicais. Aguardem e confiram. God Bless America (Live At The Whisky A Go Go) e A Pound For A Brown On The Bus são a prova do orgulho nacionalista de Frank. Para quem conhece o figura, sabe que isto não é um elogio.

Ian Underwood Whips It Out (Live On Stage In Copenhagen) mostra a liberdade artística que Frank propiciava a seus músicos. Ian Underwood se apresenta em ambos os sentidos, primeiro nominalmente e depois formalmente. Frank diz: “Arrebenta!” e Ian não falha na missão. Nós ficamos sem fôlego por ele.

Mr. Green Genes finalmente é uma música completa, não tem remendos e junções. Os saxofones são o ponto alto, principalmente o tenor. A melodia é arrastada lá no chão, não tem forças para se levantar. Os momentos de pausa no vocal são pautados pelo enérgico xilofone. Frank mostra ter encontrado o uso perfeito para o instrumento, talvez por isto ele seja utilizado em todo o disco. E começa com ele em We Can Shoot You, mais uma faixa com momentos de intimidade e autoflagelação dos instrumentos.

The Air é a mais engraçada e bem humorada. A letra é cantada tão devagar, que até para os péssimos na interpretação do idioma bretão, como eu, conseguem entender alguma coisa. É uma ótima sátira ao rock brega dos EUA.

Project X começa com uma ótima levada apaixonada de violão, o clarinete de Ian Underwood dá emoção à faixa. Mais xilofone e instrumentos de sopro. O violão volta sozinho... a percussão nos assusta. A música termina e começa de novo, com a marca registrada do disco: arritmia, descompasso, notas fora de escala, tríades com cromáticos etc. Cruising For Burgers é a mesma coisa, no entanto é apoteótica, e Frank usa a segregação dos instrumentos de uma forma mais atraente aos ouvidos mais incautos.

Lembram-se do prelúdio que falei acima? Pois bem, olhe ele aí! King Kong Itself, I, II, III, IV, V e VI é a manifestação do gênio em forma de notas pretas. Esta música vale o disco. Temos dois destaques, os instrumentos de sopro e bateria. O riff feito por eles te faz prender a respiração e torcer para que ele não pare nunca mais. É jazz, senhoras e senhores, como diria Frank, de um jeito peculiar. Cada parte de King Kong conta com um solo distinto, sendo o da quinta parte o mais diferenciado e lúdico, por não ter uma condução lógica e contar com um ótimo efeito, que o deixa rasgado. A guitarra de Frank serve como um coringa, tem groove, malícia e contorna os solos com um lápis preto, de ponta bem grossa. Não é possível ouvi-la direito, no entanto tem papel fundamental. A parte VI é a prova material deste sonho lúdico proposto por Zappa. E para concluir, mais loucura instrumental.

Aqui está a faceta sessentista mais interessante de Zappa, nem o ótimo debut Freak Out! vence este disco.

Finito!
Grande abraço!

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