domingo, 22 de julho de 2012

Frank Zappa - Apostrophe (')


Bem vindos!

E por fim, Apostrophe (‘)!



1974, Zappa já experimentara muitas coisas musicalmente, satirizou o movimento hippie em “Freak Out!”, exauriu os músicos em “Uncle Meat”, flertou com o comercial em “Hot Rats”, reinventou o jazz em “Grand Wazoo” e “Waka-Jawaka”, e, finalmente fez os seus mais aclamados pela crítica: “Over-nite Sensation” e “Apostrophe (‘)”.



Os estilos dos dois últimos são idênticos, todavia, “Apostrophe (‘)” é meu favorito depois de “Roxy & Elsewhere”. Frank abandona de vez The Mothers e vira “ele mesmo”.  As letras são as mais duras e loucas que já vi na música, além de um censo de humor anacrônico, pronto para ferir qualquer moral cristã. É uma ótima aula de como se fazer sátira. Alguns humoristas da atualidade poderiam aprender com ele.



O vento norte, proveniente da Tundra zappística, sopra. Don´t Eat The Yellow Snow é o começo de um discurso imortal, “Cuidado por onde os huskies passam/E não vá comer aquela neve amarela”. O tema é simples, quatro notas diferentes que vão e voltam muitas vozes são escutadas ao fundo. Frank insere notas cantadas, como no jazz, “Bop-bop ta-da-da bop-bop Ta-da-da”. Ok, não entendemos nada!

Nanook Rubs It continua a Transiberiana, se assim podemos chamá-la. A partir deste momento identificamos a tentativa de Frank em montar uma ópera rock, ao estilo dos álbuns feitos na época, narrando uma luta com um caçador de peles de bebês foca. Esta é mais uma das típicas músicas R&B de Frank, muito suingue em sua voz, ritmo nos teclados de George Duke e a introdução dos vocais das Ikettes, famoso trio de vozes de Ike & Tina. Aos três minutos, uma ótima virada, com os famosos instrumentos de sopro da banda.




St. Alfonzo’s Pancake Breakfast continua a toada de álbum conceito, porém ao estilo Zappa, não há muito sentido, nem é para ter. Ruth Underwood finalmente aparece com seu xilofone, e começa bem. Na metade da faixa, o momento mais Zappa até o momento, xilfone e teclado se abraçam, ritmados pela bateria de Ralph Humphrey. Father O’Blivion é a continuação rápida da última. Aqui se nota a crítica aberta e hermética à Igreja católica, o que Frank fez a vida inteira, misturando sexo e cultura celta, que miscelânea. Os riffs de guitarra são limpos e rápidos e a bateria muito forte. E o R&B continua...

O disco conceito termina em Cosmik Debris que é a mais engraçada. Minha imaginação vê Zappa vestido de guru charlatão indiano, em uma clara sátira a estes. A melodia é um blues puro e seco, sem firulas, com um ótimo solo de guitarra. Destaque para as Ikettes e Tina Turner, que dividem os vocais com Frank. Aliás, somente um músico do gabarito dele, para envolver vocalistas desta magnitude em seus projetos.

Excentrifugal Forz prova que estamos diante de um disco novo, ou pelo menos diferente. Serve apenas como ritual de passagem para a próxima. A introdução é magnífica, escutamos a guitarra-violão acompanhada de um violino baixinho. E muitos solos errados de guitarra. A voz de Zappa morre abruptamente.

Apostrophe é um pouco diferente da essência de Zappa. Parece uma Jam Session natural dos anos 70, quando os músicos tinham o hábito de se encontrar após os shows, para barbarizar seus instrumentos, em pequenos bares. Os solos cheios de graves de Zappa e Jack Bruce (isso mesmo, o grande baixista do Cream) formam um caldo de cana americano escocês.

Uncle Remus escrita em parceria com George Duke é mais uma crítica aos americanos abastados de Beverly Hills, usando como referência as histórias de temática social do Tio Remus (busquem conhecimento). Duke faz ótimos acordes no piano, que se interpelam as letras. Frank prova como estava em constante contato com as tonalidades da música negra dos Estados Unidos, tanto nos vocais das já supracitadas Ikettes e Tina Turner, como nos solos de guitarra, meio tortos, é verdade, mas com muito efeito.

Stink-Foot é faixa mais interessante do disco, primeiro por tratar-se de um blues com ritmo à moda antiga, com uma letra hilária e escatológica, em que Zappa descreve um pé fedorento e um diálogo existencial com seu cachorro. É a prova cabal da prolixidade do autor durante todo o disco, embebida pelos marcantes ritmos afro-americanos.

Paradoxalmente a todos seus trabalhos pregressos, notamos a força da guitarra em todas as músicas, que sola na penta blues na maioria dos casos. Os instrumentos que não pertencem essencialmente ao Rock, como o xilofone e naipe de metais, aparecem somente em momentos muito pontuais, dando certa normalidade a toda obra, o que mostra uma autocrítica musical de Frank, transferindo o falatório usual de seus instrumentos, para as longas e ininteligíveis letras. Por fim, notamos sua genialidade, quando apaziguou a virtuose de “Grand Wazoo” e a transformou em crítica, provando que para entender Zappa, só conhecer música não é o suficiente, é necessário descobrir a arte em todos os sentidos.  

Encerramos Zappa!
Grande abraço!

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