Bem vindos!
Caros amigos, não sei se é de
conhecimento popular, mas dia 16 de julho a música perdeu um de seus maiores
representantes. Jon Lord, o poeta lírico dos teclados, perdeu a batalha contra
o câncer no pâncreas, maldita doença que nos tirou Ronnie James Dio em 2010. A
proposta agora é falar do disco que me apresentou Jon Lord, e que para mim é o
que ele está mais atuante e versátil. Tenho certo apresso por este registro,
pois foi a primeira coisa que ouvi da banda, sem contar smoke on the water.
The Book of Taliesyn é o segundo
álbum da banda, não tem Ian Gillan, nem Roger Glover, mas tem o mago (não o do
palmeiras) Blackmore e o geminiano Jon Lord. Duas feras, nervosas, duas forças
abscissas e mortais. Blackmore não usava sua tradicional fender stratocaster,
por tanto, seus solos são jazz, mesmo assim pesados para os padrões. Jon Lord,
bom, como sempre, dispensa comentários. Vejamos!
Listen,
Learn, Read On é simplória, parece um prólogo, convidando-o ao
deleite do experimentalismo dos jovens britânicos. Estranhamente Nick Simper, o
dono do baixo, faz linhas muito interessantes enquanto Rod Evans cantarola
versos. Blackmore faz um solo barulhento.
Wring
That Neck é a mais purple, tocada muitos anos depois ainda pela
banda. É jazz, blues e a coisa toda. O riff inicial dobrado por Lord e
Blackmore é divino, coisa de gênio. O tecladista inicia o virtuosismo,
inspirado nas viagens do jazzista Jimmy Smith, solando na penta blues em dois
tons. Blackmore entorta a guitarra, tira as notas do lugar, vejo até os trastes
andando no braço da guitarra, principalmente na parte final, em que toca
espaçado, todas fora de escala. Procurem as versões de trinta minutos desta
música, tocadas no festival de Mountreaux e divirtam-se.
Kentucky
Woman é um cover de Neil Diamond, mais uma estilo blues. Nunca ouvi
a versão original, e nem quero ouvir. Bem anos sessenta. Duas linhas de teclado
dão este ar. O solo de guitarra de Blackmore novamente mostra o quão ele era
diferenciado, inserindo elementos novos e fugindo do lugar comum dos guitarristas
blues rock da época. Aos dois minutos e dezesseis, escute com atenção. Dá para
não gostar de Jon Lord? O cara mistura as escalas menores harmônica da música
clássica com rock e blues e faz tudo em tom sublime. Pela primeira vez ouvimos
o que será o estilo lordiano daqui para frente. E continua...
Exposition
/ We Can Work It Out é a próxima demonstração de música clássica da
duplinha infernal. E mais Beethoven e acepipes. Tudo regado aos tambores de
2001: Uma Odisséia no Espaço de Ian Paice. O começo lembra tangos e tragédias.
De novo Jon Lord, sempre ele! E mais um cover, agora dos Beatles. Também
prefiro a versão do Purple, mas não me matem. Acho que a banda deu raiva a ela,
principalmente pelos solos de Blackmore e Lord. Veja como este bate no
teclado perto do fim da música.
The
Shield é a deslocada. Jon Lord utiliza-se de três linhas de teclado,
apostando mais no piano limpo. Outra música em que é o destaque. Há certo tom
de tristeza em suas linhas melódicas, não vemos raiva. Blackmore dobra suas
linhas de guitarra, recurso muito utilizado posteriormente. Aos dois minutos e
meio, reparem o que Lord faz, bate em seu hammond de um jeito que lembra bongôs
e percussão. O solo de Blackmore está na lista dos meus preferidos, é a
primeira vez que utiliza a alavanca. O final é ritualístico. Que bela música.
Deep Purple já era fantástico em 1968, sem Gillan e Glover.
Os primeiros acordes de Anthem parecem linhas de aula via k7. Mesmo
assim, acho a escolha deles muito interessante, mesmo sendo relativamente
simples. Rod Evans canta de um jeito que nos remete ao Elvis. A parte
interessante acontece na metade, quando Lord e Blackmore põem todo seu lado
orquestral para fora, abusam de Bach, Beethoven e agregados e ainda por cima
colocam violinos. Isto estava em suas almas e provavelmente morreu junto à de
Jon Lord. Repito, Deep Purple foi a única banda que colocou música clássica no
Rock sem ser chato. Escutem esta canção novamente e comprovem!
2001: Uma Odisséia no Espaço de
novo! Talvez tanta referência, deve-se ao fato do filme ser do mesmo ano do
disco. River Deep – Mountain High é
mais um momento lordiano. Cheio de soberba. Foge ao estilo Deep Purple de fazer
música, porém mostra uma banda cheia de criatividade e personalidade, ao
misturar o tema de um filme com um clássico que ficou famoso com Ike & Tina.
Eles estavam muito crus ainda,
admito, todavia, fascina-me a presença vibrante e diferenciada de Lord em todas
as faixas, fazendo coisas incomuns. Não é à toa, que Rick Wakeman, o segundo
melhor tecladista de rock da história em minha opinião, segredou em recente
entrevista sua grande admiração por ele.
E aqui fica minha homenagem ao
mestre do Purple e do Rock mundial! Descanse em paz, Jon Lord.
Grande Abraço!
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