domingo, 18 de novembro de 2012

Jeff Buckley - Grace


Bem vindos!

Após um breve silêncio de minha parte, por estar me dedicando ao culto do cinema um pouco, retorno para falar de um artista que me fez crer que a melancolia existe na forma de vinte e duas casas de metal. Sua música me foi apresentada em um momento crítico de meus estudos musicais. Ainda estava no ensino médio e começava a me familiarizar com o finado movimento grunge, ou seja, um momento de transição e amadurecimento musical. Um dia, conversando com um professor de guitarra, despretensiosamente, fui informado que o artista em questão fazia acordes estranhos e possuía uma voz incrível. Espantou-me descobrir futuramente que ele influenciou grandes nomes da atualidade, como Coldplay e Radiohead.



Jeffrey Scott Buckley é mais um do litoral pacífico dos EUA, praticamente vizinho de Zappa e sua Sun Village. Não foi um dos filiados do clube dos 27, errou por três anos, com uma morte no mínimo besta e muito triste. Praticamente seguiu os passos de seu pai, em todos os sentidos. Era muito parecido de fisionomia, possuía uma voz belíssima, morreu jovem, e, em vida, não galgou um sucesso astronômico. Com muita sensibilidade, Jeff trouxe novamente um sentido relevante ao timbre da Fender Telecaster. Oficialmente só temos um registro legítimo de sua genialidade e transcendência musical em forma de disco, no qual abordaremos hoje. Sketches For my Sweetheart the Drunk é o segundo disco, mas que só foi lançado postumamente, pois o próprio músico o rechaçou. Prossigamos!

Mojo Pin é o típico início misterioso para um disco. A voz é bem aguda e sua tonalidade é feminina. Jeff prova desde o começo de Grace seu total domínio da guitarra, tanto nos dedilhados límpidos e suaves em sua Fender, como na implosão distorcida dos acordes no refrão, que deixam feridas profundas e sangrentas em nossas almas. Jeff camuflava seus acordes depressivos e amargurados com singelas letras de amor, talvez por não existirem vocábulos certos para traduzir suas dores que chafurdavam em depressão. Mais fácil falar de amor mesmo, já que ele explana a maioria das mazelas humanas.


Grace apresenta-nos mais acordes diferentes e abusa deste recurso. Essa é aquela música que você vai aumentando o volume conforme ela vai passando. Os vocais beiram ao lírico, acompanhando as letras que falam sobre a tristeza suicida que tratei acima. Nos momentos que não há letra, Jeff complementa com melodia alegre, quase como uma injeção de morfina direta na veia. Ainda resta tempo para inserir complementos psicodélicos, uma microfonia aqui, um violino acolá, além de um violão que toca bem ao fundo e dá muito ritmo à música. Mais um dos hinos da geração dos anos 90, adulta, dopada e inoperante, que esperava o seu fim, porém esta fadada a velhice.

No voto ao romantismo vem Last Goodbye. Agora os acordes trazem menos melancolia e mais encantamento, já que Jeff quer o último abraço e beijo de algo que nunca dará certo. O recurso do slide lembra até as passagens de Jimmy Page utilizando o arco de violino em sua Les Paul. Em todo o disco você notará um toque do dirigível de chumbo, aqui fica a cargo dos acordes fora de contexto que fazem a ponte com violinos.

De James Shelton e interpretada por vários artistas, até pela Miley Cirus (recursos de estúdio não faltaram), Lilac Wine foi feita para vozes femininas, impressionantemente a de Jeff é a melhor de todas. A limpeza de hospital do timbre da Fender em conexão com o tom quase soprano do músico é tudo o que esta música precisa, mais nada. O vinho lilás está envelhecendo há anos, seu teor alcoólico vai diretamente para a cabeça e coração.



So Real é mais uma das canções parecidas com Mojo Pin, traveste o teor arsênico de suas melodias com reflexões amorosas. Jeff chega a ser irritantemente perfeito na mescla de acordes diminutos com acordes menores e maiores, o que deixa sua música cheia de altos e baixos, interpolada por uma tensão constante, que não nos deixa nunca. Os gritos estridentes passam direto pelos tímpanos e fluem direto em nosso sistema linfático, carregando todas nossas dores de volta para dentro. Aos ouvidos mais atentos o dirigível de chumbo aparece em alguns momentos novamente.

Com um profundo suspiro, começam os próximos minutos mais atormentados de nossas vidas e talvez a canção que mais tornou Jeff famoso: Hallelujah. O pai da criança é Leonard Cohen, o famoso poeta e músico canadense, porém, passou ótimas férias na casa de Buckley e nunca mais voltou para casa. Tudo o que aconteceu em Lilac Wine é feito novamente, respeitando toda a orientação dada nos versos iniciais da música: “Mas você não liga muito para música, não é?/E assim vai a quarta, a quinta,/O acorde menor cai, e o acorde maior sobe,”. A letra casa muito com toda a filosofia musical do guitarrista, e em alguns minutos parece ter sido escrita por ele. Escute-a de portas fechadas e sem interferências. Ainda bem que músicas assim existem, Aleluia!

Lover, You Should've Come Over, continua com a proposta de Last Goodbye, trazendo acordes e melodias mais doces, pautada pelas tensas diminutas. Em alguns momentos a letra parece bobinha, melosa e cafona, porém, como já repeti várias vezes aqui no blog, acho que tudo tem que ser analisado no contexto que está inserido. Jeff rompe o contrato, unilateralmente, com a depressão cáustica dele, e para isto, utiliza de alguns métodos famosos, como acordes no Hammond, leves toques na bateria, coral gospel e muita blue note. Não pule no player, você aprende a gostar dela.

Corpus Christi Carol está no grupo de Hallelujah e Lilac Wine, todavia tem componentes de música clássica e finalmente Jeff assume o tom soprano de vez. Muito pouco foi alterado da versão original. Nunca achei uma música tão “silenciosa” como esta, se assim posso dizer.

Finalmente Jeff mostra o quão letal ele pode ser, recuperou suas forças e fez Eternal Life. Tanto melodia como letra agridem nossa opinião e moral cristã, afrontando nossos conceitos de “vida eterna” e expondo um pouco do conceito de correspondência, ou lei da causa e efeito. Falando tecnicamente, acredito que esta é a tradução de uma música de Rock, tem peso, força e faz você refletir sobre sua enfadonha e medíocre vida. Os riffs de guitarra expõem um lado paradoxal do artista, que gosta de apostar em acordes diferentes que se encaixam. Coloque ai na lista das músicas “joelhada no rim”.

E, por fim, talvez a mais importante de todas, Dream Brother. Aprecio, e muito, músicas finais que fazem a síntese do disco. Tudo o que vimos anteriormente aparece aqui. Acordes ficcionais (ou seja, na prática eles não existem), grandes interpretações vocais, potentes riffs de guitarra (que nos lembram que estamos em um disco de rock) e uma letra que finalmente tenta traduzir os sentimentos ininteligíveis de Jeff. Para eternizar ainda mais este artista, aquele clima arábico, que tantos monstros da música utilizaram, aparece no meio da música, deixando tudo mais épico ainda. Acho que faltam letras neste teclado que vos escreve, capazes de explicar tudo o que sinto ouvindo esta canção. Descobri este som há mais de dez anos, e ainda parece ter relevância para mim.

O que nos resta agora é continuar buscando as centenas de bootlegs que Jeff nos deixou antes de morrer, para tentarmos aliviar o luto de sua perda.

Por hoje é só!
Grande Abraço!

2 comentários:

  1. O poco que vi do kra é realmente muito bom!!!! porém triste rsrsrs
    AMEI LELE ,tá de parabéns pelo post !!!
    TÁ XIQUE NU URTIMO O BLOG hauhaua

    Bjão Da SAM

    ResponderExcluir