terça-feira, 19 de junho de 2018

Greta Van Fleet – From The Fires


Bem vindos!

E encerrando esta insidiosa trilogia temos a perspectiva futura do Led: Greta Van Fleet. Ainda ligeiramente desconhecida do cenário musical mundial, os "xovens" já estão causando algum tipo de alvoroço por ai. A esta altura do campeonato temos uma porrada de informações sobre a banda, várias entrevistas em rádios, vários vídeos de apresentações ao vivo – uma no grande festival de coachella – e até uma ótima entrevista do Robertão da Planta dizendo que amou e “odiou” a banda, já que, segundo as próprias palavras, eles eram o Led Zeppelin I. O frontman do Led ainda se mostrou indignado com o cinismo do vocalista Josh Kiska, que disse ter se inspirado no Steven Tyler. Oi?!?!??????? Vi ainda outra entrevista que Josh diz ter se inspirado nos trejeitos das mãos de Joe Cocker. É muita cara-de-pau. Se você tiver saco e paciência de procurar, veja os vídeos no youtube que os caras estão caracterizados literalmente como o Led. Acrescentei alguns vídeos de caráter ilustrativo durante o post para vossa apreciação. Ta acabando, prometo!


Polêmicas à parte, vamos a algumas informações. A banda é originária de Frankenmuth, Michigan e é formada pelos irmãos Kiska, Josh, Jake (irmãos gêmeos) e Sam, além do mais recente baterista Danny Wagner. Então você já viu que os papéis estão bem desenhados e conhecidos, um cara na voz, um na guitarra, um na bateria e um no baixo, bandolim e teclados. Onde já vimos isso? O vocal (Josh) é agudo e estridente e tem o mesmo cacoete de mão de Plant; o guitarrista (Jake) posiciona a guitarra no joelho e cabeceia o ar para trás que nem Page fazia, porém usa uma Gibson SG, só para te confundir; o baixista toca um jazz bass da fender, e toca teclado (só falta falar que se inspirou no Geddy Lee); e o batera é o Bonham e ponto final.


Em minha visão a banda não é só calcada no Led, é também, produzida ostensivamente para soar como eles. E, em uma teoria pessoal, acredito que tudo isto é proposital para catapultar a fama dos ditos cujos, já que tudo que se pareça com Led gerará assunto, principalmente neste árido cenário do rock mundial, sem grandes bandas no mainstream.

Diferentemente de Robert, acho este disco mais parecido com a fase do Led Zeppelin III, em que Jimmy Page já não usava mais a telecaster, usando somente a Gibson Les Paul, e o som da banda era mais limpo. Entendeu agora porque escolhi o Led III como primeira análise? Está tudo conectado! Vamos ao disco!


Há várias opiniões sobre qual música deles é a mais Led, eu sou taxativo, é Safari Song, música que abre o disco. Cito as referências: o icônico grito inicial de Josh já dá o tom do que vem a seguir; a utilização de palavras que explodiam na boca de Plant, “Mama”, “Heart” etc.;  a modulação de tonalidade de Josh, saindo das notas altas e caindo nas mais graves; a bateria cru de Danny, mas cheia de peso; e, por fim, a minha seara: a guitarra. Jake praticamente mimetiza toda a forma de tocar guitarra de Page, dos riffs e tons, e até os solos. Iguaizinhos, sem tirar nem por. Com certeza, nas homéricas e loucas apresentações do Led nos anos 70, Jimmy tocou um solo parecido com o que ouvimos em Safari Song. Arrisco a dizer até que deve ter tocado igual, nota por nota. O que temos aqui é uma música original, totalmente encaixada no modus operandi do Led. Veja o vídeo abaixo, e veja se minto:



Em Edge of Darkness, nos acordes iniciais, sentimos que a coisa vai mudar. Tudo ainda está muito parecido, mas a guitarra já demonstra quebrar um pouco o padrão. Josh ainda soa Plant, porém notamos uma leve diferença. Aí chega o pré-refrão e estraga tudo. É Led saporra, de novo, nas palavras usadas e no jeito de cantar que, agora sim, lembra as porradas do Led I, tipo Good Times Bad Times, Communication Breakdown etc. E mais um solo igualzinho.

Até aqui, admito que o post está levemente inclinado à um tom de crítica, porém quero deixar claro que é de impressionar a competência e talento dos moleques, que, apesar de estarem copiando descaradamente o Led, estão apresentando ao mundo um trabalho 100% autoral que pode resultar em algo novo e legal. Adendo feito, voltemos ao disco!


E agora é o ponto alto do cinismo, a música a seguir, segundo os próprios integrantes é uma homenagem a Tom Petty. Mano, na boa, essa foi muito foda de engolir, sério! Não sou um grande apreciador e nem conhecedor da trajetória musical do Tom Petty, porém nunca o enxerguei como um expoente do Flower Power, título desta faixa, que também foi a expressão que caracterizou toda a geração Hippie. Sinceramente, enquadro-o muito mais aos artistas de veia folk sulista dos estados unidos, do que um integrante do “Paz e Amor”. Agora você, amante de Tom Petty e Led Zeppelin, escuta a bendita faixa e me diga o que parece? Parece muito mais uma fusão de “Your Time is Gonna Come” com “Going to California” e todas as faixas folk supracitadas no post do Led Zeppelin III. Talvez a única justificativa seja: “Ah, é uma faixa folk vai, o Tom Petty tinha uma pegada folk”. Tá, e quem foi um dos grandes expoentes do dito “Flower Power” e da psicodelia como um todo? E ai é o seguinte, tá tudo lá de novo, bonitinho, no seu devido lugar. O violão, o solo de guitarra, o jeito “Plant” de cantar - caralho, até os Oh Yeah, Oh Yeah ele faz igual – e, algo novo até agora, o bandolim e o teclado. Bom se o final da música não se encaixa perfeitamente a já citada “Your Time is Gonna Come” eu tô é ficando louco mesmo. Olha a "dedicatória" ai embaixo.


A Change Is Gonna Come é a próxima. “Peraí Leandro, você tava falando de Your Time Is Gonna Come no parágrafo anterior, então você deve ter confundido”. Não, cara, é isso aí mesmo, porém há uma explicação mais que plausível: trata-se de um cover de Sam Cooke, um dos maiores expoentes do Soul, ou o Rei do Soul, mais precisamente. Grandes nomes já regravaram esta maravilhosa peça de arte, como Otis Redding e Aretha Franklin, além de ser um dos marcos pela luta dos direitos civis no EUA. Sentiu o tamanho da responsa? Nesta faixa, por incrível que pareça, já consigo notar uma leve distanciada do estilo Led de ser, talvez por não ser uma música de rock em sua essência, contando com o elemento surpresa do coral feminino (que eu me lembre, isso o Led nunca fez). O clima folk permanece da antecessora, travestindo levemente o formato da canção original, calcada principalmente na influencia da música negra norte-americana. Os caras trajaram roupas de civis nessa música, será que continua assim?

Eis que eles colocam a farda utilizada pela força área de novo e vão lá pegar o timão do dirigível. Highway Tune começa como? Como “The Rover”! E mais gritaria! E mais “mama”! Algumas pessoas colocam esta faixa como o Led perfeito. Realmente tem tudo, um riff meio plagiado do Led, um solo característico do Page, os berros irritantemente iguais. É igual pra cacete, mas para mim “Safari Song” ainda ganha.

Meet On The Ledge começa bem setentista, mas finalmente tenta se distanciar um pouco do Led. Até o jeito de cantar de Josh aparenta estar mais apaziguado. É uma boa balada que talvez tenha até algum apelo comercial no futuro. Finalmente sinto a banda buscando algo mais próprio e original. Claro que o jeito de cantar ainda é bem parecido com Plant, porém, destaco a tonalidade da guitarra, e até o solo, que finalmente parecem não ter sidos extraídos de algum bootleg do Led. Temos talvez um horizonte mais promissor aqui.

Talk On The Street já apresenta elementos um pouco mais modernos, como o riff de começo, saindo da zona de conforto da cópia. Eu acho que a medida que o disco vai chegando ao fim, a banda começa a buscar sons diversos e elementos mais próprios. Aquele clima setentista ainda está lá, mas parece que as palavras das letras já não são colocadas para dar a entonação zeppeliniana. Claro, os bicordes e afins, ainda nos remetem aos caras, talvez até um pouco a pegada do Led Zeppelin II, mas, sinceramente, já vejo uma mudança de tendência. Cabe ressaltar também que a banda não pode se sustentar com fãs saudosos do Led, então provavelmente eles acabarão buscando sons mais comerciais, com menos viagens de ácido e menos solos grandes de guitarra, como podemos verificar já nesta faixa.

E encerrando a epopeia, Black Smoke Rising. Gosto de todas as músicas do disco, mas este é o ponto alto. A banda finalmente parece soar original, com uma música potente e um refrão que gruda. Claro que novamente é muito da guitarra do Page, principalmente no refrão e nas partes mais lentas. Outro ponto importante é, o timbre de voz de Josh é muito parecido com o de Robert, então, para que a banda realmente trilhe outro caminho criativo, o ideal é buscar novas formas de cantar, nunca fugindo da inspiração inicial, é claro.


A pergunta final que fica é: o que será desses talentosos jovens mancebos ávidos pela retórica Zeppeliniana? Só o tempo nos dirá. Estou super ansioso por um segundo trabalho de estúdio, que para mim mostrará onde realmente a banda quer chegar. Ainda falta um longo caminho a trilhar, falta uma leve maturidade musical e, quem sabe até, uma leve pitadinha de cocaína (não me matem, é só uma brincadeira!), mas temos que dar o braço a torcer, o dirigível de chumbo está em boas mãos, hein?

Grande abraço!

Um comentário:

  1. Salve Brother!!!! Parabéns!!! A trilogia ficou perfeita e matadora... Esta perna final da viagem foi realmente inspiradora!!!

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