domingo, 9 de setembro de 2012

Days Of The New - Days Of The New II (Green)


Bem vindos!

Caros amigos, não posso dizer que o post de hoje é necessariamente sobre uma banda de rock, no entanto, não pode ser outra coisa.  

O ano é 2007, eu era vendedor de calçados, vulgo tênis, e em meio a tantas trilhas sonoras odiáveis que fui submetido no ambiente da loja, eis que me deparei com algo novo para meus ouvidos. Alguém gravou um cd de Best hits, que contava com a faixa Shelf In The Room. Lembro-me de ter ficado alucinado com o que ouvi e sempre torcia para que o cd fosse tocado. Até que consegui a lista das músicas que me propiciou conhecer melhor a banda. Falemos um pouco dela.


Nascida no descenso, ou, no começo do fim do movimento Grunge. Kurt Cobain estava morto, o Soundgarden anunciava seu fim e Alice In Chains lançava um ótimo acústico, mas com Layne fragilizado. Eis que Travis Meeks, acredito eu, embebido por este ótimo trabalho do Alice e por todos os outros grandes acústicos anteriores, resolveu praticar esta sonoridade sem o rótulo “Unpplugged”. Três álbuns foram lançados, sem título, lembrados apenas pelas cores, Orange, Green e Red. O primeiro foi o único com certo prestígio comercial, o restante não goza de tal virtude. E quem liga para vendas? São exatamente os dois últimos discos que me fizeram ser fã da banda, pois tem muita originalidade. O primeiro parece influenciado demais pelo acústico supracitado e não é tão original. Hoje disserto sobre o que mais me marcou. Partamos!



Os cavaleiros do Apocalipse? Talvez. Um slide em ponta de lança. E a voz de Travis, muito influenciada pelos mestres do grunge e Jim Morrison, mas com personalidade própria.  Violões em ritmo frenético. Esta é Flight Response, música em duas etapas, a porrada acústica, que percorre a campina e a suavidade maciça. No disco inteiro se notará dois violões se completando. Vocais femininos suavizam ainda mais, no entanto, suscito-me à fúria. As cordas estão apertadas e os dedilhados têm raiva, aliados a fanfarra dos instrumentos de sopro. Na transição da primeira para a segunda notamos que o álbum pretende ser um só.

Mais violões, você não ouvirá guitarras, esqueça! The Real, na real, começa mais “moderninha”, provavelmente querendo ser irreal. O forte desta música são os ligados à deriva, que influenciam de certo modo as bases melódicas. O refrão é muito intenso, é o grande trunfo, principalmente por aliar as vozes de Travis e Nicole Scherzinger (busquem conhecimento e divirtam-se). Até o momento não sentimos aquele cheiro de grunge, como no álbum antecessor.  Ao final outra transição, com um ótimo instrumental.

Enemy exigiu despir-me dos preconceitos. Sinceramente odeio baterias eletrônicas do fundo da minha alma, porém não posso desprezar o restante da melodia, marcada por uma batida de violão bem mecanizada, perambulando por alguns acordes. O abuso dos sintetizadores é extremo, lembrando até Kraftwerk. O minuto final é soberbo! Tanto base, como solo tiram a concentração. Só eles já valem a música. Acho muito válido o experimentalismo de Travis, que não o faz de forma leviana. Outra transição.

Weapon & The Wound é uma das melhores do disco, com certeza. Os arranjos orquestrados, muito difíceis de acontecer atualmente, pautam a música, dando as caras logo de começo. Novamente os violões são um show à parte, trocando do blues, para elementos de música moderna, principalmente nas partes abafadas. Violoncelos, violinos e clarinetes em um disco de “rock” são para poucos (se é que podemos dizer rock). A voz de Travis parece completar a música de alguma forma, além do trivial. Coloco esta como mais uma das grandes obras de arte da música.



Sem a intersecção das melodias acústicas, Skeleton Key traz um pouco de misticismo ao álbum, e, de certa maneira, um descanso aos dedos de Travis. Só xilofones e sintetizadores. Parece até trilha sonora de algum filme B da “Sessão da Tarde”. Mas por favor, novamente não assassine o disco e a pule, escute até o fim, tudo tem um contexto, por mais estranho que possa ser.

Voltamos ao normal. Take Me Back Then adiciona o country com banjo, só ele estava faltando. Notem a sensibilidade de Travis em aliar elementos de orquestra aos arranjos. Com certeza aproveitou a idéia de No Quarter de Jimmy Page e Robert Plant. O trabalho de cordas do álbum é de impressionar, por exemplo, quando ouvimos o violão rivalizando com o banjo, além de haver muita criatividade em todas as bases executadas. O assunto é o de sempre, drogas, sempre elas! Nicole Scherzinger fica com a incumbência de fazer a transição.

Traga você mesmo e deleite-se com a introdução de Bring Yourself. Vocais asiáticos, base uníssona e uma ótima progressão. Ao contrário das últimas, a orquestra não veio, por isto é uma das mais “pesadas”. A base calcada no dedilhado das mesmas notas no violão, alternando as tônicas dá uma impressão de ascendência. O refrão é mais um daqueles que te faz balançar a cabeça inconscientemente. É diferente de uma música comum com três partes em média, possuindo várias, contando até com um pouco de moda de viola caipira. Travis soa demasiadamente parecido com Jim Morrison quando entoa “Bring Yourself”. Coloque-a no mesmo saco de Weapon & The Wound. A transição agora é feita com bateria eletrônica.

I Think tem a fúria contida do grunge e nos presenteia com um pouco de distorção, não muita, mas já é alguma coisa. O som é tão grave, que sentimos as cordas afrouxadas, por isto é a mais pesada do álbum, já que alia boa parte dos elementos do metal, principalmente na gravidade, gritaria, acordes oitavados e barulho! Essa não tem transição, talvez porque todo pensamento acabe uma hora.

Longfellow lembra vagamente alguma música dos seriados da TV Cultura, tipo Castelo Rá-Tim-Bum. Tenho que admitir que a sonoridade dos sintetizadores é de gosto duvidoso, porém adoro a inserção destas batidas tipo oriente médio. A próxima faixa não tem título e é mais um momento de transição, alicerçado em The Wall do Pink Floyd, talvez.

A partir de Phobics Of Tragedy começamos a notar que as bases de todo o disco são muito parecidas, como uma pangeia melódica, apesar disto, cada faixa tem sua personalidade, proporcionando-nos sensações diferentes. Not The Same explicita ainda mais isso, com mais arranjos orquestrais, riff’s graves e voz rouca. Mais uma faixa que pronuncia a temática grunge, quando Travis implora para não ser odiado, pois já não é o mesmo. A melodia é coberta de notas melancólicas, todavia, nos minutos finais, a mudança de caráter do interlocutor gera frutos melhores e o entusiasmo toma conta. A transição agora ocorre de forma diferente.

Provider começa com esta enérgica felicidade, conecta-se a Not The Same, mostrando que Travis pode ressurgir de seu casulo incólume de tristeza. É um novo jeito de fazer música, apesar das muitas influências perceptíveis, como Folk e Blues. Usar cordas soltas em afinação aberta, cheia de notas ligadas e slides com a adição de uma regência orquestral deu riqueza a toda sonoridade do disco. Os minutos finais da faixa provam. Perceba como as linhas objetivas dos instrumentos de sopro maximizam o conjunto da obra. E a transição agora é feita por mais um devaneio oriental de Travis.

Last One já disse, é a última. Podemos sentir com ela o que é a depressão do nada, pois não há tristeza nem rancor, só nada e nada. O jeito lento de tocar o violão e a suavidade nos vocais dobrados e vazios nos diz nada. Ao final de cada refrão um acorde com distorção faz o papel do tapa que te tira deste pesadelo do vazio.  

Caros leitores este disco traz uma proposta diversa de se fazer rock e música em geral. Talvez para ouvidos destreinados e reacionários as músicas soem chatas. Quem gosta de um bom som de violão, vocais excelentes e diversidade instrumental, este é definitivamente o disco a ser ouvido. Em tempo, escutem o terceiro disco Red, é tão bom quanto.

Até mais!
Grande Abraço!

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