Bem vindos!
Vamos nos transportar ao sul.
Não, não vamos para Porto Alegre, tchau! Iremos à Flórida, carinhosamente
apelidada por Homer Simpson de “o pênis da América” (oi??). Ok, aos olhos “nus”, não parece ser
um bom lugar para conhecer, porém muitas coisas boas saíram de lá, como o
Pica-Pau (um pouquinho de duplo sentido vai bem) e The Allman Brothers Band. Já
que este não é um blog de desenhos animados, falemos do segundo.
Gosto sempre de citar como
descobri as bandas, no entanto, não posso precisar neste caso como isto se deu,
só lembro que foi em 2006. Acho que todo rock sulista se conversa,
principalmente pela influência ser a mesma, jazz, country e, principalmente,
blues. Antagonicamente a Lynyrd Skynyrd, que usava mais o rock e o country, o
grupo dos irmãos Gregg e Duane sempre desbravou mais as fronteiras do jazz e
principalmente o blues. Por abusar das firulas na guitarra, em alguns momentos,
ganhou a alcunha de rock progressivo. A influência do estilo é forte, mas não é
o som deles.
O álbum de hoje foi o primeiro
que ouvi da banda e, para minha surpresa, não contava com o saudoso Duane
Allman nas guitarras, o que não compromete em nada a qualidade. Vamos ao álbum
de nossos matutos americanos favoritos!
Wasted
Words é a mistura perigosa de uísque de milho com guitarra slide. A
voz de Gregg diz tudo! Apesar do baque da morte de Duane, a banda não
desperdiça palavras musicais para traduzir a alma. O destaque realmente são os
slides. Desde o começo, usam a “Slow Hand” de Clapton duplicada em forma de aço
cilíndrico. Nos minutos finais a banda esquece um pouco Jimmy Smith e duela com
Dickey Betts para ver quem é mais legal, guitarra ou piano.
E o andar perdido de Dickey é o
tema agora. Ramblin’ Man é a ode ao
matuto americano, que nasce torto, fruto de uma vida errada e se livra da culpa
pregressa, rodeando o país em busca de limpeza mental. A melodia diz muito
sobre isto. Baseada no country do Tenesse, como dito na letra, Dickey conforta
a alma dele com as guitarras fraseando o tempo todo dentro da escala proposta.
A voz que ficou rouca e carregada, devido aos amaciantes de caráter, pede a
Deus, um pouco de paz de espírito e força nas pernas, para continuar andando. O
som parece crescer e ficar mais intenso a cada segundo que passa, chegando ao
êxtase nos minutos finais.
Come
And Go Blues mostra mais personalidade da banda nos teclados, que
assume de vez o timbre de piano, mais influenciado pelo jazz, abandonando o
hammond de igreja um pouco. Esta faixa, como muitas que vimos até hoje no rock
catártico, tem dois momentos. O blues cromático do piano aliada a guitarra
cheia de funk. O refrão parece não pertencer à música, tem acordes bem
sustentados, firmes e não é nada blues. As inserções de guitarra são bem
pontuais e acertadas, todas as notas são bem pensadas e não há desperdícios.
Jelly
Jelly é mais uma das músicas com nome de mulheres do Allman
Brother´s, porém não foi escrita por eles. Guitarras solando e se completando
são muito freqüentes, órgãos e pianos não. Estranhamente Betts está
irritantemente parecido com B. B. King, porém os solos têm uma personalidade
forte e agressiva.
E ainda nesta agressividade vem Southbound. A guitarra está muito funkeada de
novo, nem combina muito com o estilo cowboy de Betts, todos os vídeos que vi
dele causam estranheza. O grande trunfo da banda é soar rock ‘n roll utilizando
a maioria das bases de blues. E que recurso eles usam? Inserem grandes
passagens e riffs de guitarras. Solos, solos e mais solos. A banda inteira
sola. Pena que isto não existe mais.
Jessica,
aaaaaaaaa Jessica!!! Como gostaria de ter conhecido seus longos cabelos negros,
sua pele morena e olhos profundos (como a música é instrumental, imagine-a como
quiser). Com certeza Jessica trouxe muita alegria ao andarilho Betts,
ajudando-o a fazer uma melodia alegre e um dos maiores clássicos da banda. Como
notar uma grande música instrumental? Você consegue cantar o fraseado dos
instrumentos e ele gruda na sua cabeça e corpo. A base melódica é muito bem
construída, pois é simples e contêm poucos acordes, liberando a guitarra e
piano para aprofundar seus conceitos próprios. Detendo-me mais a parte das
cordas, toda a elaboração das frases é feita dentro da tríade de acordes
maiores, isto dá leveza para a música e a deixa muito alegre. Como southbound, há
grandes riffs conectando as partes. Aos três minutos ficam evidentes estes
recursos, e, para incrementar, a banda aumenta um tom e meio, regozijam-se com
o solo agudo de Betts e voltam o tom apenas para fazer o grande finale. Pegue seu caderninho aí e coloque este som como um
dos melhores que você ouvirá na sua vida.
Quem já assistiu aos filmes de
Wim Wenders, como “Paris, Texas”, com certeza lembrar-se-á dele com o começo de
Pony Boy. Sei que muitos gostam dos
blues feitos pelo Zeppelin ou Clapton. Particularmente acho que ninguém vence
as bandas americanas nesse quesito. Está na alma deles, no sangue, está em todo
o lugar. Perceba quanto movimento e suingue na melodia e voz, além de ser
totalmente mambembe, sem efeitos nos instrumentos e sem uma levada de bateria
inteira. Passaria facilmente por uma música feita nos anos cinqüenta por John
Lee Hooker. Já ouvi muitos slides por ai: Rory Gallagher, Lynyrd Skynyrd, Led
Zeppelin, Johnny Winter etc, todavia, os que mais me apetecem são os do Allman
Brothers, isto que o mestre Duane já estava em um lugar melhor (assim espero).
Resumindo, gosta de jazz, country
e principalmente blues, ao bom e velho estilo americano sulista de ser? Ouça
Brothers And Sisters. E TUDO que Allman Brothers produziu!
Grande abraço!
Até a próxima!
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