domingo, 2 de setembro de 2012

Pink Floyd - Atom Heart Mother


Bem vindos!

Estou em débito com os amantes do rock old school. Ultimamente tenho falado só sobre bandas mais novas, os puristas vão me odiar, os anti velhices devem estar gostando. Vamos falar sobre clássico.

A banda, foco dos estudos de hoje, é consagrada e muito conhecida. A história do Rock psicodélico e a criação dela se confundem. A meu ver a doideira dos contemporâneos da era de peixes, preconizadores da era de aquário, já fazia parte do inconsciente coletivo da época. O modelo de vida hippie foi fruto de uma geração em guerra que queria o “agora” maximizando os prazeres da carne. O ácido propiciou um pouco disto, principalmente no que se refere à música. Pink Floyd foi o grande “usuário”.


Syd Barrett era um dos vórtices centrais da psicodelia, John, Paul e os Jimes foram os outros. Colocou zunidos, elementos abstratos, cubismo e surrealismo em conformidade. Endoidou e virou florista. Seus amiguinhos de Cambridge mantiveram a lojinha aberta, transformando-a num hipermercado. Falarei aqui sobre a primeira “reforma” nela. Já tinha piso e a parede não estava mais no tijolo. Mais uma grande obra apresentada pelo Alberto. Ei-la:



Tudo dentro da normalidade até agora, com um único tom. Atom Heart Mother, a primeira e que dá nome ao disco, está dividida em seis partes: Father's Shout, Breast Milky, Mother Fore, Funky Dung, Mind Your Throats Please e Remergence. São várias músicas dentro de uma, mas gosto de pensá-la como uma só, mesmo tendo delimitações. Logo no começo a apoteose e magnificência mostram aonde o disco quer chegar, distorcendo sons de orquestra em meio a cavalos, tiros e explosões, elementos freqüentes da época. Gilmour destila sua guitarra de colo repetindo linhas melódicas, encerradas abruptamente pelo piano de Wright que repete três acordes e só os troca no que parece um refrão. Se o solo vocálico de The Great Gig In The Sky é de arrepiar, nesta música as vozes te tirarão o sono, abençoam e maldizem. De novo Wright transforma tudo, fazendo dois acordes “alegres”, liberando novamente Gilmour para correr em sua guitarra pelos campos verdes da capa do disco, é a liberdade que faltava. Acabado o ar, as vozes reprimidas anteriormente retornam, fazendo uma espécie de exercício fonoaudiólogo, dando passagem ao tema principal novamente. Em um momento, a saudade de todos por Syd Barrett volta, coroado pelo já famoso desencontro instrumental (que Zappa adorava). E desta ebulição de notas fora da escala, todas as facetas da música se encontram novamente em um único minuto. Ao final temos todos juntos, Waters, Gilmour, Wright, Manson  e o coral de John Alldis, concluindo a jornada homérica. Esta música é para se ouvir em silêncio, divagando sobre sua existência, quem sabe você acha uma resposta.

If é o questionamento que propus na etapa inicial, escrita pelo revoltado Roger Waters, que sempre tinha algo a dizer. A voz deixa tudo meio insosso, com uma melodia que acompanha essa falta de sal. Creio que a vontade de Waters era realmente gerar apatia. A guitarra retoca com suavidade essa falta de temperos e aromas, lembrando até o jeito de Brian May.

E aqui minha favorita. Com certeza Summer ’68 foi a obra prima de Richard Wright, quem é fã de The Great Gig In The Sky me perdoe. É sensibilidade pura em forma de notas, tanto no piano como na voz dele. Já dissertei muito aqui no blog, sobre músicas que me proporcionam calmaria. Coloque está em primeiro lugar! O tecladista mostra que é diferente de seus contemporâneos, que possuíam fúria em seus dedos, ele não, sendo dono de suavidade suprema. Pena Roger Waters ter monopolizado a força criativa do grupo, principalmente tolhendo Wright. Agora ele se foi para o outro plano, infelizmente.



Fat Old Sun é a calmaria proposta pela Fender Stratocaster de Gilmour. Diferentemente de If, a falta de aromas da melodia é compensada com a bela voz do guitarrista, que arranja tempo para versar um belo solo, mostrando que seu estilo de tocar já estava mais que definido à época.

Lembram da psicodelia que falei no começo? Ela tem nome, Alan’s Psychedelic Breakfast. É a personificação do cidadão comum londrino, meio parecido com o do resto do mundo, que acorda e arrasta suas chinelas pela casa, fazendo tudo mecanicamente, seguindo o ritmo de um metrônomo em forma de torneira pingando. Alan “acorda” para a vida, frita o ovo com bacon para se sentir humano, mas ao mesmo tempo come os cereais que não nutrem, que chegaram prontos a ele e não demandaram esforço. Ele chafurda em sua insignificância. A banda então traduz esta inércia que Alan se encontra, em forma de música, contrapondo o “alegre” e o “triste” que ele vive diariamente. Rise and Shine é o começo do dia, com o sol ferindo a vista cansada dos olhos que ainda não se acostumaram com a luz. Sunny Side Up é o meio do dia, em que as almas se calam, e como disse anteriormente, chafurdamos em nós mesmos. Morning Glory é o fim do dia, quando oramos para que o amanhã nos traga algo de novo. Tecnicamente, caros leitores, não há o que falar da faixa. Como fiz acima, escute e divague muito em cima das três melodias propostas pela banda.

Ao contrário de The Wall e Wish You Were Here, este disco não tem temática principal, não tem contestação explícita, nem nada. São os integrantes da banda dividindo atenções, mostrando unidade na sonoridade que queriam fazer e enlouquecendo sem freio. Além de ser pré ditadura de Waters, permitindo a criatividade de todos os membros. Meu preferido do Floyd, sem sombra de dúvidas.

Até mais!
Grande Abraço!

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