domingo, 18 de novembro de 2012

Jeff Buckley - Grace


Bem vindos!

Após um breve silêncio de minha parte, por estar me dedicando ao culto do cinema um pouco, retorno para falar de um artista que me fez crer que a melancolia existe na forma de vinte e duas casas de metal. Sua música me foi apresentada em um momento crítico de meus estudos musicais. Ainda estava no ensino médio e começava a me familiarizar com o finado movimento grunge, ou seja, um momento de transição e amadurecimento musical. Um dia, conversando com um professor de guitarra, despretensiosamente, fui informado que o artista em questão fazia acordes estranhos e possuía uma voz incrível. Espantou-me descobrir futuramente que ele influenciou grandes nomes da atualidade, como Coldplay e Radiohead.



Jeffrey Scott Buckley é mais um do litoral pacífico dos EUA, praticamente vizinho de Zappa e sua Sun Village. Não foi um dos filiados do clube dos 27, errou por três anos, com uma morte no mínimo besta e muito triste. Praticamente seguiu os passos de seu pai, em todos os sentidos. Era muito parecido de fisionomia, possuía uma voz belíssima, morreu jovem, e, em vida, não galgou um sucesso astronômico. Com muita sensibilidade, Jeff trouxe novamente um sentido relevante ao timbre da Fender Telecaster. Oficialmente só temos um registro legítimo de sua genialidade e transcendência musical em forma de disco, no qual abordaremos hoje. Sketches For my Sweetheart the Drunk é o segundo disco, mas que só foi lançado postumamente, pois o próprio músico o rechaçou. Prossigamos!

Mojo Pin é o típico início misterioso para um disco. A voz é bem aguda e sua tonalidade é feminina. Jeff prova desde o começo de Grace seu total domínio da guitarra, tanto nos dedilhados límpidos e suaves em sua Fender, como na implosão distorcida dos acordes no refrão, que deixam feridas profundas e sangrentas em nossas almas. Jeff camuflava seus acordes depressivos e amargurados com singelas letras de amor, talvez por não existirem vocábulos certos para traduzir suas dores que chafurdavam em depressão. Mais fácil falar de amor mesmo, já que ele explana a maioria das mazelas humanas.


Grace apresenta-nos mais acordes diferentes e abusa deste recurso. Essa é aquela música que você vai aumentando o volume conforme ela vai passando. Os vocais beiram ao lírico, acompanhando as letras que falam sobre a tristeza suicida que tratei acima. Nos momentos que não há letra, Jeff complementa com melodia alegre, quase como uma injeção de morfina direta na veia. Ainda resta tempo para inserir complementos psicodélicos, uma microfonia aqui, um violino acolá, além de um violão que toca bem ao fundo e dá muito ritmo à música. Mais um dos hinos da geração dos anos 90, adulta, dopada e inoperante, que esperava o seu fim, porém esta fadada a velhice.

No voto ao romantismo vem Last Goodbye. Agora os acordes trazem menos melancolia e mais encantamento, já que Jeff quer o último abraço e beijo de algo que nunca dará certo. O recurso do slide lembra até as passagens de Jimmy Page utilizando o arco de violino em sua Les Paul. Em todo o disco você notará um toque do dirigível de chumbo, aqui fica a cargo dos acordes fora de contexto que fazem a ponte com violinos.

De James Shelton e interpretada por vários artistas, até pela Miley Cirus (recursos de estúdio não faltaram), Lilac Wine foi feita para vozes femininas, impressionantemente a de Jeff é a melhor de todas. A limpeza de hospital do timbre da Fender em conexão com o tom quase soprano do músico é tudo o que esta música precisa, mais nada. O vinho lilás está envelhecendo há anos, seu teor alcoólico vai diretamente para a cabeça e coração.



So Real é mais uma das canções parecidas com Mojo Pin, traveste o teor arsênico de suas melodias com reflexões amorosas. Jeff chega a ser irritantemente perfeito na mescla de acordes diminutos com acordes menores e maiores, o que deixa sua música cheia de altos e baixos, interpolada por uma tensão constante, que não nos deixa nunca. Os gritos estridentes passam direto pelos tímpanos e fluem direto em nosso sistema linfático, carregando todas nossas dores de volta para dentro. Aos ouvidos mais atentos o dirigível de chumbo aparece em alguns momentos novamente.

Com um profundo suspiro, começam os próximos minutos mais atormentados de nossas vidas e talvez a canção que mais tornou Jeff famoso: Hallelujah. O pai da criança é Leonard Cohen, o famoso poeta e músico canadense, porém, passou ótimas férias na casa de Buckley e nunca mais voltou para casa. Tudo o que aconteceu em Lilac Wine é feito novamente, respeitando toda a orientação dada nos versos iniciais da música: “Mas você não liga muito para música, não é?/E assim vai a quarta, a quinta,/O acorde menor cai, e o acorde maior sobe,”. A letra casa muito com toda a filosofia musical do guitarrista, e em alguns minutos parece ter sido escrita por ele. Escute-a de portas fechadas e sem interferências. Ainda bem que músicas assim existem, Aleluia!

Lover, You Should've Come Over, continua com a proposta de Last Goodbye, trazendo acordes e melodias mais doces, pautada pelas tensas diminutas. Em alguns momentos a letra parece bobinha, melosa e cafona, porém, como já repeti várias vezes aqui no blog, acho que tudo tem que ser analisado no contexto que está inserido. Jeff rompe o contrato, unilateralmente, com a depressão cáustica dele, e para isto, utiliza de alguns métodos famosos, como acordes no Hammond, leves toques na bateria, coral gospel e muita blue note. Não pule no player, você aprende a gostar dela.

Corpus Christi Carol está no grupo de Hallelujah e Lilac Wine, todavia tem componentes de música clássica e finalmente Jeff assume o tom soprano de vez. Muito pouco foi alterado da versão original. Nunca achei uma música tão “silenciosa” como esta, se assim posso dizer.

Finalmente Jeff mostra o quão letal ele pode ser, recuperou suas forças e fez Eternal Life. Tanto melodia como letra agridem nossa opinião e moral cristã, afrontando nossos conceitos de “vida eterna” e expondo um pouco do conceito de correspondência, ou lei da causa e efeito. Falando tecnicamente, acredito que esta é a tradução de uma música de Rock, tem peso, força e faz você refletir sobre sua enfadonha e medíocre vida. Os riffs de guitarra expõem um lado paradoxal do artista, que gosta de apostar em acordes diferentes que se encaixam. Coloque ai na lista das músicas “joelhada no rim”.

E, por fim, talvez a mais importante de todas, Dream Brother. Aprecio, e muito, músicas finais que fazem a síntese do disco. Tudo o que vimos anteriormente aparece aqui. Acordes ficcionais (ou seja, na prática eles não existem), grandes interpretações vocais, potentes riffs de guitarra (que nos lembram que estamos em um disco de rock) e uma letra que finalmente tenta traduzir os sentimentos ininteligíveis de Jeff. Para eternizar ainda mais este artista, aquele clima arábico, que tantos monstros da música utilizaram, aparece no meio da música, deixando tudo mais épico ainda. Acho que faltam letras neste teclado que vos escreve, capazes de explicar tudo o que sinto ouvindo esta canção. Descobri este som há mais de dez anos, e ainda parece ter relevância para mim.

O que nos resta agora é continuar buscando as centenas de bootlegs que Jeff nos deixou antes de morrer, para tentarmos aliviar o luto de sua perda.

Por hoje é só!
Grande Abraço!

domingo, 23 de setembro de 2012

Uriah Heep - Live 73'


Bem vindos!

Aproveitando o ensejo do Alberto, que dissertou sobre Uriah Heep, darei minha humilde contribuição, enriquecendo o cardápio de álbuns a serem ouvidos.



Uriah Heep é o tipo de banda que demora a chegar até você e te deixa puto por ter vivido cego, na ignorância por tanto tempo. Novamente o culpado foi o senhor Alberto, que me apresentou fragmentos de Damons & Wizards. Sinceramente minha vida nunca mais foi a mesma depois deste dia. Eram os teclados de pura tensão? A guitarra mal-intencionada? Os vocais sublimes? É tudo isso ai mesmo. E então veio a música The Magician’s Birthday. Tudo nela é perfeito. O baixo que joga contra de Gary Thain, a voz aguda de David Byron, a guitarra de Mick Box e seu solo matador, a boa levada de Lee Kerslake e, por fim, Ken Hensley com teclados insanos.

E o enigma do dia é: o quê há na água de Birmingham que criou bandas tão foda (com perdão do verbete)? É isso mesmo colegas, esta é mais uma das bandas da comarca sabática. Deveria ter algum portal aberto da sexta dimensão. Quem sabe? Neste post falarei sobre mais um álbum ao vivo, vocês já conhecem minha predileção por eles. E lá vamos nós!



A introdução não conta, então vamos direto a Sunrise. Começo enigmático, os tímpanos reverberam aos vocais agudos e bem afinados, aliados ao timbre louco de Ken Hensley nos teclados. A guitarra é outra coisa que impressiona, pois é muito pesada para os padrões da época. É pessoal, Uriah Heep é metal dos bons em pleno começo dos anos 70. Escute a voz de “Lord” Byron e me diga se ele não é inspiração para a maioria dos cantores de metal da atualidade?

Sweet Lorraine traz a mesma proposta de teclado de Sunrise. Inspirada na homônima de Nat King cole? Acho muito difícil! É a representação da versatilidade da banda, que sempre que pode, intercala Boogie Woogie com magia negra celta, e, neste caso ainda encontrou tempo para colocar um pouquinho de funk na guitarra de Mick Box. É fácil de perceber isto, quando aos dois minutos de música, Ken Hensley entrava a banda com sua ingerência nos teclados e transforma o som.

Traveller In Time continua a proposta das duas primeiras, muita bordoada na cara, em todos os instrumentos. Injeções de calmaria bem pontuais por Sir. Byron. O requinte de crueldade está nos minutos finais, quando Lee Kerslake desce o cacete na caixa e dá início a um riff extremamente simples, mas mortal. Guitarra e teclado conversam e se tornam iguais. David Byron dispara seus agudos de novo. Que petardo!

Não tem vida fácil, não! Easy Livin’ é um dos maiores clássicos ao lado de Lady In Black. É uma das músicas que mostra mais a personalidade da banda, sempre que a escuto, não consigo me lembrar de nenhuma banda que tenha feito algo parecido.  A dupla Box/Hensley foi uma das melhores coisas que aconteceram para a música, não consigo pensar em heavy metal nos dias de hoje sem lembrar-se deles. E fazem isto com muito pouco, a melodia desta faixa é deliciosamente simples, porém tocada com todo o efeito e empolgação da banda são imbatíveis.

E agora um dos grandes momentos do disco. É não existem palavras para descrever o que senti quando ouvi July Morning pela primeira vez. Perfeito, acho que esta é palavra. Como disse no parágrafo anterior, não há nenhuma genialidade ou complexidade extrema nos arranjos instrumentais da banda, mas o jeito que são feitos, como são combinados guitarra e teclado, trovando com o baixo de Gary Thain, além das grandes interpretações de Byron, nos fazem crer que tudo está perfeito. A viagem aqui não tem fim. Posso elencar dois momentos que são os mais importantes, o riff inicial, amuado e simplório do teclado que inicia a coisa toda. E depois, a violência de guitarra e teclado no recheio da música, que travam uma batalha épica, utilizando os mesmos golpes, as mesmas notas e força. O intermediador desta batalha é Byron, que grita alto e agudo, mas eles não querem parar. Não é bem um solo e nem tampouco é um riff, este é o jeito Uriah Heep de fazer música. E, assim como Sabbath, foram um dos introdutores das notas consideradas demoníacas pela igreja católica. Pegue o caderninho de novo ai meu filho e coloque esta como uma das melhores da sua vida!



Um pouco de rock ‘n roll e blues para limpar a sujeira deixada por July Morning. Tears In My Eyes é o jeito Uriah Heep de abordar a música negra americana. Este timbre de guitarra estalado pelo Wah Wah de Mick Box com slide é a manifestação realística da ultraviolência do filme Laranja Mecânica. David Byron até tenta apaziguar, de novo, em vão, com um “nananananana”, porém não dá certo. Desista Mr. Byron!

Em tempos distantes, o amor cigano era retratado acusticamente, em forma de tangos, bulerias, tragédias etc, entretanto, nem todos partilham da mesma predileção. Gispy é a manifestação sintética e diabólica do quinteto para este amor impossível e sui generis. A guitarra faz o papel de acompanhamento, tipo bife à parmegiana que vem com batatas. É gostosa, mas não é necessariamente o que queremos. O prato principal é o teclado de Ken Hensley, constante e estridente como todo o soar do grupo. O sintetizador Moog é a novidade, ele aparece na maioria das músicas pregressas, porém nesta faixa está em evidência, materializando todos nossos sonhos e paixões, com este gosto de molho de tomate e queijo. Dá tempo ainda para um bom solo de bateria de Lee Kerslake, um grande show dos anos setenta sem este recurso não existia.

Uriah Heep também sabia fazer letras profundas, que falam de morte e coisas do além túmulo, isto não é monopólio do Led. Circle Of Hands foi acusada por alguns de ser muito parecida com July Morning, por ter uma forte entrada de teclado, vocais agudos e grande instrumentalização. Acho que este é o tipo de crítica destrutiva, pois joga à mesmice o que podemos chamar de personalidade musical da banda. Seria o mesmo que acusar o Deep Purple de ter riffs grudentos. O destaque fica para Ken Hensley, que novamente formata a música ao seu gosto, enchendo de teclados, com efeito, e misticismo nas letras.

Look At Yourself tem isto tudo que falei acima, no entanto, esta versão tem um algo a mais da de estúdio. Quem a canta no álbum de mesmo nome é Ken Hensley, já no Live 73’ é Byron que faz essa tarefa, resumindo, consertaram a cagada. Nada contra os vocais do tecladista, mas David é uma das almas deste grupo, escute ele interagindo com a platéia e gritando à la Ian Gillan. O solo de guitarra sujo, meio errado, com bastante Wah Wah foi com certeza uma das influências para as bandas grunges, principalmente Soundgarden.

Magician’s Birthday foi tipo um “parabéns para você” de empresa, curtinho, nem deu tempo de chegar no: “E pro Fulano nada... tudo!”. Triste, adoro essa música =(

E na máquina do amor nos divertimos. Love Machine é curtinha que nem Easy Livin’, outra bordoada. Riff principal bem simples, três ou quatro notas no máximo e muita distorção na guitarra e piano, deixando a música muito suja. Esta era o tipo de canção que a banda aproveitava para dar show, fazer caras e bocas e empolgar os presentes.

E por fim um pout pourri para a galera. Rock ‘n Roll Medley junta as músicas: Roll Over Beethoven/Blue Suede Shoes/Mean Woman Blues/Hound Dog/At The Hop/Whole Lotta Shakin' Goin' On. Em linhas gerais é um pouco avessa à sonoridade da banda, que perambula pelo profundo, taciturno e ocultismo, por tanto, sentimos certa dureza nas linhas instrumentais, todavia, a afinação e sincronia na execução dos vocais nos mostram a força colaborativa da banda, trabalhando como uma unidade celular. Por isto, sempre quando penso em Uriah Heep, nenhum membro em específico me salta a mente, todos fazem seu papel, sem atravessar ninguém. Um jeito lúdico e entusiasmado de encerrar este ótimo registro ao vivo. Destaque para os uivos na parte de “Hound Dog”.

Concluindo amigos, Uriah Heep é uma banda que passou por diversos momentos de sua história, sempre prevalecendo os conturbados, como brigas, mortes etc. A formação de Live 73´ com certeza foi a mais criativa e poderosa de todas elas, a sinergia demonstrada e a intensidade de suas composições servirão de influência para muitas gerações ainda. Este álbum é a síntese de tudo que o grupo construiu de mais glorioso em sua história. O peso das distorções, tanto de teclado quanto de guitarra, aliados aos belos e agudos backing vocals que serviam de pano de fundo para Lord Byron, talvez nunca mais sejam feitos que nem os meninos de Birmingham faziam.

E por hoje é só!
Grande abraço!

domingo, 16 de setembro de 2012

The Allman Brothers Band - Brothers And Sisters


Bem vindos!

Vamos nos transportar ao sul. Não, não vamos para Porto Alegre, tchau! Iremos à Flórida, carinhosamente apelidada por Homer Simpson de “o pênis da América” (oi??). Ok, aos olhos “nus”, não parece ser um bom lugar para conhecer, porém muitas coisas boas saíram de lá, como o Pica-Pau (um pouquinho de duplo sentido vai bem) e The Allman Brothers Band. Já que este não é um blog de desenhos animados, falemos do segundo. 

Gosto sempre de citar como descobri as bandas, no entanto, não posso precisar neste caso como isto se deu, só lembro que foi em 2006. Acho que todo rock sulista se conversa, principalmente pela influência ser a mesma, jazz, country e, principalmente, blues. Antagonicamente a Lynyrd Skynyrd, que usava mais o rock e o country, o grupo dos irmãos Gregg e Duane sempre desbravou mais as fronteiras do jazz e principalmente o blues. Por abusar das firulas na guitarra, em alguns momentos, ganhou a alcunha de rock progressivo. A influência do estilo é forte, mas não é o som deles.


O álbum de hoje foi o primeiro que ouvi da banda e, para minha surpresa, não contava com o saudoso Duane Allman nas guitarras, o que não compromete em nada a qualidade. Vamos ao álbum de nossos matutos americanos favoritos!



Wasted Words é a mistura perigosa de uísque de milho com guitarra slide. A voz de Gregg diz tudo! Apesar do baque da morte de Duane, a banda não desperdiça palavras musicais para traduzir a alma. O destaque realmente são os slides. Desde o começo, usam a “Slow Hand” de Clapton duplicada em forma de aço cilíndrico. Nos minutos finais a banda esquece um pouco Jimmy Smith e duela com Dickey Betts para ver quem é mais legal, guitarra ou piano.

E o andar perdido de Dickey é o tema agora. Ramblin’ Man é a ode ao matuto americano, que nasce torto, fruto de uma vida errada e se livra da culpa pregressa, rodeando o país em busca de limpeza mental. A melodia diz muito sobre isto. Baseada no country do Tenesse, como dito na letra, Dickey conforta a alma dele com as guitarras fraseando o tempo todo dentro da escala proposta. A voz que ficou rouca e carregada, devido aos amaciantes de caráter, pede a Deus, um pouco de paz de espírito e força nas pernas, para continuar andando. O som parece crescer e ficar mais intenso a cada segundo que passa, chegando ao êxtase nos minutos finais.

Come And Go Blues mostra mais personalidade da banda nos teclados, que assume de vez o timbre de piano, mais influenciado pelo jazz, abandonando o hammond de igreja um pouco. Esta faixa, como muitas que vimos até hoje no rock catártico, tem dois momentos. O blues cromático do piano aliada a guitarra cheia de funk. O refrão parece não pertencer à música, tem acordes bem sustentados, firmes e não é nada blues. As inserções de guitarra são bem pontuais e acertadas, todas as notas são bem pensadas e não há desperdícios.

Jelly Jelly é mais uma das músicas com nome de mulheres do Allman Brother´s, porém não foi escrita por eles. Guitarras solando e se completando são muito freqüentes, órgãos e pianos não. Estranhamente Betts está irritantemente parecido com B. B. King, porém os solos têm uma personalidade forte e agressiva.


E ainda nesta agressividade vem Southbound. A guitarra está muito funkeada de novo, nem combina muito com o estilo cowboy de Betts, todos os vídeos que vi dele causam estranheza. O grande trunfo da banda é soar rock ‘n roll utilizando a maioria das bases de blues. E que recurso eles usam? Inserem grandes passagens e riffs de guitarras. Solos, solos e mais solos. A banda inteira sola. Pena que isto não existe mais.

Jessica, aaaaaaaaa Jessica!!! Como gostaria de ter conhecido seus longos cabelos negros, sua pele morena e olhos profundos (como a música é instrumental, imagine-a como quiser). Com certeza Jessica trouxe muita alegria ao andarilho Betts, ajudando-o a fazer uma melodia alegre e um dos maiores clássicos da banda. Como notar uma grande música instrumental? Você consegue cantar o fraseado dos instrumentos e ele gruda na sua cabeça e corpo. A base melódica é muito bem construída, pois é simples e contêm poucos acordes, liberando a guitarra e piano para aprofundar seus conceitos próprios. Detendo-me mais a parte das cordas, toda a elaboração das frases é feita dentro da tríade de acordes maiores, isto dá leveza para a música e a deixa muito alegre. Como southbound, há grandes riffs conectando as partes. Aos três minutos ficam evidentes estes recursos, e, para incrementar, a banda aumenta um tom e meio, regozijam-se com o solo agudo de Betts e voltam o tom apenas para fazer o grande finale. Pegue seu caderninho aí e coloque este som como um dos melhores que você ouvirá na sua vida.

Quem já assistiu aos filmes de Wim Wenders, como “Paris, Texas”, com certeza lembrar-se-á dele com o começo de Pony Boy. Sei que muitos gostam dos blues feitos pelo Zeppelin ou Clapton. Particularmente acho que ninguém vence as bandas americanas nesse quesito. Está na alma deles, no sangue, está em todo o lugar. Perceba quanto movimento e suingue na melodia e voz, além de ser totalmente mambembe, sem efeitos nos instrumentos e sem uma levada de bateria inteira. Passaria facilmente por uma música feita nos anos cinqüenta por John Lee Hooker. Já ouvi muitos slides por ai: Rory Gallagher, Lynyrd Skynyrd, Led Zeppelin, Johnny Winter etc, todavia, os que mais me apetecem são os do Allman Brothers, isto que o mestre Duane já estava em um lugar melhor (assim espero).

Resumindo, gosta de jazz, country e principalmente blues, ao bom e velho estilo americano sulista de ser? Ouça Brothers And Sisters. E TUDO que Allman Brothers produziu!

Grande abraço!
Até a próxima!

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

URIAH HEEP - WONDERWORLD - 1974

Salve Galera do Rock!

Volto à carga, desta vez falando sobre uma das minhas bandas preferidas...

Mas antes, vale comentar sobre uma teoria que tenho e que envolve as grandes bandas do rock. Vejo que a grande maioria das bandas que se consagraram no mundo do rock viveram seus anos de ouro nos primórdios de suas existências. Cito como exemplo nomes tal qual o Led Zeppelin (com seus Led I, II, III e IV). Penso em Deep Purple e logo me vem à mente o Machine Head (1972) e o Who Do We Think We Are (1973). O Black Sabbath se reinventou com o Dio na década de 1980; porém não há como negar que o período entre 1970 e 1976 foi o mais produtivo da banda. Nesta mesma linha temos o AC/DC, que teve dois grandes momentos gloriosos; os anos dourados antes e durante Highway To Hell, com o saudoso Bon Scott, e posteriormente os monumentais Back In Black, For Those About To Rock e Ballbreaker, com o bonachão Brian Jonhson.

E seguindo este caminho, introduzo aqui a banda da qual quero falar hoje: URIAH HEEP.

Estou falando de uma banda formada em Londres no ano de 1969 e que foi uma das pioneiras na fusão do hard rock com elementos do rock progressivo e do heavy metal. A sonoridade do Uriah Heep é inconfundível, principalmente a fase dos primeiros discos, na qual podemos destacar os teclados magistrais de Ken Hensley, a guitarra insana de Mick Box e os vocais fenomenais de David Byron. A cozinha da banda também era das melhores da época, contando com o baterista Lee Kerslake e o grande baixista Gary Thain. Aqui cabe um breve aparte, pois a formação que citei sofreu algumas alterações no decorrer dos anos; todavia, na minha opinião, esta é mais clássica de todas as formações da banda e que produziu os melhores álbuns (entre os anos de 1972 e 1974).

Pois bem! E é deste período dourado que saco o álbum objeto de minha resenha, qual seja, WONDERWORLD.




Este trabalho do Uriah Heep (é o sétimo álbum lançado) não é o mais badalado e comentado. Mas é para mim um dos mais especiais em termos de sonoridade e originalidade. É algo na linha da abordagem que fiz em meu post anterior, quando falei do álbum Time And A Word do Yes, o qual tem um estilo bem diferente dentro da linha musical que o Yes desenvolveu ao longo da carreira. E com o Wonderworld eu creio que o Uriah Heep pode experimentar várias abordagens diferentes dentro do rock, dando enfase muito forte (como de costume) aos arranjos vocais, os quais são a linha mestra do disco, tornando o mesmo um trabalho a ser analisado com riqueza de detalhes.

A canção que dá nome ao disco - Wonderworld - é aquela que o abre de forma maravilhosa. Um riff de guitarra desconcertante acompanhado por uma levada de teclados alucinante, a qual dá lugar à suavidade, clareza e limpidez do som do piano e dos acordes vocais do mestre Byron (para mim um dos maiores cantores do rock). E assim a música vai alternando momentos fortes e suaves ao longo de seus quatro minutos e meio de pura viagem.

Na sequência vem Suicidal Man, uma das canções mais fortes do disco. Novamente a música começa com riffs fortíssimos da guitarra de Mick Box. Esta canção, diferentemente da primeira, tem uma levada forte do começo ao fim. Uma delícia de música. Uma das que eu mais gosto de ouvir.

The Shadows And The Wind é desconcertante. Começa muito suave, com uma batida quase inaudível, o som do Hammond baixo e muito lento. Byron mais uma vez entra devagar com seu vocal límpido e quase que recita os versos iniciais desta bela canção. Após este primeiro minuto de suavidade a música ganha contornos mais fortes embalados por acordes fortes da guitarra e por um baixo extremamente marcante, bem como o vocal engrossado de David Byron. Mas fica para a parte final o que há de melhor; um arranjo vocal de tirar o fôlego, o qual em determinado momento toma conta da música totalmente, substituindo de forma maravilhosa todos os instrumentos. Escute esta canção e se não gostar, por favor, procure um médico (clínico ou da alma), pois você não está bem.

So Tired é mais leve e descontraída, mais alegre, quebrando um pouco a seriedade das músicas iniciais. Nesta música o ouvinte poderá pular, cantar e enlouquecer. Mais uma música deliciosa.

The Easy Road é a canção romântica do disco. Lindíssima. Letra e melodia da maior qualidade. A canção fecha o lado A do vinil de forma deslumbrante, fazendo com que você queira virar o disco mais do que depressa e ver o que o espera do outro lado... HA HA HA... Desculpe se você não é do tempo do vinil... Mas para mim, era exatamente isto o que acontecia toda vez que eu ouvia um disco bom pela primeira vez.


E começa o lado B com Something Or Nothing; outra canção com uma pegada mais hard e que sugere mais descontração. E na sequência vem I Won't Mind, com uma levada mais cadenciada comandada pelo baixo e pela bateria; mas logo vem à tona a guitarra repleta de distorções do pedal wah wah, muito bem performadas por Mick Box; esta canção é climática e viajante, mas não menos forte, pesada e encorpada.

We Got We é a mais pura expressão do trabalho do Uriah Heep. Música emblemática e com uma melodia muito bacana. Mais uma vez a guitarra divide a atenção com o forte baixo de Gary Thain; e mais uma vez os arranjos vocais encorpam a canção, criando uma atmosfera sensacional.

Chegamos por fim ao epílogo deste maravilhoso disco com a canção Dreams, a mais comprida e enigmática do álbum. Esta é mais uma das canções climáticas do Uriah Heep, envolvente e sugerindo mistérios. Mas é também uma canção que sugere tristeza e angústia, comanda pelo som dos teclados de Hensley e pela brilhante interpretação de David Byron. E o final nos trás uma sensação de algo desesperador. Definitivamente é uma canção muito forte.

Espero, sinceramente, que este meu texto cause nos leitores a vontade de ouvir o Wonderworld na íntegra. Como disse no começo, este não é o mais badalado dos trabalhos do Uriah Heep; porém, acredito que seja um excelente álbum, repleto de sons bacanas e inusitados.

É isso!

Forte abraxxx e até o próximo post!.

Betão.

domingo, 9 de setembro de 2012

Days Of The New - Days Of The New II (Green)


Bem vindos!

Caros amigos, não posso dizer que o post de hoje é necessariamente sobre uma banda de rock, no entanto, não pode ser outra coisa.  

O ano é 2007, eu era vendedor de calçados, vulgo tênis, e em meio a tantas trilhas sonoras odiáveis que fui submetido no ambiente da loja, eis que me deparei com algo novo para meus ouvidos. Alguém gravou um cd de Best hits, que contava com a faixa Shelf In The Room. Lembro-me de ter ficado alucinado com o que ouvi e sempre torcia para que o cd fosse tocado. Até que consegui a lista das músicas que me propiciou conhecer melhor a banda. Falemos um pouco dela.


Nascida no descenso, ou, no começo do fim do movimento Grunge. Kurt Cobain estava morto, o Soundgarden anunciava seu fim e Alice In Chains lançava um ótimo acústico, mas com Layne fragilizado. Eis que Travis Meeks, acredito eu, embebido por este ótimo trabalho do Alice e por todos os outros grandes acústicos anteriores, resolveu praticar esta sonoridade sem o rótulo “Unpplugged”. Três álbuns foram lançados, sem título, lembrados apenas pelas cores, Orange, Green e Red. O primeiro foi o único com certo prestígio comercial, o restante não goza de tal virtude. E quem liga para vendas? São exatamente os dois últimos discos que me fizeram ser fã da banda, pois tem muita originalidade. O primeiro parece influenciado demais pelo acústico supracitado e não é tão original. Hoje disserto sobre o que mais me marcou. Partamos!



Os cavaleiros do Apocalipse? Talvez. Um slide em ponta de lança. E a voz de Travis, muito influenciada pelos mestres do grunge e Jim Morrison, mas com personalidade própria.  Violões em ritmo frenético. Esta é Flight Response, música em duas etapas, a porrada acústica, que percorre a campina e a suavidade maciça. No disco inteiro se notará dois violões se completando. Vocais femininos suavizam ainda mais, no entanto, suscito-me à fúria. As cordas estão apertadas e os dedilhados têm raiva, aliados a fanfarra dos instrumentos de sopro. Na transição da primeira para a segunda notamos que o álbum pretende ser um só.

Mais violões, você não ouvirá guitarras, esqueça! The Real, na real, começa mais “moderninha”, provavelmente querendo ser irreal. O forte desta música são os ligados à deriva, que influenciam de certo modo as bases melódicas. O refrão é muito intenso, é o grande trunfo, principalmente por aliar as vozes de Travis e Nicole Scherzinger (busquem conhecimento e divirtam-se). Até o momento não sentimos aquele cheiro de grunge, como no álbum antecessor.  Ao final outra transição, com um ótimo instrumental.

Enemy exigiu despir-me dos preconceitos. Sinceramente odeio baterias eletrônicas do fundo da minha alma, porém não posso desprezar o restante da melodia, marcada por uma batida de violão bem mecanizada, perambulando por alguns acordes. O abuso dos sintetizadores é extremo, lembrando até Kraftwerk. O minuto final é soberbo! Tanto base, como solo tiram a concentração. Só eles já valem a música. Acho muito válido o experimentalismo de Travis, que não o faz de forma leviana. Outra transição.

Weapon & The Wound é uma das melhores do disco, com certeza. Os arranjos orquestrados, muito difíceis de acontecer atualmente, pautam a música, dando as caras logo de começo. Novamente os violões são um show à parte, trocando do blues, para elementos de música moderna, principalmente nas partes abafadas. Violoncelos, violinos e clarinetes em um disco de “rock” são para poucos (se é que podemos dizer rock). A voz de Travis parece completar a música de alguma forma, além do trivial. Coloco esta como mais uma das grandes obras de arte da música.



Sem a intersecção das melodias acústicas, Skeleton Key traz um pouco de misticismo ao álbum, e, de certa maneira, um descanso aos dedos de Travis. Só xilofones e sintetizadores. Parece até trilha sonora de algum filme B da “Sessão da Tarde”. Mas por favor, novamente não assassine o disco e a pule, escute até o fim, tudo tem um contexto, por mais estranho que possa ser.

Voltamos ao normal. Take Me Back Then adiciona o country com banjo, só ele estava faltando. Notem a sensibilidade de Travis em aliar elementos de orquestra aos arranjos. Com certeza aproveitou a idéia de No Quarter de Jimmy Page e Robert Plant. O trabalho de cordas do álbum é de impressionar, por exemplo, quando ouvimos o violão rivalizando com o banjo, além de haver muita criatividade em todas as bases executadas. O assunto é o de sempre, drogas, sempre elas! Nicole Scherzinger fica com a incumbência de fazer a transição.

Traga você mesmo e deleite-se com a introdução de Bring Yourself. Vocais asiáticos, base uníssona e uma ótima progressão. Ao contrário das últimas, a orquestra não veio, por isto é uma das mais “pesadas”. A base calcada no dedilhado das mesmas notas no violão, alternando as tônicas dá uma impressão de ascendência. O refrão é mais um daqueles que te faz balançar a cabeça inconscientemente. É diferente de uma música comum com três partes em média, possuindo várias, contando até com um pouco de moda de viola caipira. Travis soa demasiadamente parecido com Jim Morrison quando entoa “Bring Yourself”. Coloque-a no mesmo saco de Weapon & The Wound. A transição agora é feita com bateria eletrônica.

I Think tem a fúria contida do grunge e nos presenteia com um pouco de distorção, não muita, mas já é alguma coisa. O som é tão grave, que sentimos as cordas afrouxadas, por isto é a mais pesada do álbum, já que alia boa parte dos elementos do metal, principalmente na gravidade, gritaria, acordes oitavados e barulho! Essa não tem transição, talvez porque todo pensamento acabe uma hora.

Longfellow lembra vagamente alguma música dos seriados da TV Cultura, tipo Castelo Rá-Tim-Bum. Tenho que admitir que a sonoridade dos sintetizadores é de gosto duvidoso, porém adoro a inserção destas batidas tipo oriente médio. A próxima faixa não tem título e é mais um momento de transição, alicerçado em The Wall do Pink Floyd, talvez.

A partir de Phobics Of Tragedy começamos a notar que as bases de todo o disco são muito parecidas, como uma pangeia melódica, apesar disto, cada faixa tem sua personalidade, proporcionando-nos sensações diferentes. Not The Same explicita ainda mais isso, com mais arranjos orquestrais, riff’s graves e voz rouca. Mais uma faixa que pronuncia a temática grunge, quando Travis implora para não ser odiado, pois já não é o mesmo. A melodia é coberta de notas melancólicas, todavia, nos minutos finais, a mudança de caráter do interlocutor gera frutos melhores e o entusiasmo toma conta. A transição agora ocorre de forma diferente.

Provider começa com esta enérgica felicidade, conecta-se a Not The Same, mostrando que Travis pode ressurgir de seu casulo incólume de tristeza. É um novo jeito de fazer música, apesar das muitas influências perceptíveis, como Folk e Blues. Usar cordas soltas em afinação aberta, cheia de notas ligadas e slides com a adição de uma regência orquestral deu riqueza a toda sonoridade do disco. Os minutos finais da faixa provam. Perceba como as linhas objetivas dos instrumentos de sopro maximizam o conjunto da obra. E a transição agora é feita por mais um devaneio oriental de Travis.

Last One já disse, é a última. Podemos sentir com ela o que é a depressão do nada, pois não há tristeza nem rancor, só nada e nada. O jeito lento de tocar o violão e a suavidade nos vocais dobrados e vazios nos diz nada. Ao final de cada refrão um acorde com distorção faz o papel do tapa que te tira deste pesadelo do vazio.  

Caros leitores este disco traz uma proposta diversa de se fazer rock e música em geral. Talvez para ouvidos destreinados e reacionários as músicas soem chatas. Quem gosta de um bom som de violão, vocais excelentes e diversidade instrumental, este é definitivamente o disco a ser ouvido. Em tempo, escutem o terceiro disco Red, é tão bom quanto.

Até mais!
Grande Abraço!

domingo, 2 de setembro de 2012

YES - TIME AND A WORD - 1970




Fui até um armário onde estão armazenados entre outros pertences, um lote de pouco mais de 200 vinis que guardo com muito carinho e que, por questões momentâneas, não estão sendo ouvidos. De lá saquei um dos preciosos discos, um dos meus preferidos. Admirei sua capa. Em seguida vim até o computador e coloquei para tocar a versão que tenho em MP3.

É isso ai, Galera do Rock. Depois de um longo período sem escrever, volto ao ROCK CATÁRTICO para falar sobre um dos mais importantes grupos da música mundial, qual seja, os britânicos do Yes. E como o objetivo aqui é fazer resenhas de discos, escolhi o álbum Time And A Word, o qual é em minha opinião um dos mais belos trabalhos que este grupo musical já realizou.

Trata-se do segundo álbum gravado pelo Yes, que nesta época contava com o vocal marcante de Jon Anderson, o fortíssimo e bem pronunciado baixo de Chris Squire, os teclados sob a "responsa" de Tony Kaye, a batera de Bill Brufford e nas guitarras (pela última vez junto com o Yes) o bom músico Peter Banks.

A sonoridade deste álbum é extremamente distinta de todos os outros trabalhos do Yes. Há canções lindíssimas e extremamente sofisticadas; algumas contaram com sons orquestrais maravilhosos e algumas das faixas tem momentos marcantes muito próximos do jazz rock.





A belíssima introdução sinfônica de "No Opportunity Necessary, No Experience Needed" abre o álbum de forma espetacular. E dai para a frente, música após música, o ouvinte experimenta todos os tipos de sonoridade. Músicas ora mais cadenciadas, ora mais puxadas para o jazz fusion. Para você que espera um som progressivo tal qual o álbum Relayer, esqueça. O que encontrará ao ouvir todas as canções, como disse no início, é algo de sonoridade muito ímpar.

Instrumentalmente falando, o que salta aos ouvidos, notoriamente, é o som forte do baixo. Costumo me referir a este álbum como "tributo ao baixo". Chris Squire foi tocado pelos Deuses neste disco. Logicamente que todos os outros estavam fenomenais, incluindo Jon Anderson, o qual canta de forma mais sóbria neste trabalho.

O álbum inteiro é excelente, mas vou destacar aqui as minha músicas preferidas:

"Then" 
"Everydays" 
"The Prophet"
"Astral Traveller"

Se fosse um mini álbum só com estas canções, para mim já estaria valendo.

Procure o álbum inteiro no Youtube e o ouça na íntegra. Eu garanto que você não vai se arrepender.

Até a próxima.

Saudações rockeiras.

Betão

Pink Floyd - Atom Heart Mother


Bem vindos!

Estou em débito com os amantes do rock old school. Ultimamente tenho falado só sobre bandas mais novas, os puristas vão me odiar, os anti velhices devem estar gostando. Vamos falar sobre clássico.

A banda, foco dos estudos de hoje, é consagrada e muito conhecida. A história do Rock psicodélico e a criação dela se confundem. A meu ver a doideira dos contemporâneos da era de peixes, preconizadores da era de aquário, já fazia parte do inconsciente coletivo da época. O modelo de vida hippie foi fruto de uma geração em guerra que queria o “agora” maximizando os prazeres da carne. O ácido propiciou um pouco disto, principalmente no que se refere à música. Pink Floyd foi o grande “usuário”.


Syd Barrett era um dos vórtices centrais da psicodelia, John, Paul e os Jimes foram os outros. Colocou zunidos, elementos abstratos, cubismo e surrealismo em conformidade. Endoidou e virou florista. Seus amiguinhos de Cambridge mantiveram a lojinha aberta, transformando-a num hipermercado. Falarei aqui sobre a primeira “reforma” nela. Já tinha piso e a parede não estava mais no tijolo. Mais uma grande obra apresentada pelo Alberto. Ei-la:



Tudo dentro da normalidade até agora, com um único tom. Atom Heart Mother, a primeira e que dá nome ao disco, está dividida em seis partes: Father's Shout, Breast Milky, Mother Fore, Funky Dung, Mind Your Throats Please e Remergence. São várias músicas dentro de uma, mas gosto de pensá-la como uma só, mesmo tendo delimitações. Logo no começo a apoteose e magnificência mostram aonde o disco quer chegar, distorcendo sons de orquestra em meio a cavalos, tiros e explosões, elementos freqüentes da época. Gilmour destila sua guitarra de colo repetindo linhas melódicas, encerradas abruptamente pelo piano de Wright que repete três acordes e só os troca no que parece um refrão. Se o solo vocálico de The Great Gig In The Sky é de arrepiar, nesta música as vozes te tirarão o sono, abençoam e maldizem. De novo Wright transforma tudo, fazendo dois acordes “alegres”, liberando novamente Gilmour para correr em sua guitarra pelos campos verdes da capa do disco, é a liberdade que faltava. Acabado o ar, as vozes reprimidas anteriormente retornam, fazendo uma espécie de exercício fonoaudiólogo, dando passagem ao tema principal novamente. Em um momento, a saudade de todos por Syd Barrett volta, coroado pelo já famoso desencontro instrumental (que Zappa adorava). E desta ebulição de notas fora da escala, todas as facetas da música se encontram novamente em um único minuto. Ao final temos todos juntos, Waters, Gilmour, Wright, Manson  e o coral de John Alldis, concluindo a jornada homérica. Esta música é para se ouvir em silêncio, divagando sobre sua existência, quem sabe você acha uma resposta.

If é o questionamento que propus na etapa inicial, escrita pelo revoltado Roger Waters, que sempre tinha algo a dizer. A voz deixa tudo meio insosso, com uma melodia que acompanha essa falta de sal. Creio que a vontade de Waters era realmente gerar apatia. A guitarra retoca com suavidade essa falta de temperos e aromas, lembrando até o jeito de Brian May.

E aqui minha favorita. Com certeza Summer ’68 foi a obra prima de Richard Wright, quem é fã de The Great Gig In The Sky me perdoe. É sensibilidade pura em forma de notas, tanto no piano como na voz dele. Já dissertei muito aqui no blog, sobre músicas que me proporcionam calmaria. Coloque está em primeiro lugar! O tecladista mostra que é diferente de seus contemporâneos, que possuíam fúria em seus dedos, ele não, sendo dono de suavidade suprema. Pena Roger Waters ter monopolizado a força criativa do grupo, principalmente tolhendo Wright. Agora ele se foi para o outro plano, infelizmente.



Fat Old Sun é a calmaria proposta pela Fender Stratocaster de Gilmour. Diferentemente de If, a falta de aromas da melodia é compensada com a bela voz do guitarrista, que arranja tempo para versar um belo solo, mostrando que seu estilo de tocar já estava mais que definido à época.

Lembram da psicodelia que falei no começo? Ela tem nome, Alan’s Psychedelic Breakfast. É a personificação do cidadão comum londrino, meio parecido com o do resto do mundo, que acorda e arrasta suas chinelas pela casa, fazendo tudo mecanicamente, seguindo o ritmo de um metrônomo em forma de torneira pingando. Alan “acorda” para a vida, frita o ovo com bacon para se sentir humano, mas ao mesmo tempo come os cereais que não nutrem, que chegaram prontos a ele e não demandaram esforço. Ele chafurda em sua insignificância. A banda então traduz esta inércia que Alan se encontra, em forma de música, contrapondo o “alegre” e o “triste” que ele vive diariamente. Rise and Shine é o começo do dia, com o sol ferindo a vista cansada dos olhos que ainda não se acostumaram com a luz. Sunny Side Up é o meio do dia, em que as almas se calam, e como disse anteriormente, chafurdamos em nós mesmos. Morning Glory é o fim do dia, quando oramos para que o amanhã nos traga algo de novo. Tecnicamente, caros leitores, não há o que falar da faixa. Como fiz acima, escute e divague muito em cima das três melodias propostas pela banda.

Ao contrário de The Wall e Wish You Were Here, este disco não tem temática principal, não tem contestação explícita, nem nada. São os integrantes da banda dividindo atenções, mostrando unidade na sonoridade que queriam fazer e enlouquecendo sem freio. Além de ser pré ditadura de Waters, permitindo a criatividade de todos os membros. Meu preferido do Floyd, sem sombra de dúvidas.

Até mais!
Grande Abraço!

domingo, 19 de agosto de 2012

Stone Temple Pilots - Tiny Music... Songs From The Vatican Gift Shop


Bem vindos!

Colegas, estou devendo mais posts, certo? Pode ser! Retomo a temática grunge, com uma banda que não o é necessariamente. Flertou com o alternativo, lembrou Zeppelin e coverizou Eddie Vedder, se assim podemos dizer!



Bem longe, mas beeeeeeeeeem longe de Washington, berço de bandas como Nirvana e Soundgarden, quatro sulistas do pacífico, viviam o rock maravilhoso da época. Lançam “Core” e “Purple” respectivamente, quase fazendo releituras de clássicos pregressos. Eis que em 1996 a banda resolve mudar um pouco a guitarra e Scott Weiland se transforma, como um camaleão.


A banda adentrou de cabeça no rock alternativo e se livrou em partes das amarras da paixão do Grunge, o que foi muito bom, pois estes músicos têm um entendimento mais profundo e transcendental do que é música.

Vamo-nos ao disco!


Press Play, como muitas bandas gostam é o epílogo! Tem mormaço e brisa! A levada carregada na bateria é Jazz fusion total. Os harmônicos da guitarra nos acalmam um pouco, juntamente com o teclado que acompanha. É camarão com um molhinho de maionese, só para abrir o apetite.

Pop’s Love Suicide começa a brincar de rock e nos traz o primeiro de muitos riff’s. Não consigo não pensar em rock alternativo quando a escuto, remetendo-me a Garbage. A guitarra de Dean De Leo fala bastante, tem dois timbres diferentes, um de distorção suja e o outro um típico efeito que casa com os modelos Les Paul da Gibson. Ótimo solo explorando estes efeitos. Notem também a voz de Scott, bem diferente dos dois últimos trabalhos. Abandonou o timbre mais grave que levou as comparações com Eddie Vedder, para uma voz mais rouca e estridente. É outra banda!


Outro efeito de guitarra. Mal compreendemos as notas que abrem Tumble In The Rough, eis que a guitarra fica séria de novo. Notas e melodia simples. Rock curto e grosso, a la Kinks. No recheio da música alguns bons riff’s de passagem são disferidos. Gosto muito da guitarra deste álbum, apresentando simplicidade. Vejamos outro exemplo!

Big Bang Baby é música pura!!! A guitarra parece um carro que engata a primeira, e quando vai mudar engata a ré e volta derrapando. Ótimo exemplo de guitarra bem tocada, sem fritar ovo. Um tempo torto encapa guitarra e bateria. Muitos bicordes. O refrão meio pop e viajado incrementa mais esse pedaço de Rock. Scott dá ótimos bends vocálicos, e sacramenta de vez o estilo adotado por ele neste disco. E guitarra. Só penso em guitarra quando a escuto!

O início de Lady Picture Show remete-me novamente aos britânicos do Zeppelin, porém, somente nas linhas instrumentais. Principalmente no solo de guitarra, bem blues, duplicado, cheio de efeitos, acompanhado pela bateria carregada. Lembra Your Time Is Gona Come. Imagino Plant observando aos fundos, com orgulho!

E com acordes de bossa nova, mas não neste ritmo, And So I Know pauta-se. Nesta canção Scott modula novamente seu timbre vocal, em alguns momentos lembra o estilo de Layne Staley do Alice in Chains. Notem como o STP é uma banda versátil, em um mesmo álbum, vários estilos e modalidades são abordadas. A calmaria desta faixa é totalmente distinta do praticado pelos discos pregressos. Bom jeito de se reinventar! Cabe ainda um ótimo solo de guitarra, bem jazz!

Chega de calmaria, Trippin’ On A Hole In A Paper Heart chacoalha-nos e faz lembrar que estamos em um disco de rock. Mais bicordes, mais rock e guitarra suja. A este momento você já está pensando por que ninguém cita Dean DeLeo como um guitarrista relevante a música. Nem conhecemos este nome direito. O solo é bem sujo, precisamos depois de álcool para esterilizar, se é que você me entende?

Art School Girl tem uma letra bem estranha e até engraçada, sobre um namoro com uma estudante de arte. Se namorar uma estudante de arte for tão divertido quanto ouvir esta peça de rock inconseqüente, não quero mais nada na vida. Tem muito peso e controvérsia, tudo junto!

Adhesive é calma como And So I Know, utilizando-se de acordes no violão, nem um pouco ortodoxos. O acorde tocado no começo da faixa é muito bem encaixado e aparece em momentos pontuais. O baixo de Robert DeLeo lembra o de Chris Squier, forte. Novamente Scott muda, e utiliza-se de duas vozes, uma mais calma, e uma que parece não ter ar para gritar, além dos vocais ao fundo que lembram Yes também. E na metade, um pouco de Miles Davis, mas bem tímido. Faz umas notinhas no fim também. Música linda!

Ride The Cliche tem um riff sensacional de guitarra, que dá a impressão de várias guitarras tocando juntas. O baixo ajuda neste sentido, mas, novamente, é só Dean DeLeo. Passeia por todos os estilos de se tocar solos de guitarra também. Aperta a mão de Jimmy Page, cumprimenta Jeff Beck e quiçá da uma piscadela para Hendrix?   

E agora o flerte é com Gilmour e suas Lap Guitars, acompanhado por violão que toca em roda na fogueira à beira mar: Daisy. Um amontoado de notas em repetição, repetição e repetição. Parece música de surfista, mas não no tom pejorativo da coisa!

Sei que não é a mesma coisa, no entanto Seven Caged Tigers começa muito Soundgarden, remetendo-me diretamente à Fell On Black Days, faixa na qual dissertei anteriormente. Menos obscura mais alegre e meio grunge, como STP sempre foi. A banda modula entre o deprê e o “alegrinho”. É a última que sacramenta a influência Pagiana nas guitarras. Escute o solo e confirme. O fade-out é ao extremo.

Em suma, este é um álbum deveras radiofônico, músicas curtinhas e palatáveis, todavia parece uma bomba atômica, pois esconde riff’s atemporais. Quando tocado por inteiro, parece explodir. Dean DeLeo conseguiu maximizar sua letalidade na guitarra em poucos minutos. Se tivesse a liberdade dos músicos setentistas para viajar no instrumento, provavelmente teria criado hinos como Starway To Heaven e similares.

E se Soundgarden foi uma das oitavas do Black Sabbath, com certeza Stone Temple Pilots foi uma das oitavas de Led Zeppelin. Escutem o cover deles para Dancing Days.

E por hoje é só!
Grande abraço!

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Deep Purple - The Book Of Taliesyn


Bem vindos!

Caros amigos, não sei se é de conhecimento popular, mas dia 16 de julho a música perdeu um de seus maiores representantes. Jon Lord, o poeta lírico dos teclados, perdeu a batalha contra o câncer no pâncreas, maldita doença que nos tirou Ronnie James Dio em 2010. A proposta agora é falar do disco que me apresentou Jon Lord, e que para mim é o que ele está mais atuante e versátil. Tenho certo apresso por este registro, pois foi a primeira coisa que ouvi da banda, sem contar smoke on the water.



The Book of Taliesyn é o segundo álbum da banda, não tem Ian Gillan, nem Roger Glover, mas tem o mago (não o do palmeiras) Blackmore e o geminiano Jon Lord. Duas feras, nervosas, duas forças abscissas e mortais. Blackmore não usava sua tradicional fender stratocaster, por tanto, seus solos são jazz, mesmo assim pesados para os padrões. Jon Lord, bom, como sempre, dispensa comentários. Vejamos!



Listen, Learn, Read On é simplória, parece um prólogo, convidando-o ao deleite do experimentalismo dos jovens britânicos. Estranhamente Nick Simper, o dono do baixo, faz linhas muito interessantes enquanto Rod Evans cantarola versos. Blackmore faz um solo barulhento.



Wring That Neck é a mais purple, tocada muitos anos depois ainda pela banda. É jazz, blues e a coisa toda. O riff inicial dobrado por Lord e Blackmore é divino, coisa de gênio. O tecladista inicia o virtuosismo, inspirado nas viagens do jazzista Jimmy Smith, solando na penta blues em dois tons. Blackmore entorta a guitarra, tira as notas do lugar, vejo até os trastes andando no braço da guitarra, principalmente na parte final, em que toca espaçado, todas fora de escala. Procurem as versões de trinta minutos desta música, tocadas no festival de Mountreaux e divirtam-se.   

Kentucky Woman é um cover de Neil Diamond, mais uma estilo blues. Nunca ouvi a versão original, e nem quero ouvir. Bem anos sessenta. Duas linhas de teclado dão este ar. O solo de guitarra de Blackmore novamente mostra o quão ele era diferenciado, inserindo elementos novos e fugindo do lugar comum dos guitarristas blues rock da época. Aos dois minutos e dezesseis, escute com atenção. Dá para não gostar de Jon Lord? O cara mistura as escalas menores harmônica da música clássica com rock e blues e faz tudo em tom sublime. Pela primeira vez ouvimos o que será o estilo lordiano daqui para frente.  E continua...

Exposition / We Can Work It Out é a próxima demonstração de música clássica da duplinha infernal. E mais Beethoven e acepipes. Tudo regado aos tambores de 2001: Uma Odisséia no Espaço de Ian Paice. O começo lembra tangos e tragédias. De novo Jon Lord, sempre ele! E mais um cover, agora dos Beatles. Também prefiro a versão do Purple, mas não me matem. Acho que a banda deu raiva a ela, principalmente pelos solos de Blackmore e Lord. Veja como este bate no teclado perto do fim da música.

The Shield é a deslocada. Jon Lord utiliza-se de três linhas de teclado, apostando mais no piano limpo. Outra música em que é o destaque. Há certo tom de tristeza em suas linhas melódicas, não vemos raiva. Blackmore dobra suas linhas de guitarra, recurso muito utilizado posteriormente. Aos dois minutos e meio, reparem o que Lord faz, bate em seu hammond de um jeito que lembra bongôs e percussão. O solo de Blackmore está na lista dos meus preferidos, é a primeira vez que utiliza a alavanca. O final é ritualístico. Que bela música. Deep Purple já era fantástico em 1968, sem Gillan e Glover.

Os primeiros acordes de Anthem parecem linhas de aula via k7. Mesmo assim, acho a escolha deles muito interessante, mesmo sendo relativamente simples. Rod Evans canta de um jeito que nos remete ao Elvis. A parte interessante acontece na metade, quando Lord e Blackmore põem todo seu lado orquestral para fora, abusam de Bach, Beethoven e agregados e ainda por cima colocam violinos. Isto estava em suas almas e provavelmente morreu junto à de Jon Lord. Repito, Deep Purple foi a única banda que colocou música clássica no Rock sem ser chato. Escutem esta canção novamente e comprovem!

2001: Uma Odisséia no Espaço de novo! Talvez tanta referência, deve-se ao fato do filme ser do mesmo ano do disco. River Deep – Mountain High é mais um momento lordiano. Cheio de soberba. Foge ao estilo Deep Purple de fazer música, porém mostra uma banda cheia de criatividade e personalidade, ao misturar o tema de um filme com um clássico que ficou famoso com Ike & Tina.

Eles estavam muito crus ainda, admito, todavia, fascina-me a presença vibrante e diferenciada de Lord em todas as faixas, fazendo coisas incomuns. Não é à toa, que Rick Wakeman, o segundo melhor tecladista de rock da história em minha opinião, segredou em recente entrevista sua grande admiração por ele.



E aqui fica minha homenagem ao mestre do Purple e do Rock mundial! Descanse em paz, Jon Lord.

Grande Abraço!

domingo, 22 de julho de 2012

Frank Zappa - Apostrophe (')


Bem vindos!

E por fim, Apostrophe (‘)!



1974, Zappa já experimentara muitas coisas musicalmente, satirizou o movimento hippie em “Freak Out!”, exauriu os músicos em “Uncle Meat”, flertou com o comercial em “Hot Rats”, reinventou o jazz em “Grand Wazoo” e “Waka-Jawaka”, e, finalmente fez os seus mais aclamados pela crítica: “Over-nite Sensation” e “Apostrophe (‘)”.



Os estilos dos dois últimos são idênticos, todavia, “Apostrophe (‘)” é meu favorito depois de “Roxy & Elsewhere”. Frank abandona de vez The Mothers e vira “ele mesmo”.  As letras são as mais duras e loucas que já vi na música, além de um censo de humor anacrônico, pronto para ferir qualquer moral cristã. É uma ótima aula de como se fazer sátira. Alguns humoristas da atualidade poderiam aprender com ele.



O vento norte, proveniente da Tundra zappística, sopra. Don´t Eat The Yellow Snow é o começo de um discurso imortal, “Cuidado por onde os huskies passam/E não vá comer aquela neve amarela”. O tema é simples, quatro notas diferentes que vão e voltam muitas vozes são escutadas ao fundo. Frank insere notas cantadas, como no jazz, “Bop-bop ta-da-da bop-bop Ta-da-da”. Ok, não entendemos nada!

Nanook Rubs It continua a Transiberiana, se assim podemos chamá-la. A partir deste momento identificamos a tentativa de Frank em montar uma ópera rock, ao estilo dos álbuns feitos na época, narrando uma luta com um caçador de peles de bebês foca. Esta é mais uma das típicas músicas R&B de Frank, muito suingue em sua voz, ritmo nos teclados de George Duke e a introdução dos vocais das Ikettes, famoso trio de vozes de Ike & Tina. Aos três minutos, uma ótima virada, com os famosos instrumentos de sopro da banda.




St. Alfonzo’s Pancake Breakfast continua a toada de álbum conceito, porém ao estilo Zappa, não há muito sentido, nem é para ter. Ruth Underwood finalmente aparece com seu xilofone, e começa bem. Na metade da faixa, o momento mais Zappa até o momento, xilfone e teclado se abraçam, ritmados pela bateria de Ralph Humphrey. Father O’Blivion é a continuação rápida da última. Aqui se nota a crítica aberta e hermética à Igreja católica, o que Frank fez a vida inteira, misturando sexo e cultura celta, que miscelânea. Os riffs de guitarra são limpos e rápidos e a bateria muito forte. E o R&B continua...

O disco conceito termina em Cosmik Debris que é a mais engraçada. Minha imaginação vê Zappa vestido de guru charlatão indiano, em uma clara sátira a estes. A melodia é um blues puro e seco, sem firulas, com um ótimo solo de guitarra. Destaque para as Ikettes e Tina Turner, que dividem os vocais com Frank. Aliás, somente um músico do gabarito dele, para envolver vocalistas desta magnitude em seus projetos.

Excentrifugal Forz prova que estamos diante de um disco novo, ou pelo menos diferente. Serve apenas como ritual de passagem para a próxima. A introdução é magnífica, escutamos a guitarra-violão acompanhada de um violino baixinho. E muitos solos errados de guitarra. A voz de Zappa morre abruptamente.

Apostrophe é um pouco diferente da essência de Zappa. Parece uma Jam Session natural dos anos 70, quando os músicos tinham o hábito de se encontrar após os shows, para barbarizar seus instrumentos, em pequenos bares. Os solos cheios de graves de Zappa e Jack Bruce (isso mesmo, o grande baixista do Cream) formam um caldo de cana americano escocês.

Uncle Remus escrita em parceria com George Duke é mais uma crítica aos americanos abastados de Beverly Hills, usando como referência as histórias de temática social do Tio Remus (busquem conhecimento). Duke faz ótimos acordes no piano, que se interpelam as letras. Frank prova como estava em constante contato com as tonalidades da música negra dos Estados Unidos, tanto nos vocais das já supracitadas Ikettes e Tina Turner, como nos solos de guitarra, meio tortos, é verdade, mas com muito efeito.

Stink-Foot é faixa mais interessante do disco, primeiro por tratar-se de um blues com ritmo à moda antiga, com uma letra hilária e escatológica, em que Zappa descreve um pé fedorento e um diálogo existencial com seu cachorro. É a prova cabal da prolixidade do autor durante todo o disco, embebida pelos marcantes ritmos afro-americanos.

Paradoxalmente a todos seus trabalhos pregressos, notamos a força da guitarra em todas as músicas, que sola na penta blues na maioria dos casos. Os instrumentos que não pertencem essencialmente ao Rock, como o xilofone e naipe de metais, aparecem somente em momentos muito pontuais, dando certa normalidade a toda obra, o que mostra uma autocrítica musical de Frank, transferindo o falatório usual de seus instrumentos, para as longas e ininteligíveis letras. Por fim, notamos sua genialidade, quando apaziguou a virtuose de “Grand Wazoo” e a transformou em crítica, provando que para entender Zappa, só conhecer música não é o suficiente, é necessário descobrir a arte em todos os sentidos.  

Encerramos Zappa!
Grande abraço!