sábado, 30 de junho de 2012

Mastodon - Crack The Skye

Bem vindos!

Após um hiato de alguns dias, volto a escrever e delirar. Vamos pesar um pouco esse som e sair um pouco do monumental, porém tudo ao meu estilo. Falarei sobre mais uma banda da nova geração que merece muitas atenções. O mastodonte se aproxima com suas presas de marfim e derruba tudo. Isto resume toda a sonoridade da banda. Arrasadora e mortífera, no entanto, o álbum em questã é mais viajado, mais progressivo, mais instrumental, mais e mais.



A banda, oriunda de Atlanta, Geórgia, nasceu no começo dos anos 2000, com um line up de quatro músicos talentosos. Não há muito virtuosismo no quesito variedade de instrumentos e sim muita porrada nas duas guitarras e bateria. Prestem atenção no dono das baquetas, não estranharia ele figurar em breve em alguma lista de melhores. Partamos!


Oblivion começa com trinta mil tons abaixo, em fi bemol, muito grave e de certa maneira, simplória, lembra os modos do grunge dos anos 90, principalmente Soundgarden. O ritmo aumenta, remetendo-nos ao thrash metal, como megadeth por exemplo. O refrão apazigua a situação e deixa até um ar meio pop, as guitarras se dobram e desdobram. A guitarra faz três belos solos dentro da moda pentatônica blues. Brann Dailor (o dono das baquetas) quase afunda a caixa. Ao final o riff fica grave novamente, demonstrando toda a força heavy metal da banda. Acho que competência e energia a definem.


Divinations é curtinha, todavia parece durar uma eternidade. O banjo irônico, desferindo um riff de metal em suas cordas trastejantes é arrasador, pura genialidade. O riff de toda a música é puro thrash das melhores épocas, muito sincronizado e intocável. O vocal de Brent Hinds (o dono dessa voz com lâmina de barbear na epiglote) se mistura perfeitamente com a melodia e clima musical. O solo começa solo, vira base, se transfigura e mente. É um solo duplo, rápido, muito bem encaixado e sem muita frescura, marca registrada de todo o disco.



O primeiro flerte com o progressivo começa agora. Quintessence tem passagens com vocais limpos e suaves, quase impensável em trabalhos pregressos da banda.  Muitos riffs oitavados, uma vertente muito utilizada nas bandas de hardcore da atualidade, no entanto, parece ter um sabor e uma utilidade diferente. Por volta dos quatro minutos as guitarras cortam os efeitos modernos e dão bordoadas à moda antiga. Em momentos diversos ouvimos pianos incólumes, distantes e afrouxados. É o progressivo de outrora dando suas caras timidamente.

Opa, estamos no disco errado? Child In Time é a próxima? Que teclado de Jon Lord é este? Isto é heavy metal de verdade? Não, estamos nos transportando à Rússia czarista, as mortes ocasionadas pela tirania e o gelo siberiano parecem estar presentes em nossos ouvidos. The Czar era tudo o que queria ouvir no rock atual. Um ótimo riff, leve e pesado ao mesmo tempo, que gruda na cabeça, tocado repetidamente, acompanhado de um teclado Jon Lordiano. E mais, muitas viradas de ritmo, o refrão parece com o de Quintessence, marcando mais uma delas. Os solos de guitarra, que novamente parecem riffs, parecem bases, parecem solos são inquestionáveis. Desde a época de Lynyrd Skynyrd não via guitarras sendo usadas em conjunto com tanta perfeição e altivez. Por volta dos sete minutos, os teclados Lordianos são tocados em rewind, talvez à hora mais Floydiana de todo o disco. Notem, quantas referências pregressas pude citar em uma única música apenas. O solo (realmente solo) vertiginoso do fim era o que estava faltando, puro abuso de quem já abusou bastante. Tudo se encerra nos teclados novamente, parecendo até os de No Quarter.

Ghost Of Karelia começa de maneira oriental, extremamente asiática, revelando o lado mestiço das fronteiras soviéticas. As guitarras outra vez duelam entre si e mostram poder tirânico sobre tudo que é tocado. O teclado Lordiano está lá, mas bem apagado, só serve para abaixar a luz e dar um clima. A bateria segue as guitarras em todos os momentos, não sei nem como isto é possível. Em conformidade e conjunção à última, a faixa que dá nome ao disco se inicia. Crack The Skye começa demasiadamente leve, viajada e semi anestesiada, porém temos gritaria e Troy Sanders (o baixista e vocal ogro) não poupa esforços em deixar a coisa mais demoníaca. A voz de robô é estranha, muito estranha. Em algumas partes temos a leve impressão de black metal. Elementos quase subliminares são injetados em sua mente, carecem de uma percepção aguçada de som para notá-los.



Ainda na vibração das cordas de Crack The Skye, The Last Baron apresenta-se. Como em todo o disco as guitarras estão muito graves ficando próximas as tonalidades do baixo.  Os primeiros minutos são pautados por ótimos acordes dedilhados, meio distorcidos, meio acústicos. A pauleira aumenta um pouco, e podemos ouvir alguns corais muito interessantes, com vozes jogadas ao vento. Então, aos cinco minutos a coisa fica séria, grave e animalesca. A banda honra o nome grande, portentoso, fazendo ligados de guitarra dobrados, como nunca antes se ouviu, e o melhor, não gera bocejos como algumas bandas de metal progressivo (não citarei nomes). Por não desfrutarem de muito carisma, provavelmente a dupla das cordas mais fina do grupo nunca terá o reconhecimento merecido, uma pena. Ao final a calmaria gélida retorna, sendo finalizada por um ótimo solo, sem firulas de Steve Vai, seco, firme e bem casado com a proposta da música.

E, finalmente, o álbum encerra-se com uma ótima surpresa, as duas primeiras faixas são executadas novamente sem a adição dos vocais. Podemos encarar como uma preguicinha da banda, que não quis compor mais, ou podemos concluir que há contexto. Achei muito interessante, pois nos dá um norte de quão intensa são as melodias desenvolvidas pelo grupo, às vezes até, dispensando as letras. Dou-te um conselho, após ouvir o disco inteiro, ouça as duas faixas novamente, com e sem letra, e, deleite-se.

Recomendo ouvir um trabalho anterior à Crack The Skye, Leviathan, e o posterior também, The Hunter. São três obras completamente distintas, que mostram facetas diferentes do conjunto. Notará também que cada álbum tem um integrante mais atuante, em Leviathan o mais atuante é o baixista Troy Sanders. Em Crack The Skye, nota-se uma influência maior do bode da montanha Brent Hinds, guitarra principal. Em The Hunter, o baterista Brann Dailor atua em quase todas do grupo. Isto não tira os méritos de Bill Kelliher, sua guitarra base é o alicerce da banda, lembrando até o trabalho de Malcom Young no Ac dc, além de apoiar nos vocais guturais como ninguém, basta procurar os vídeos da banda. Todo time precisa de um bom zagueiro também, nem tudo é só ataque, e mesmo assim eles aparecem às vezes para cabecear e fazer um gol.

Mastodon é o que o rock precisava, a volta dos Riffs malucos e pesados, com muita e muita guitarra. O rock sem guitarra não é absolutamente nada. Além de ter revitalizado o conceito artístico de disco conceitual. Já emplacou os três últimos assim, é só notar a psicodelia das figuras que selecionei acima. Aguardemos mais!

Encerramos!
Grande Abraço.

WOLFMOTHER - COSMIC EGG - 2009

Salve Galera do Rock!!!

Demorei a aparecer. Mas não foi por outro motivo senão a correria do dia-a-dia. Todavia, volto com tudo e falando sobre uma banda que nos dá um alento muito grande quando pensamos que os nossos ídolos do passado estão, assim como nós, ficando velhos e atuando cada vez menos e seletivamente na cena rock mundial.

E este grupo de rock do qual falo hoje é a prova viva de que, ao contrário do pregam alguns, o rock não está morrendo. Definitivamente não! Pode até não estar aparecendo muito. Mas continua vivo e com força total, recriando, reinventando, inovando, dando novas roupagens, misturando. Enfim, o rock está ai firme e forte e o WOLFMOTHER (assim como outras boas bandas novas) é prova disto que afirmo agora.

Falando rapidamente sobre a banda, trata-se de um grupo de músicos australianos liderado pelo guitarrista Andrew Stockdale, um "garotão" com cara de anos "70" e vocalista vigoroso, o qual mescla em seu estilo de cantar as características de grandes "performers" setentistas, tais como Ozzy Osbourne e Robert Plant. Enquanto guitarrista, Andrew é um setentista convicto, viajando ora pelo Stoner, ora pelo psicodélico. Enfim, o cara é bom e reúne credenciais que o levaram até a participar do primeiro trabalho solo de Slash em 2010. Ou seja, não é para qualquer um.

A discografia da banda ainda é pequena. Porém, consistente. São dois álbuns. O primeiro leva simplesmente o nome da banda e reúne 13 belos petardos rockeiros, dos quais destaco a forte e emblemática "White Unicorn", música com pegada stoner e com momentos de pura viagem. Vale a pena conferir. Já o segundo trabalho da banda, Cosmic Egg, é fenomenal. E é neste álbum que vamos nos ater.

Front Cover



Back Cover



A versão do álbum da qual estou falando é uma edição especial e importada, a qual conta com dois Compact Discs. E a mesma me foi gentilmente emprestada pelo meu grande amigo e rockeiro, Ricardo Nascimento, um cara que entende muito de rock e que possui um acervo de álbuns de rock bastante consistente. Valeu Ricado!

Mas vamos falar das músicas. O disco 1 já começa maravilhosamente bem, com a canção California Queen, música que reúne tudo que um bom rockeiro gosta, desde um bom vocal até solos de guitarra desconcertantes, passando por riffs e batidas marcantes. O disco ficasse só na abertura já valeria a pena.

O disco segue com New Moon Rising, mas destacarei a "swingada" White Feather, música mais despretenciosa, mas muito gostosa de se ouvir. Esta é uma ótima canção para embalar festas.

A próxima canção a ser destacada merece até mudar de parágrafo. Estou falando de Sundial, uma canção que poderia facilmente ser incorporada a qualquer um dos primeiros trabalhos do Black Sabbath. A começar pelo riff inicial, o qual foi notoriamente inspirado (e por assim dizer, "chupado") em N.I.B. do Sabbath.

In The Morning começa melodiosa e um pouco "melosa". Porém, após os primeiros acordes a música fica mais encorpada e nos embala através de riffs de guitarra bem fortes e um vocal agudo e melodioso de Andrew, seguida de uma sequência viajante com um solo de guitarra espetacular.

O disco 1 conta mais três canções, duas delas seguindo a linha stoner (10.000 Feet e Cosmic Egg). A última, Far Away, não empolga e é, na minha opinião, alternativa demais para um álbum que parecia ter uma proposta setentista. Entretanto, nada que desabone o trabalho da Banda.

O disco 2 também começa muito bem com Cosmonaut, uma somzeira forte e ao mesmo tempo viajante, alternando momentos hard e psicodélicos, embalados pela voz marcante de Andrew Stockdale.

E disco segue na pegada ora stoner, ora hard com Pilgrim, Eyes Open, Back Round e In The Castle (esta música tem algo de Rush, mais especificamente o começo, o qual me lembrou o 2112). Um aparte faço com relação à canção Caroline, mas não é necessariamente um elogio, pois sempre que escuto o disco pulo esta música. É muito melosa para o meu gosto. Mais uma vez, saliento que isto em nada compromete este álbum. Aliás, escutem-na, pois gosto é algo muito subjetivo. E de repente vocês venham a curtir a canção.

A penúltima canção do disco 2 é Phoenix, com uma batida bem interessante e diferente, regada a várias distorções de guitarra e também solos bem legais e que antecede o "grand finale" do disco.

Violence Of The Sun é de longe a melhor música do disco 2 e quem sabe do álbum inteiro. Para ser sincero, divido minha preferência entre ela e California Queen. Mas não há como negar que esta música tem algo a mais do que as demais. Primeiramente, é uma canção que fala de amor de forma poética, usando a força do sol como figura de linguagem para expressar os sentimentos avassaladores de uma paixão. Mas o  ponto forte e tocante da canção é sua melodia cadenciada, a qual vai crescendo em força e vigor com uma base maravilhosa de baixo e bateria, incorporando vocais agudos e guitarras ora distorcidas, ora melodiosas. Eu diria que é uma canção para se ouvir sozinho, principalmente se você está apaixonado.

Muito bem. Espero ter passado para todos os amantes do rock a força e a beleza deste álbum. E espero que todos que o escutem compartilhem comigo a certeza de que o bom e velho rock n' roll estará sempre se renovando e gerando novos artistas e bandas, garantindo assim o nosso prazer e nossa satisfação de escutar boa música.

Grande abraço a todos e até a próxima.

Betão.



quinta-feira, 21 de junho de 2012

Gentle Giant - Free Hand


Bem vindos, amantes da música!

Mais, mais e mais Progressivo. Falo novamente dos ditos “vovôs” da música. A banda fruto dos estudos de hoje, foi-me apresentada enquanto descobria o gênio musical Frank Zappa, tendo uma sonoridade muito próxima a dele. É uma das bandas mais subestimadas da história, contando com um número seleto de fãs, porém, possui uma das maiores inteligências musicais que já vi, além de muita versatilidade. Procurem os shows deles na internet e verão os músicos constantemente trocando de postos, tocando vários instrumentos.



Originária do Reino Unido, (sempre ele, poço da maioria dos roqueiros da época) foi criada pelos irmãos Phil, Derek e Ray Shulman, que já possuíam ascendência musical, não é à toa os três terem seguido este caminho. A este molho familiar, foram acrescentados mais três músicos de ilibada reputação artística, Gary Green, John Weathers e o meu preferido, Kerry Minnear, o dono dos teclados, xilofone, violoncelo etc. Phil, um dos principais, abandona o barco após a gravação de “Octopus”, mas não compromete em nada os arranjos e sonoridade da banda. Tanto que, o disco que comento não tem sua presença.

Comentários sobre o som vêm em seguida junto com as músicas. Há muita coisa a ser dita. Sigamos!

Você quer ser o mesmo? Eles não! Just The Same começa provando que eles nunca são os mesmos. Cada instrumento toca uma nota, em um tempo distinto, causando um efeito extremamente diferenciado e anárquico, porém com ordem. Após o refrão, o clima floydiano viajado entra em cena, mas os pés ainda estão no chão, principalmente quando o ritmo fica blues na guitarra, teclado e naipe de metais. Gary Green aproveita a pausa de todos e fica em evidência ao som de palmas. Esta canção não possui o trovadorismo peculiar da banda, mas tenha calma!



Você acha que Queen tem o melhor coral de vozes que já ouviu? Você está redondamente enganado, escute a introdução de On Reflection! E o melhor, é executado por todos os membros da banda, não como Bohemian Raphsody, no qual só Freedie canta (entendam, não é uma crítica ao Queen, só uma constatação). E vai ficando mais difícil ainda, pois além de cantarem em coro, ainda conseguem tocar. Para os descrentes, é só procurar o vídeo da apresentação para a BBC de 1978, a prova está lá. Novamente não temos um destaque individual, pois o conjunto funciona como uma pessoa só. Kerry Minnear canta solo em alguns momentos e só. É perceptível a influência clássica, barroca e trovadora nesta faixa. Ao final o momento mais magnânimo, as notas feitas pelas vozes no começo, são feitas pelos instrumentos. Outra vez é de impressionar a habilidade em encaixar notas em tempos diferentes de cada instrumento. Para mim a melhor do álbum e talvez da banda.

Free Hand começa diferente do que se tinha de progressivo na época, estando novamente mais perto da sonoridade Zappaniana. Baixo, piano e guitarra confraternizam-se, livres de efeitos e vícios, remetem-nos ao jazz e ao clássico. Kerry Minnear é o grande nome, seus teclados atingem efetivamente alguma glândula cerebral da fantasia. Notas em desacordo, melodias consoantes e agudas, tudo em perfeita harmonia, parecendo haver diversos estados físicos da água, em uma música só. O refrão sobrepuja tudo e fala outra língua, destoando. Pura viagem.

Mais um grande pedaço musical. Time To Kill e His Last Voyage. A primeira muito rítmica, mais violenta, (ao estilo Gentle Giant de violência) e com momentos de pura diversão. O baixo de Ray é espaçado, tem muita força e técnica, acompanhando alguns instrumentos da música e principalmente os versos entoados por Derek e Kerry. A guitarra de Gary Green não complementa como estamos acostumados no Rock ‘n Roll tradicional, com peso, e sim, com fraseados em sua maioria limpos e sem efeitos. É importante salientar como a banda age democraticamente, você consegue ouvir praticamente todos os instrumentos e não nota nenhum se sobressaindo a outro. A segunda música é mais tranqüila e conta com Kerry Minnear nos vocais, que substituiu Phil Shulman perfeitamente nesta tarefa. Há muito de jazz nesta faixa, principalmente em sua metade, quando o clima fica esfumaçado, possibilitando um belo solo de guitarra. As duas faixas acabam complementando entre si.

Talybont expõem o lado trovador barroco da banda para fora. Abusam da flauta doce, do cravo e dos bumbos. A guitarra entra em alguns momentos, junto com o teclado, para lembrarmos que os tempos de conto de amor e de amigo já acabaram, colocando um pouco de ácido na coisa toda. É a ótima ponte para o que vem a seguir.

Mobile lembra em vários momentos determinadas músicas do Kansas, talvez pelo violino irritadiço e country ao fundo, lembro-me também da ótima Mahavishnu Orchestra. Aliás, o violino do multi-instrumentista Ray Shulman é o grande destaque, lembrando o estilo de grandes violinistas do Rock, como Jean Luc-Ponty. É country e rock and roll ao mesmo tempo, só que foge do padrão blues bastardo dos sulistas americanos. Ao meio da faixa tudo fica obscuro, Derek aparece cantando versos zunidos, fazendo-nos crer que tudo mudará, então o country blues do Salvador Dali volta e nos dá paz de novo, apesar de tudo continuar não fazendo sentido. Não é para fazer mesmo!

Aqui termino o Post sobre o gigante gentil que é orquestrado, virtuoso e muito poderoso musicalmente. Para quem curte os sons estranhos do rock alternativo da atualidade, para os amantes de jazz e música instrumental é necessário se embebedar da música deles por um dia pelo menos, aposto que encontrará diversas referências. E um grande detalhe, não há nenhuma música de vinte e cinco minutos como no usual rock progressivo. São musicas curtas para o padrão, mas com tantos elementos, que parecem músicas eternas. Ouçam!

Grande abraço e até a próxima.

domingo, 17 de junho de 2012

Wilco - Kicking Television - Live in Chicago


Bem vindos, amantes da música!

Continuo falando sobre Rock Progressivo e novamente falarei sobre músicos modernos! Partamos para um lado mais folk rock, cujos violões e o blues se misturam a música country, ou música caipira “Red Neck”. Alguns artistas são os mais lembrados quando suscitamos tal estilo, Bob Dylan, Neil Young e a minha favorita, Jethro Tull.



Wilco é uma banda de Chicago, Illinois, liderada pelo letrista e vocalista Jeff Tweedy. Levam a alcunha de rock alternativo ou indie, sinceramente acho que existem elementos suficientes para classificá-la como progressivo também, primeiro por misturar um portfólio de estilos musicais, como rock, blues e folk, e, segundo por ter melodias com determinada complexidade. E no registro ao vivo gravado em 2005, podemos notar tudo isto que digo, sendo quase duas horas de música bem feita, principalmente por contar com os maiores sucessos do grupo, além de muita espontaneidade.

São dois discos, vamos ao primeiro:



Misundestood é a primeira. Começa com uma bateria intransponível, Tweedy tocando alguns acordes e rasgando a voz. Em alguns momentos, os instrumentos tocam todos toscamente, parecendo até serem de brinquedo. A música toma corpo, fica mais “pesada”, e transpõem guitarras sujas. É uma melodia relativamente tranqüila e lembra em muito o estilo country da velha guarda, finalizando com o verso “nothing” até a exaustão.

Um dedilhado simples e limpo ameaça Company in My Back. A calmaria também impera, e, apesar de ser uma melodia sem grandes modulações, formada por uma pequena coleção de acordes, existem alguns momentos de genialidade, com grandes riffs de violão, e solos jazzísticos espaçados. Na mesma toada temos The Late Greats, melodia com alguns acordes, no entanto, é vibrante e absorta, parecendo conectar-se com a última. O piano é muito importante para todo o disco, já que imprime uma toada de blues. Em várias faixas como estas ele aparece sem efeitos, sendo, por tanto, a cereja do bolo.

E é com dois pianos que Hell Is Chrome inicia-se. Parece meio calada, meio silenciada, não mostra todo o potencial de começo. Conforme vai passando o tempo, os instrumentos vão falando mais alto. Os versos e o refrão são bastante repetidos e a certo ponto, temos um grande momento folk rock, lembrando até algumas do Led.

Handshake Drugs é extremamente divertida e uma das mais pesadas do disco.  O baixo contraria o violão na introdução, aumentando o êxtase. As guitarras estão mais distorcidas, solam quase a música inteira e são o grande destaque. Os duelos lembram um pouco os feitos pelo Lynyrd Skynyrd. Ao final, a microfonia delas, causa torpor, lembrando o Space Rock.

I Am Trying to Break Your Heart é a mais viajada, possui vários elementos, suscitando até as masturbações instrumentais de Frank Zappa, que inseria sons estranhos, muitas notas fora da escala e loucura pura. O tema principal roda em torno de três acordes, porém não é impeditivo para a banda variar e destoar o tempo todo.

Shot In The Arm tem elementos mais modernos, como o piano que parece com o do Coldplay. A base também não sofre grandes alterações, no entanto todos os instrumentos tripudiam em cima dela, com variações no baixo e muitas microfonias na guitarra.

O início de At Least That’s What You Said é muito interessante, Jeff novamente sussurra, notas perdidas são feitas, então a guitarra começa com o mesmo fraseado dos grandes setentistas, lembrando Led ou Allman Brothers. Por fim, executam um grande solo, cheio de microfonias, entorpecendo-nos novamente. Isto é o que me chama mais atenção na sonoridade do Wilco, as bandas chamadas Indie, abandonaram o solo de guitarra, porém, não é o que vimos aqui.

Zappa, Hendrix e outros estão de volta com os zunidos. Wishful Thinking destila acordes que poderiam muito bem ter sido pensado por Ian Anderson do Jethro Tull. Agora o clima é mais Floydiano, tanto na batida da bateria, quanto na guitarra e teclado, que conservam notas longas por grandes períodos de tempo. Poderia estar em Wish You Were Here, ou até mesmo o consagrado Dark Side of The Moon, guardadas as devidas proporções, é claro.

Jesus, Etc. traz o clima blues/country que estava faltando em sua totalidade. A calmaria peculiar que aparece em vários momentos neste álbum dá paz interior ao ouvinte. A mistura de lap guitar, (ou guitarra de colo, em que se toca com slide) teclado de igreja e efeitos de violino, remetem-nos ao folk rock das antigas.

Hendrix está de volta com seu acorde de blues favorito, dando a impressão de que I’m The Man Who Loves You será uma bordoada. É a faixa mais blues de todo o disco, contando com saxofone e alegorias. É suja e vagabunda, como a declaração de amor do título. A melodia gruda na cabeça e tem muito ritmo. É uma de minhas preferidas, principalmente por não haver mais artistas que flertam como o blues. Kicking Television  continua no mesmo gênero só que é mais abusada e agressiva, com requintes de crueldade. Com certeza Jeff Tweedy estava irritado com alguma coisa que estava passando na TV, pois grita muito, mostrando um estilo antagônico ao do grupo.

Terminamos o primeiro disco, vamos ao próximo:

Via Chicago parece com todas as anteriores, tem calmaria, folk, anarquia sonora, guitarras com distorções sujas. Então encontramos a beleza desta canção nos versos entoados por Jeff, em meio a este pandemônio melódico, que nada mais é que uma declaração de amor a sua terra natal. Hummingbird tangencia a calmaria de antes e coloca uma pitada de alegria, como um beija-flor. Em determinado momento, a guitarra e o andamento, tem um ar de Queen, com melodias alegres e solos efusivos, acompanhados pelo teclado Mercuryano.

Muzzle of Bees é uma das mais bonitas do disco. É recheada de melodias diversas e conjuntas, principalmente com os acordes dedilhados no violão em duetos. É uma injeção de calmante na veia. Mesmo os momentos em que a guitarra se apresenta, não parecem tirar o estado paradisíaco. O piano toca as notas necessárias e ainda abusa quando possível. One by One segue o mesmo estilo da anterior, no entanto não tem o mesmo brilho, mesmo assim é mais um ótimo country/blues.

A hora Bron-Yr-Aur stomp chegou. Airline to Heaven tem todo o clima do country, folk e blues explorado nos anos 70, por bandas como Lynyrd Skynyrd e o próprio Led, que nem americanos eram. O vocal tem todo aquele sotaque sulista e o solo e a melodia de começo da guitarra lembra em muito o de Jessica, do já citado Allman Brothers. Wilco sabe muito bem misturar suas influências e propiciar coisas novas, este é um exemplo.

Radio Cure leva-nos novamente aos momentos de loucura da banda. A sonoridade é taciturna, introspectiva e obscura. A melodia sofre muitas variações, às vezes até difíceis de assimilar, lembrando os contemporâneos do Radiohead. Ao fim uma mudança brusca, quase bipolar, remetendo-nos à infância, com música de brinquedo.

Ashes of American Flags é minha favorita. Lembro-me que todas as vezes que ouvi este álbum, começava por ela, e depois o colocava em seqüência. As frases de guitarra que tocam por toda a música são de arrepiar, parecem acompanhar o canto amargurado de Jeff Tweedy. O solo tem muita espontaneidade e por ser de improviso tem muita paixão. Por isto sou tão fã de discos ao vivo, pois mostram lados criativos que fogem dos estúdios.

Heavy Metal Drummer retorna a alegria as nossas faces e corta o amargo da anterior, dando mais ritmo. Depois de tantas músicas executadas até aqui, de vários álbuns, podemos notar que a banda tem muita empatia, realizando grandes feitos musicais.

Poor Places mostra toda a força “progressiva” do grupo. O início da música é o padrão de quase todas até aqui, acordes tocados bem baixos e Tweedy cantarolando versos abstratos, em seguida a sonoridade efetiva. O teclado é um show a parte, utiliza-se de boa parte dos efeitos disponíveis e faz várias inversões, tanto de ritmo quanto de melodia. Ao final mais microfonia.

A barulheira se junta a Spiders (Kidsmoke). Com certeza a mais viajada e trabalhada até aqui. Novamente é recheada de solos irritadiços, inconstantes e cheios de sujeira. O que mais me atrai, são as duas notas feitas por baixo e guitarra que ditam o ritmo na música e somente cessam nas viradas. Aliás, que viradas espetaculares.

Comment sintetiza tudo, e finaliza com a sonoridade mais desajeitada, que parece não pertencer a todo contexto. Tem um que de apoteose. Lembra Frank Sinatra, mas também poderia estar em The Wall do Floyd. É de se refletir!

Este disco não foi pensado como uma obra de estúdio, porém, conta com o feeling artístico da banda ao escolher este setlist. As influências foram sendo citadas durante todo o texto, no entanto, acho importante salientar a grande influência de Jethro Tull, pois quase todas eram iniciadas com acordes no violão, que nos remetem a Wondrin’ Aloud, Mother Goose e outras tantas dos ingleses. Ouça e repare.   

Por hoje é só pessoal!
Grande Abraço.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Rush - Clockwork Angels


Bem vindos, seres terrestres, assim espero pelo menos!

Quero fugir do ortodoxo novamente e continuar falando sobre Rock Progressivo, só que de outro jeito. Vou perambular nas terras gélidas do Canadá e vos importar a sonoridade que lá habita, falando sobre um dos melhores Power Trios que já existiram.

No fim dos anos 60, esboçava-se uma união arrebatadora, mas foi só em meados de 74 que ela gerou frutos verdadeiros e por fim, com a entrada de um monstro sagrado da bateria, a junção estava completa. Rush, simplesmente, assim, de supetão! Começaremos de trás para frente. Neil Peart é o cara quando se fala em bateria, seu ritmo e técnica são de embasbacar, além de letrista inspirado. Geddy Lee é o dono das cordas grossas, nunca necessitou de palhetas para infernizar com seu baixo, seu estilo de cantar é único, ou você gosta, ou odeia. Alex Lifeson, ou o criador, é o dono das cordas mais finas, em minha opinião, extremamente subestimado, pois nunca figura em nenhuma lista de melhores guitarristas, no entanto, possui uma coleção de riffs e solos que grudam na cabeça.



Pronto a mistura está feita! Mas que álbum é este que falaremos? Sim, os “velhinhos” continuam produzindo, para alguns em grandes hiatos de tempo (o último disco saiu em 2007, ou seja, cinco anos de espera), para mim é um bom tempo, já que dá tempo para se produzir com qualidade, não qualquer porcaria sem alma. Recomendo aos ouvintes atentos escutarem Snakes and Arrows, o penúltimo álbum da banda, e, confrontem com esse. Há certa semelhança, mas ainda assim é diferente.  

Vamos a ele!



A capa já apresenta simbolismos variados. Uma análise pura e simples dela consiste em destino regulado pelo tempo, como uma autoridade onírica. As letras, pelo o que pude notar em sites específicos, são baseadas em uma história pensada por Neil Peart, que, em breve, virará livro. Trata-se de uma odisseia regulada por um relojeiro. As letras são extensas, por tanto, irá gastar muito das aulas de inglês.

Sinos de um cruzamento soam e ouvimos o que parece ser a entrada de Woman From Tokio do Deep Purple, com riffs de guitarra e teclado sobrepostos. Eis que Caravan começa de verdade, com muito peso. A guitarra é vibrante, fala alto, tem um riff que lembra os grandes do Rock de outrora. O refrão corta um pouco o veneno, e trás uma bela melodia de teclado. O que vimos depois são músicos em pleno entrosamento, o baixo tem suingue, efeito e força, a guitarra faz licks rasgados e rápidos, seguidos de solos de pura imaginação, a bateria é inconstante, não possui forma definida. Que grande começo!

O Rush não é famoso por explorar vocais, o começo de Bu2b prova o contrário, frases são cantadas em conjunto e espaçadas, acompanhadas de perto por um violão meio amargurado e trêmulo. Para tudo, e o coro come agora! A melodia muda de cara, fica extremamente pesada, principalmente pelo baixo de Geddy Lee, que acompanha praticamente todas as notas da guitarra. Caros amigos, isto é para poucos. Aqui já arrisco a dizer que é o disco do ano, rivalizando com A Different Kind Of Truth do Van Halen.

Clockwork Angels é a faixa que dá nome ao disco. Um nome extremamente sugestivo, remetendo-nos à Laranja Mecânica (Clockwork Orange), apesar de possuir temática diferente. A bordoada diminui um pouco, lembrando em determinados momentos as progressões de som do U2, mas o Rush está lá, o baixo nunca faz o simples e Alex Lifeson dá um show à parte. A insanidade irá te assolar ouvindo está música. Existem várias mudanças de melodia e ritmo como podemos notar aos 4min e 5seg, dando um ar blues espacial que nunca ouvi, com vocais em alto-falante. O andamento é vibrante e muitas notas são tocadas ao mesmo tempo, com inserções de vários instrumentos “sintetizados” por Geddy Lee. Um tapa na nuca!

The Anarchist é talvez a mais comum do disco, mas não menos importante! Possui bases mais simplificadas, menos complexas e até a bateria de Neil Peart está mais “quadrada”, sem muitas variações. São inseridas algumas passagens meio arábicas, como os mestres Zeppelinianos gostariam, porém são bem de passagem. O vocal em alto-falante de Geddy Lee volta, sendo, por tanto, um estilo do álbum. Destaque novamente para o solo de Alex Lifeson, que mistura técnicas de música clássica, com vibratos peculiares. Sinceramente, há muito pouco de som anárquico como o título sugere. A la parque de diversões, inicia-se Carnies seguindo a mesma toada da anterior, menos psicodélica e sem grandes inversões melódicas, no entanto, o riff é direto e sabe o que quer, demonstrando todo o peso que Rush quis empregar ao disco.

Halo Effect é simples e bela. Está recheada de violão, violinos e violoncelos. O que mais me impressiona, musicalmente falando, é a facilidade de Geddy Lee em acompanhar todos os acordes que a guitarra faz, para quem entende um pouco sabe a complexidade envolvida. A sonoridade tem forte influência da escola inglesa de música.

Para que guitarras quando temos Geddy Lee. Note quanta consistência musical ele possui na entrada de Seven Cities of Gold. Seu baixo tem suingue, encorpa a música, tanto quando executa a entrada, quanto acompanha a guitarra de Alex. E ainda arranja tempo para fazer as linhas de teclados e cantar. Por isto quando ouvimos uma música do Rush, sempre achamos que existem pelo menos seis integrantes tocando. E faz-se sempre necessário, ouvi-las mais de uma vez para captar os detalhes de todos os instrumentos.

The Wreckers trás os violinos e o tom orquestrado de volta, todavia, aqui dão um ar de epopéia e suntuosidade para a música. Poderia facilmente ser a trilha sonora de algum filme, pois se utiliza de elementos sonoros modernos. Em alguns momentos me lembra um pouco certas músicas do The Who.

Headlong Flight nos brinda com a pancada novamente e os três integrantes estão de corpo e alma nela. Não há outros instrumentos, nem a duplicação dos que tocam. É o trio puro e simplesmente, criando riffs, misturando uma infinidade de influências. Uma grande feito de Rock ‘n Roll.

Bu2b2 londrinamente, outra vez, faz a ponte para Wish Them Well. Está calcada na mesma premissa de Headlong Flight, música simplória, mas muito bem construída, aqui Geddy Lee arrisca os agudos de dantes. O riff é básico, três acordes, alguns dedilhados, algumas mudanças de ritmo e um refrão bem marcante. O solo de guitarra tem um quê de oitentista.

The Garden encerra com determinada calmaria. O violão de Alex Lifeson introduz com acordes conhecidos aos nossos ouvidos e depois dá tons de obscuridade ao tema principal. A faixa em si é deveras obscura, já que quase não possui o peso das guitarras, que dão lugar aos violinos e teclado.  O refrão outra vez é marcante e gruda. No conjunto, temos uma música que nos remete ao Space Rock do progressivo, já que o refrão e tema principal se repetem exaustivamente, criando aquele estado de letargia mental. Ótimo final para esta grande obra.

E por hoje é só pessoal.

Grande Abraço.

sábado, 9 de junho de 2012

Yes - The Yes Album


Bem vindos, novamente!

Começo uma sessão de posts que tem um significado importante para mim. Foi na casa de meu tio Alberto, que ouvi pela primeira vez a banda ao qual falo hoje. Lembro-me que foi amor a primeira ouvida, gostei de tudo, da guitarra, do teclado, da voz, da bateria e do baixo. Tudo se transformou em uma maçaroca na minha cabeça e o estrago já estava feito. Já ouvi diversas bandas do estilo que são fantásticas e tenho uma apreciação enorme, como verão em posts futuros, no entanto, Yes é a que mais me diverte e fascina até hoje. Primeiro por que todos os membros são instrumentistas sem igual. Segundo que introduziram um estilo diferenciado de fazer música, cortando um pouco o ácido do componente principal da produção de um disco e colocando energia nova, imprimindo virtuosismo, complexidade, jazz e música clássica. Muitos acham o estilo cansativo e demasiadamente chato, admito que em vários momentos isto seja notório, principalmente em bandas como Emerson, Lake and Palmer, mas no começo dos anos 70 muitas bandas e álbuns surgiram cheios de inspiração e criatividade não podendo ser ignorados. Falarei um pouco sobre a banda.



O Yes contou com várias formações durante os anos, sendo formada sempre por seres anormais e extraterrestres em seus instrumentos. A banda nasceu na Inglaterra com a associação de Jon Anderson e Chris Squire, vocal e baixo respectivamente.  A interação entre os dois pode ser notada em toda a discografia da banda, fazendo um coral de vozes assaz interessante. Chris Squire é um de meus baixistas preferidos, possuí estilo forte e se destaca na multidão. A associação ganha um integrante novo, Bill Brufford, o dono das baquetas, e, para mim, o mais notável em seu estilo, suas levadas jazzísticas de bateria davam o andamento que o Rock Progressivo precisava na época, lembro-me, que a primeira vez que ouvi King Crimson, senti que conhecia o baterista, mas não sabia de onde. Para completar a banda, Peter Banks, guitarra e Tony Kaye, teclados, foram músicos que deram os toques iniciais do projeto, no entanto, foram substituídos dando lugar para Steve Howe e Rick Wakeman, graças a deus. Os músicos não eram ruins ou medíocres, Howe e Wakeman é que são de Marte e Vênus, só isso.  



The Yes Album foi o segundo disco que ouvi do conjunto, o primeiro foi o mais famoso da banda, Fragile. Não quis começar com este, pois entendo que é uma unanimidade entre todos, preferi falar de um que me fez virar fã fanático da banda de verdade. Aqui ainda não temos a participação de Wakeman nos teclados, ao invés disto, temos a estréia do melhor guitarrista de Progressivo da face da terra, e ainda em atividade, Steve Howe. Sem mais delongas vamos ao disco!

Como disse acima, aqui é a estréia de Steve Howe, escute os nove minutos e quarenta segundos de Yours Is No Disgrace e notará que o guitarrista é o grande destaque, como se falasse a todos, "vim para ficar 'rapeize', nem queiram me tirar daqui". Foi um dos grandes responsáveis por introduzir a guitarra virtuosa, rápida e cheia de notas nas músicas. Atualmente este estilo caiu no lugar comum, e brotam guitarristas do chão com grande formação técnica e nenhuma paixão! Tempos românticos aqueles. Voltando à música! Existem várias passagens, seria impossível detalhar todas, destaco três: primeiro o tema principal de guitarra, que é limpo e sem efeitos, no entanto, é efetuado em toda a faixa, sofrendo inúmeras alterações e aí está a beleza do som, segundo são os solos de Howe, que toca limpo, distorcido e faz vários licks soltos, e terceiro a base de baixo, bateria, voz e teclado, formando um fogão potente que aquece toda a melodia das cordas de metal. Linda música, causa uma alegria profunda e viajante. Para os amantes de músicas longas, temos um masterpiece.

Há algumas semanas me propus a tocar no violão Clap, devo admitir que a tarefa é bem difícil, e já passam alguns meses e ainda não consegui executá-la. Você acha possível um inglês, com cara de cientista maluco, fazer de cunho próprio, um Delta Blues do Alabama? Pois bem, ele fez e muito bem! Mais parece uma composição de Robert Johnson e seus agregados. A versatilidade de Howe é notória e com certeza o maior de seus atributos. A música é instrumental apenas, gravada ao vivo e possui muita energia, mostrando toda a cultura musical do guitarrista. Salve o mestre Steve Howe!!!

Starship Trooper é a viagem astral corpórea do disco, como o título sugere. A dupla dos vocais Anderson e Squire aparece, mostra toda a harmonia supracitada e nos deleita com as variações no refrão. A complexidade da melodia é menor e mais “viajada”. Existem três momentos delimitados pela banda: Life Seeker" (Jon Anderson), "Disillusion" (Chris Squire), "Würm" (Steve Howe). O primeiro movimento tem um riff de baixo iniciando, seguido por um de guitarra, não sofrendo variação, o segundo movimento começa aos três minutos, quando um violão blues toca ensandecido e se segue, até que um riff de guitarra inicia a viagem glacial do terceiro movimento “Würm”. Esta é a música que para mim define Rock Progressivo, por que, em linhas gerais, começa devagar e sem muito movimento, e ao longo dela, toma corpo e ritmo, ou “progride”. É extremamente variada em instrumental, parece que os integrantes utilizam de todos os recursos disponíveis. Atente-se a bateria que faz ritmos diferentes em toda a música, não se repetindo nunca.

Jon Anderson sobe as oitavas, acompanhado por Squire e inicia uma das melhores músicas do Yes: I’ve Seen All Good People. Também possui dois movimentos, o primeiro marcado pelos acordes de Howe no violão de 12 cordas, que lembra em muito as modas de viola caipira aqui do Brasil, acompanhado de uma flauta doce. O segundo movimento é mais dinâmico e tem muito blues, tanto nos teclados, quanto na guitarra. O refrão “I've seen all good people turn their heads each Day/So satisfied I'm on my way” é repetido incansavelmente e acaba virando uma base para a música. Outra vez o coral de vozes aparece bastante. Novamente percebemos a "progressão" da música, que encorpa em seu decorrer.

A Venture é curta para os padrões do Yes. Inicialmente tem notas, melodia e ritmo tímido, com alguns momentos de ápice ao decorrer da música, no entanto, nada que atrapalhe a calmaria que ela proporciona. Chris Squire cria uma linha de baixo forte que preenche a música. Tony Kaye toca o piano em um estilo jazz lento e melancólico, sem efeitos nem nada, talvez o maior destaque da música, já que seus companheiros tocam menos notas, fazendo enxertos e dando cadência somente.

E finalmente Perpetual Change encerra os trabalhos. É a síntese de todo o álbum. Tem de tudo um pouco, começa seco, com a guitarra, baixo e bateria batendo direto e em conjunto. Depois a coisa acalma, tendo momentos só voz e piano, dando novamente um clima de jazz. De novo, tudo muda, um riff de teclado e baixo bem doido começa e entra em repetição, dando lugar a um solo de guitarra mais doido ainda. Isto é Yes na sua forma mais pura, muita melodia, vários instrumentos e voz tocando juntos, de forma não cartesiana. E assim termina a música, outro riff diferente, cantado por Jon Anderson e acompanhado de perto pela guitarra nervosa de Howe.

Em todos os primeiros discos do Yes, você perceberá quanto potencial criativo estes rapazes, agora senhores, tinham, pegando o Rock 'n' Roll e inserindo o blues, jazz, folk, música clássica etc, tudo em uma única canção. Alguns contemporâneos do mesmo estilo tentaram fazer igual, mas acabaram enjoando o público, pois não é para qualquer um.

Pode parecer que não destaquei o trabalho de Chris Squire no baixo, mas escute o disco novamente e repare em todas as partes melódicas que você julgar pesadas. É ele que está lá, descendo a lenha, provando que na cozinha, é feita comida forte e apimentada.

Não falei sobre as letras por um simples motivo, não há uma lógica humana que as explique, você terá que lê-las e ver como se encaixam em sua vida.  

Grande Abraço, e até a próxima viagem!

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Queen - Queen I


Bem vindos, mentes aparvalhadas!

No post anterior havia começado a falar um pouco de Rock Progressivo. Iniciei a história de trás para frente, falando sobre uma banda atual do gênero, pois considero o trabalho feito por ela de muita relevância. Hoje faço um enxerto e falo sobre uma banda de sonoridade diferente, mas não menos importante.

Queen é uma banda de suma importância para quem diz gostar de Rock. Meu contato com a música deles se deu em tempos idos e não posso precisar quando aconteceu, mas garanto que Bohemian Rhapsody foi a primeira delas. Até que certo dia me propus a adquirir meu primeiro disco da banda, que coincidentemente era o álbum debut deles. Um ótimo começo, posso dizer, pois mostra uma faceta muito interessante dos ingleses, que se perdeu, de certo modo, no restante da carreira. No álbum auto-intitulado notamos certa fúria e profundidade em várias das músicas contidas. Vamos a ele.



A ilustração da capa remete-nos a uma estréia majestosa, digno de quem é. O alguém de pé, iluminado por uma luz roxa, ainda era desconhecido do grande público, mas nos proporcionou grandes alegrias musicais. Com certeza, um dos maiores frontmans da história, que conseguiu quebrar os preconceitos da época devido a sua bissexualidade, com seu carisma arrebatador. Estamos falando de Farrokh Bulsara, vulgo Freddie Mercury.




Keep Yourself Alive é o começo de tudo, é o início, é aonde queremos chegar. Tem um riff e melodia que lembra a maioria dos clássicos da época, é direto, tem um bicorde que toca a música inteira e dita o ritmo. A primeira música e a primeira demonstração da marca registrada do Queen, vocais incessantes e portentosos, muito bem executados e liderados por um dos maiores do gênero. Toda a banda aparece aqui. A guitarra do Ph.D em astronomia, Brian May já está cheia de efeitos e falando muito alto. O dono das baquetas Roger Taylor mostra que domina seu instrumento e ainda por cima canta como ninguém. John Deacon, talvez o mais fraco dos quatro, marca bem o passo, completando a cozinha. Uma obra de arte, que nos apresenta a “Rainha” de verdade.

Um piano, somente um piano, é tocado paralisadamente e triste. Temos assim, mais um marco na música. Doing All Right é triste, mas toma corpo conforme o tempo passa, tendo lampejos de rock folk, música country, bossa nova e rock pesado. Freddie canta com um tom feminino, imprimindo o primeiro momento andrógeno de toda sua carreira. Como o título diz, eles fizeram tudo certo.

Great King Rat é anormal. Aborda uma temática no mínimo lúdica, sobre um rei ratão de vida desregrada, é quase uma confissão cristã irônica. A melodia é divertida, tem um ar de tangos e tragédias, muita guitarra distorcida, com Brian May lembrando em alguns momentos o finado mestre Hendrix e depois fazendo levadas no violão a la Paco de Lucia. Muito blues e rock ‘n’ roll. Grande momento, tudo misturadaço.

Outro lapso hendrixiano, a guitarra de Brian May começa com um efeito reverso, como um disco tocado ao contrário. Um grito de estourar taças de cristal é desferido em My Fairy King mostrando ao mundo de novo quem é Freddie Mercury. Vários jograis de voz, acompanhados de um piano rítmico são feitos durante toda a música. O soberbo, o clássico e o rock pesado estão todos juntos neste suflê musical. A letra parece mais que foi escrita pelo Led Zeppelin, pois fala de um conto de fadas, temática constante dos contemporâneos do Queen. Os segundos  finais são magnânimos, o piano e a guitarra são de pura virtuose. Uma das melhores do disco.

A bateria toca em conjunto com palmas, Liar assim começa falando sobre a confissão de um mentiroso. O riff inicial é totalmente antagônico ao riff e melodia principal. A faixa possui um ritmo muito interessante, dando às vezes vontade de pular, às vezes vontade de balançar a cabeça, existem momentos variados em toda ela. A palavra “Liar” é gritada várias vezes em uníssono por todos da banda, mostrando uma equidade entre os membros. Por isto ficaram tantos anos juntos e provavelmente ainda estariam se Freddie Mercury não tivesse sido levado pelo maldito vírus da AIDS.

Minha faixa preferida começa agora! Mostrou-me um lado instrumental totalmente paradoxal ao que era Queen pra mim na época. É a melhor introdução que já ouvi! Brian May dedilha algo impronunciável em seu violão, é complexo e profundo, sendo acompanhado de perto pela levada de baixo de John Deacon. Uma virada de bateria inicia de vez The Night Comes Down. Freddie mais uma vez está agudo, estridente, modulando constantemente de tom e voz. Enquanto a noite cai, um clima de romance permeia todo o ar. O final da canção traz a bela introdução de volta, como se fosse o ciclo do dia, quem sabe até, o ciclo da vida e encerra este petardo lírico.

Modern Times Rock ‘n’ Roll é curta e pronta para a próxima, bem punk rockeira. A melodia é simplificada, rápida e quase não tem a presença de Freddie, que dá lugar a Roger Taylor nos vocais, que não decepciona de modo algum.

Son And Daughter é a mais sábatica e blueseira do disco, em alguns momentos lembra os canadenses do The Guess Who. Mesmo assim encontra espaço para toda influência clássica do Queen. Freddie está com a voz mais agressiva e nervosa. Brian May insere uma variedade de guitarras, solando, microfonando, enfim, fazendo de tudo um pouco. A letra é um tanto quanto ambígua deixando algumas arestas em aberto.

Esta faixa resume a temática religiosa que aparece em todo o disco, sendo a mais gospel de todas, era o que poderia se esperar, já que se chama Jesus. Novamente temos uma levada de flamenco que figura em toda a música, no entanto, é extremamente rock ‘n roll e psicodélica. Destaque para Brian May que faz um número incontável de solos, todos tocados em conjunto, mostrando técnica e destreza em manipular a guitarra.

Seven Seas Of Rhye parece ser a continuação de Jesus, só que sem vocais. Outra faixa curta e direta, com muito piano e guitarra novamente, provando que Freddie não era apenas um exímio cantor, como também um ótimo instrumentista.

Os fãs de Queen devem ouvir este disco, pois mostra a essência e o potencial rockeiro da banda. O disco parece carne malpassada, você sabe que não está totalmente pronta, mas é muito boa mesmo assim. =)

Grande Abraço!

domingo, 3 de junho de 2012

Porcupine Tree - In Absentia


Bem vindos, mentes amarguradas!

Para quem ainda não me conhece totalmente, devo elucidá-los que minha preferência pelo rock progressivo é grande. Muitas são as bandas que gosto, como as já famosas Pink Floyd, Jethro Tull, King Crimson e principalmente Yes, a banda a qual mais me identifico entre todas. Em breve farei um especial somente para ela. No entanto, quero começar falando de progressivo de trás para frente, pois há algum tempo acreditava que o gênero estava completamente morto, inexistente. Foi quando, perambulando pela internet, deparei-me com a melhor banda de rock progressivo da atualidade, e quiçá de toda a história do progressivo. Estou falando de Porcupine Tree, liderada pelo multi instrumentista inglês Steven Wilson, na minha singela opinião, o músico e letrista mais talentoso da atualidade.



Como disse acima, passei por um período de busca por sonoridades novas, eis que um dia, acessando o site whiplash.net, li uma resenha maravilhosa falando sobre bandas atuais que fazem rock progressivo e Porcupine Tree era uma delas. O texto abordava exatamente sobre o disco que falarei hoje, que foi o meu primeiro contato com o grupo inglês. A primeira música que escutei foi The Sound Of Muzak. Lembro-me até hoje quanta alegria ela me causou, pois minha esperança quanto à qualidade musical dos dias de hoje ressurgiu, o que é uma tarefa quase impossível, já que nota-se o quão diminuta é a vontade dos artistas de sucesso em produzir algo bom, jogando à marginalidade artistas competentes e criativos. Porcupine Tree é uma exceção a regra, pois desfruta de certo sucesso, no entanto, nos anos 70, bandas como Pink Floyd eram mainstream e lotavam estádios. Bem, vou parar com o muro das lamentações e vou ao disco.

Aumente o som! Blackest Eyes começa com notas espaçadas e com algum efeito. Eis que a porrada começa, trazendo um pouco de elementos modernos, como o heavy metal e guitarras com distorção bem pesada. Destaque para o competentíssimo dono das baquetas da banda, Gavin Harrison, que aprendeu muito com os mestres bateristas do passado, fazendo diversas viradas geniais. Outro ponto forte da banda são as inserções de violão e teclado. Ultimamente tem havido certo preconceito com estes instrumentos, que são mal utilizados, não se notando sua existência. Nesta faixa a banda mostra que é possível utilizá-los e muito, transformando-a em uma típica canção de Rock Progressivo, com momentos lentos e rápidos e muita instrumentalização. Linda canção.

Trains é o momento mais Jethro Tull do álbum, começa altamente folk, com Steven cantando baixo. A meu ver, a letra fala de lembranças e o passar da vida. E é neste clima que a canção se segue. Uma guitarra limpa toca os mesmos acordes durante toda a música, dando um aroma de paixão. O violão aparece novamente, fazendo um belo solo, simples, curto, mas muito bem encaixado com o som. Mais momentos bonitos, Steven Wilson monta um jogral com sua voz, muito interessante, nos lembrando Gentle Giant, que fazia grandes vocalizações. Após este grande momento da música, um banjo adentra tocando o tema principal e ao fundo, escutam-se palmas. A música não fica mais rápida, mas parece que cresce, se agiganta, é soberana de tudo. Aqui temos uma prova de quão majestoso é o som dos ingleses.



Mais violão, teclado e guitarra. Lips Of Ashes tem uma letra curta e profunda, dando cor a sentimentos. A melodia é melancólica, não possuindo bateria, o que dá um ar intimista. Os acordes dedilhados pelo violão são geniais, fogem das melodiais convencionais, exalando tristeza. A guitarra é tocada com o slide, aquela ampola de remédio que os guitarristas colocam no dedo mindinho geralmente, aparecendo em momentos pontuais em toda faixa, deixando um clima de rock espacial. Outra grande canção.

Aqui está a minha preferida. The Sound Of Muzak tem a letra mais ácida e corrosiva do disco. Fala de como a música atual é nada mais que um antidepressivo tarja preta e como ela se transformou em som ambiente, praticamente música de elevador e ameaça: “Uma das maravilhas do mundo está desabando/Está desabando, eu sei/É uma das besteiras do mundo que ninguém se importa/Ninguém se importa o bastante”. Quanto à melodia, tudo anda perfeitamente, o riff principal é feito por uma guitarra com efeito de violão, a bateria tem ritmos variados e dá um andamento maravilhoso, principalmente no refrão e solo. O teclado preenche totalmente a música. Lembro-me até hoje quando o ouvi pela primeira vez, a sensação que o solo de guitarra me causou. É cheio de personalidade, marcante e demarca o estilo de Steven Wilson, provando que domina todos os instrumentos que se propõem a tocar. Um clássico!

Porcupine Tree mostra por que é a melhor banda de progressivo da atualidade. Você escuta Gravity Eyelids e consegue citar todas as fontes em que beberam, no entanto, não é um plágio criativo de ninguém, tem sua personalidade, sua identidade. A viagem está instaurada, uma bateria eletrônica marca o passo enquanto Steven canta baixo novamente, instrumentos não identificáveis permeiam no ar. Na metade da canção, o vôo alto é quebrado abruptamente pelos riffs pesados de guitarra, trazendo-te novamente para a terra firme. A viagem retorna e você acaba de ouvir a música voando.

Wedding Nails se banha totalmente no Metal Épico, lembram em vários momentos as canções do Nigthwish, no entanto, por ser uma música instrumental não possui os vocais de ópera. Um teclado demoníaco toca a música inteira, que captura sua alma e leva diretamente para o capeta. Os riffs de guitarra são rápidos, violentos e de muita força, mostrando toda a versatilidade da banda, que sabe dar carinho e te cobrir de porrada ao mesmo tempo. É a música mais progressiva do álbum!

Prodigal faz tudo voltar à normalidade. Começa com os slides novamente e uma ótima linha de baixo, cheia de groove. Outra música que possui momentos variados, começando mais lenta e depois colocando o rock and roll no ar, indo e vindo neste sentido, sendo extremamente bipolar. A letra é triste e traça variadas reflexões. As linhas de guitarra são soberbas, tanto nos acordes, quanto no solo.

3 é enigmática. Possui uma série de instrumentos e efeitos sonoros. É quase impossível listar todos os momentos da música. Acho que é mais prudente falar de sentimentos causados por ela. É calmaria e constância, te faz divagar, sonhar longe, pensar em quem queria ter amado, em como a terra fica longe quando olhada de cima, como a tristeza aparece sem ter sido convidada, tédio, temperança, tudo isto misturado e em ordem não cronológica.

A viagem acaba, e o tom fica grave. The Creator Has A Mastertape é sisuda e te olha feio. Fala do que criamos e construímos. A guitarra só entra para deixar a música pesada, no entanto aparece pouco aqui. Um teclado que lembra uma ambulância toca ao fundo. Esta faixa me causa medo!

Heartattack In A Lay By é talvez a mais introspectiva do álbum inteiro. A melodia novamente não tem bateria e é bem calma. Os acordes são dedilhados novamente, imprimindo muita tristeza, um violão 12 cordas toca em conjunto. Existe uma unidade em todos os instrumentos e a tristeza aumenta. Novamente temos um jogral de vozes, que lembra muito Gentle Giant. O ataque cardíaco no acostamento parece eminente.

O baixo cheio de groove está de volta e permanece a música inteira. Strip The Soul é mais um grande momento progressivo do álbum. A letra é extremamente questionadora, falando um pouco de um lar comum e quanto lixo ele pode ter guardado dentro. A melodia é completa, sofre muitas variações, tem riffs muito bem construídos de guitarra e a bateria é totalmente inconstante, não sendo um mero metrônomo.

Esta é a faixa que mais se parece com o que tem sido feito de rock ultimamente. Um teclado estilo Coldplay toca as mesmas notas, Steven destila versos estranhos e de pura imaginação. Violinos, que parecem oriundos de um sintetizador, complementam tudo. Em minha opinião, Collapse The Light Into Earth, é a canção mais fraca deste maravilhoso disco, no entanto, como já disse anteriormente, todo disco deve ser analisado em conjunto, por tanto, ela tem sua relevância em todo o contexto musical da obra.

Para quem nunca ouviu Porcupine Tree, escutem! Qualquer trabalho deles é muito bom, até hoje nenhum disco deles me decepcionou, e olhe que já ouvi quase toda a discografia da banda. O último trabalho deles e da carreira solo de Steven Wilson, valem destaque também, quem sabe um futuro post aqui.

Grande abraço! 

sábado, 2 de junho de 2012

Alice In Chains - Facelift


Bem vindos, mentes elucubrantes!

Este é o primeiro de muitos posts de junho. Quero aproveitar o gancho grungístico deixado no último post e dissertar sobre outra banda que me fez olhar o rock de maneira mais simples e apaixonada.

Em meados do ensino médio, ainda possuía um gosto extremamente xiita quanto à música, conforme explanei no texto anterior. Na época fazia curso técnico de informática, tendo acesso assim, a nossa tão amada internet nas aulas. Lembro-me até hoje que um de meus amigos acessava um site que tinha algumas músicas e todo dia ele ouvia pontualmente Man In The Box. Eu muito orgulhoso de mim mesmo não aceitava aquele som, achava totalmente cru e sem o virtuosismo que me fascinava a época. Foram alguns anos à frente, após ouvir Soundgarden, que me permiti gostar de Alice in Chains. E gostei muito! Depois de vê-los ao vivo, ano passado, no SWU, mesmo não contando com a presença do finado Layne Staley, posso garantir que é uma de minhas bandas preferida. Vamos ao disco!



A capa do disco é algo de assustador. Cabelos ao vento, em tons de vermelho? Ou seria sua raiva saltando para fora? Acredito que todo mundo que escuta o álbum, termina ficando com esta cara! A foto diz muito sobre o momento vivido na época, bandas cheias de raiva e sentimentos petrificados explodiam e mostravam ao mundo que não era só na Inglaterra que rock de qualidade era feito. Foi um tapa na cara da cena musical, pois ainda se vivia o período negro que as bandas cheias de glitter do Glam Rock haviam deixado. Trocando em miúdos, o grunge trouxe de volta a sujeira ao Rock. E assim começa Facelift o álbum debut do Alice in Chains, que a meu ver, é tão importante quanto o Nevermind do Nirvana.

We Die Young começa pesada, bem suja como disse a cima. A melodia é heavy metal puro. O riff é sujo, assim como a letra, que fala do esgoto fétido que existe dentro das pessoas. Destaque para Layne Staley e Jerry Cantrell, dois monstros ao que se propõem a fazer. O primeiro tem um timbre de voz rasgado e muito forte. O segundo é extremamente técnico, o ouvi ao vivo, ele não erra sequer uma nota, mesmo tocando uma guitarra bem suja, que quase não se escuta a perfeição das notas, no entanto, ela está lá.


Man In The Box é a música que me fez gostar da banda. O riff é para lá de simples, sem muitas variações durante a música, apenas no refrão ele muda. Jerry usa um efeito chamado de Talk Box, geralmente para dar um ar de “guitarra que canta”. Este efeito aliado a voz rouca e grave de Layne é absurdo, este casamento dá certa raiva para a letra da música, que mistura merda, psiquismo e Jesus Cristo na mesma panela. Bem polêmica. O solo esta em conformidade com toda a música, agressivo, direto e muito bem executado.

Um piano monta uma melodia de metal, junto escuta-se uma guitarra slide bem devagar. As primeiras estrofes de Sea Of Sorrow são cantadas e de novo denunciam sentimentos que parecem ter sido jogados no lixo. A melodia em si é estranha, não conversa com a letra, pois são usados muitos acordes maiores, o que dá um tom alegre para a música, além do blues tocado por alguns segundo no meio dela. Creio que o objetivo aqui é ser irônico, falar de tristeza, mas não demonstrá-la. Outra vez Jerry Cantrell prova que é um grande guitarrista e compositor, fazendo um solo meio Hendrix divino.

Que início musical maravilhoso!!! A guitarra meio baixa dedilha alguns acordes, o baixo entra dando um andamento maléfico, um violão bem baixo começa a tocar também, Layne canta com a voz dobrada a primeira estrofe. A mistura está feita: Bleed The Freak. Aqui o tom da música muda para fazer o sangue jorrar, a raiva na voz de Layne continua, dá para ver suas mãos ensangüentadas. A melodia do início da canção volta, e sentimos o nosso corpo flutuando novamente.

Guitarra, violão e baixo de novo! Assim nossas mentes não agüentam. Algumas notas do que parece ser uma cítara, iniciam I Can´t Remember colocando mais um super riff para nosso deleite. A mistura guitarra, violão e baixo aparecem por toda a música e não saem mais da cabeça. É estranho, mas em todo o álbum, você verá referências pesadas a Deus, como se fosse uma súplica a ele, que parece tê-los deixado na mão. Esta música é mais uma delas.

Mais destaque para Layne, que começa cantando a la Ronnie James Dio! Sua voz é inconfundível e extremamente relevante para o tipo de sonoridade da banda, nesta faixa ele grita ensandecido, deve ter amado muito esta menina. Aqui temos um melodrama dos infernos. Love, Hate, Love lembra em muito a proposta da música flamenca, só que aqui, parece ter sido escrita por um amante que quer lavar seu ego com sangue.

It Ain’t Like That não foge a proposta do álbum. Outra melodia pesada, extremamente compassada e muito maléfica. Aliás, todo o álbum é maléfico e algumas letras são até meio doentias. Creio que falem muito do que passava na cabeça de Jerry e Layne a época, o último acabou morrendo devido ao abuso mais que excessivo das drogas.

Sunshine é talvez a música mais paradoxal do disco. O riff inicial relembra grandes momentos do rock, poderia ser de uma música do Led Zeppelin, Ten Years After, Grand Funk Railroad e etc. Em grande parte da música a melodia é alegre, forte e não causa tristeza, sofrendo uma série de variações em seu decorrer. Agora pare e leia a letra. É uma confissão, um processo de catarse, de falar de sentimentos vividos há muito tempo atrás e de assim, se livrar de toda a culpa sentida. Agora escute a música e veja se letra e melodia casam!

O começo desta faixa parece ter sido retirado do álbum 1984 do Van Halen. De novo tudo perfeito, Layne destruindo nos vocais, Jerry atacando de Eddie Van Halen, o que mais precisamos? Uma letra no mínimo indecifrável. Olhe isto: “Desolador, se sentindo bem/Corpo sobre... a mente/Está mais lenta, redução é dedicação também/Inspeção personalizada”, se você conseguiu entender, parabéns Put You Down foi escrita para você.

Confusion é auto-explicativa. É lenta e confusa. De novo como vimos em Sunshine e Sea Of Sorrow, temos uma melodia alegre, aliada a uma letra extremamente obscura, que aborda todas as mazelas da humanidade.

I Know Somethin (‘Bout You) é o momento mais divertido até aqui. Tem muito funk (de novo, não é aquele que toca no ônibus) e groove. Arrisco-me até a dizer que possa ter sido uma das influencias para Chico Science, pois tem muito ritmo e é deveras pesada. A letra é vingativa e não fala de dor, mas sim como provocá-la.

Real Thing encerra os trabalhos. É extremamente raivosa, todos os integrantes estão enfurecidos. O riff parece uma navalha que te retalha. Layne grita de ódio e prazer, parece regozijar-se por causar dor. A letra confirma isto e dá até certo medo. Aqui temos a referência mais clara as drogas, principalmente na parte final, em que Layne pronuncia algo, parecendo um viciado de rua, completando com uma tossida nojenta.

Tenho muito prazer em comentar os discos do Alice in Chains, pois é uma banda com muita capacidade criativa, que alia melodias muito bem construídas, com letras que falam da psique humana, com certa propriedade até. Para quem viu ao vivo, sabe que os caras têm muita lenha para queimar ainda. Seria uma pena Jarry Cantrell ter se aposentando após a morte de Layne, já que sua mente é deveras musical e ainda nos brindará com ótimos discos, como o Black Gives A Way To Blue, lançado recentemente.

Grande Abraço!