Bem vindos, mentes elucubrantes!
Este é o primeiro de muitos posts de junho. Quero aproveitar
o gancho grungístico deixado no último post e dissertar sobre outra banda que
me fez olhar o rock de maneira mais simples e apaixonada.
Em meados do ensino médio, ainda possuía um gosto
extremamente xiita quanto à música, conforme explanei no texto anterior. Na
época fazia curso técnico de informática, tendo acesso assim, a nossa tão amada
internet nas aulas. Lembro-me até hoje que um de meus amigos acessava um site
que tinha algumas músicas e todo dia ele ouvia pontualmente Man In The Box. Eu
muito orgulhoso de mim mesmo não aceitava aquele som, achava totalmente cru e
sem o virtuosismo que me fascinava a época. Foram alguns anos à frente, após
ouvir Soundgarden, que me permiti gostar de Alice in Chains. E gostei muito!
Depois de vê-los ao vivo, ano passado, no SWU, mesmo não contando com a presença
do finado Layne Staley, posso garantir que é uma de minhas bandas preferida. Vamos
ao disco!
A capa do disco é algo de assustador. Cabelos ao vento, em
tons de vermelho? Ou seria sua raiva saltando para fora? Acredito que todo
mundo que escuta o álbum, termina ficando com esta cara! A foto diz muito sobre
o momento vivido na época, bandas cheias de raiva e sentimentos petrificados
explodiam e mostravam ao mundo que não era só na Inglaterra que rock de
qualidade era feito. Foi um tapa na cara da cena musical, pois ainda se vivia o
período negro que as bandas cheias de glitter do Glam Rock haviam deixado.
Trocando em miúdos, o grunge trouxe de volta a sujeira ao Rock. E assim começa Facelift
o álbum debut do Alice in Chains, que a meu ver, é tão importante quanto o Nevermind do Nirvana.
We Die Young
começa pesada, bem suja como disse a cima. A melodia é heavy metal puro. O riff
é sujo, assim como a letra, que fala do esgoto fétido que existe dentro das
pessoas. Destaque para Layne Staley e Jerry Cantrell, dois monstros ao que se propõem
a fazer. O primeiro tem um timbre de voz rasgado e muito forte. O segundo é
extremamente técnico, o ouvi ao vivo, ele não erra sequer uma nota, mesmo
tocando uma guitarra bem suja, que quase não se escuta a perfeição das notas,
no entanto, ela está lá.
Man In The Box é
a música que me fez gostar da banda. O riff é para lá de simples, sem muitas
variações durante a música, apenas no refrão ele muda. Jerry usa um efeito
chamado de Talk Box, geralmente para dar um ar de “guitarra que canta”. Este
efeito aliado a voz rouca e grave de Layne é absurdo, este casamento dá certa
raiva para a letra da música, que mistura merda, psiquismo e Jesus Cristo na
mesma panela. Bem polêmica. O solo esta em conformidade com toda a música,
agressivo, direto e muito bem executado.
Um piano monta uma melodia de metal, junto escuta-se uma
guitarra slide bem devagar. As primeiras estrofes de Sea Of Sorrow são cantadas e de novo denunciam sentimentos que
parecem ter sido jogados no lixo. A melodia em si é estranha, não conversa com
a letra, pois são usados muitos acordes maiores, o que dá um tom alegre para a
música, além do blues tocado por alguns segundo no meio dela. Creio que o
objetivo aqui é ser irônico, falar de tristeza, mas não demonstrá-la. Outra vez
Jerry Cantrell prova que é um grande guitarrista e compositor, fazendo um solo
meio Hendrix divino.
Que início musical maravilhoso!!! A guitarra meio baixa dedilha alguns acordes,
o baixo entra dando um andamento maléfico, um violão bem baixo começa a tocar
também, Layne canta com a voz dobrada a primeira estrofe. A mistura está feita:
Bleed The Freak. Aqui o tom da
música muda para fazer o sangue jorrar, a raiva na voz de Layne continua, dá
para ver suas mãos ensangüentadas. A melodia do início da canção volta, e
sentimos o nosso corpo flutuando novamente.
Guitarra, violão e baixo de novo! Assim nossas mentes não agüentam.
Algumas notas do que parece ser uma cítara, iniciam I Can´t Remember colocando mais um super riff para nosso deleite. A
mistura guitarra, violão e baixo aparecem por toda a música e não saem mais da
cabeça. É estranho, mas em todo o álbum, você verá referências pesadas a Deus,
como se fosse uma súplica a ele, que parece tê-los deixado na mão. Esta música
é mais uma delas.
Mais destaque para Layne, que começa cantando a la Ronnie
James Dio! Sua voz é inconfundível e extremamente relevante para o tipo de
sonoridade da banda, nesta faixa ele grita ensandecido, deve ter amado muito
esta menina. Aqui temos um melodrama dos infernos. Love, Hate, Love lembra em muito a proposta da música flamenca, só
que aqui, parece ter sido escrita por um amante que quer lavar seu ego com
sangue.
It Ain’t Like That
não foge a proposta do álbum. Outra melodia pesada, extremamente compassada e
muito maléfica. Aliás, todo o álbum é maléfico e algumas letras são até meio
doentias. Creio que falem muito do que passava na cabeça de Jerry e Layne a época, o último acabou morrendo devido ao abuso mais que excessivo das drogas.
Sunshine é talvez
a música mais paradoxal do disco. O riff inicial relembra grandes momentos do
rock, poderia ser de uma música do Led Zeppelin, Ten Years After, Grand Funk
Railroad e etc. Em grande parte da música a melodia é alegre, forte e não causa
tristeza, sofrendo uma série de variações em seu decorrer. Agora pare e leia a
letra. É uma confissão, um processo de catarse, de falar de sentimentos vividos
há muito tempo atrás e de assim, se livrar de toda a culpa sentida. Agora
escute a música e veja se letra e melodia casam!
O começo desta faixa parece ter sido retirado do álbum 1984
do Van Halen. De novo tudo perfeito, Layne destruindo nos vocais, Jerry
atacando de Eddie Van Halen, o que mais precisamos? Uma letra no mínimo
indecifrável. Olhe isto: “Desolador, se sentindo bem/Corpo sobre... a mente/Está
mais lenta, redução é dedicação também/Inspeção personalizada”, se você
conseguiu entender, parabéns Put You
Down foi escrita para você.
Confusion é auto-explicativa.
É lenta e confusa. De novo como vimos em Sunshine e Sea Of Sorrow, temos uma
melodia alegre, aliada a uma letra extremamente obscura, que aborda todas as
mazelas da humanidade.
I Know Somethin (‘Bout
You) é o momento mais divertido até aqui. Tem muito funk (de novo, não é
aquele que toca no ônibus) e groove. Arrisco-me até a dizer que possa ter sido
uma das influencias para Chico Science, pois tem muito ritmo e é deveras
pesada. A letra é vingativa e não fala de dor, mas sim como provocá-la.
Real Thing
encerra os trabalhos. É extremamente raivosa, todos os integrantes estão
enfurecidos. O riff parece uma navalha que te retalha. Layne grita de ódio e
prazer, parece regozijar-se por causar dor. A letra confirma isto e dá até
certo medo. Aqui temos a referência mais clara as drogas, principalmente na
parte final, em que Layne pronuncia algo, parecendo um viciado de rua,
completando com uma tossida nojenta.
Tenho muito prazer em comentar os discos do Alice in Chains,
pois é uma banda com muita capacidade criativa, que alia melodias muito bem
construídas, com letras que falam da psique humana, com certa propriedade até.
Para quem viu ao vivo, sabe que os caras têm muita lenha para queimar ainda.
Seria uma pena Jarry Cantrell ter se aposentando após a morte de Layne, já que
sua mente é deveras musical e ainda nos brindará com ótimos discos, como o
Black Gives A Way To Blue, lançado recentemente.
Grande Abraço!
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