Bem vindos, mentes amarguradas!
Para quem ainda não me conhece totalmente, devo elucidá-los
que minha preferência pelo rock progressivo é grande. Muitas são as bandas que
gosto, como as já famosas Pink Floyd, Jethro Tull, King Crimson e
principalmente Yes, a banda a qual mais me identifico entre todas. Em breve
farei um especial somente para ela. No entanto, quero começar falando de
progressivo de trás para frente, pois há algum tempo acreditava que o gênero
estava completamente morto, inexistente. Foi quando, perambulando pela
internet, deparei-me com a melhor banda de rock progressivo da atualidade, e
quiçá de toda a história do progressivo. Estou falando de Porcupine Tree,
liderada pelo multi instrumentista inglês Steven Wilson, na minha singela opinião,
o músico e letrista mais talentoso da atualidade.
Como disse acima, passei por um período de busca por
sonoridades novas, eis que um dia, acessando o site whiplash.net, li uma
resenha maravilhosa falando sobre bandas atuais que fazem rock progressivo e
Porcupine Tree era uma delas. O texto abordava exatamente sobre o disco que
falarei hoje, que foi o meu primeiro contato com o grupo inglês. A primeira
música que escutei foi The Sound Of Muzak. Lembro-me até hoje quanta alegria
ela me causou, pois minha esperança quanto à qualidade musical dos dias de hoje
ressurgiu, o que é uma tarefa quase impossível, já que nota-se o quão diminuta
é a vontade dos artistas de sucesso em produzir algo bom, jogando à
marginalidade artistas competentes e criativos. Porcupine Tree é uma exceção a
regra, pois desfruta de certo sucesso, no entanto, nos anos 70, bandas como
Pink Floyd eram mainstream e lotavam
estádios. Bem, vou parar com o muro das lamentações e vou ao disco.
Aumente o som! Blackest
Eyes começa com notas espaçadas e com algum efeito. Eis que a porrada
começa, trazendo um pouco de elementos modernos, como o heavy metal e guitarras
com distorção bem pesada. Destaque para o competentíssimo dono das baquetas da
banda, Gavin Harrison, que aprendeu muito com os mestres bateristas do passado,
fazendo diversas viradas geniais. Outro ponto forte da banda são as inserções de
violão e teclado. Ultimamente tem havido certo preconceito com estes
instrumentos, que são mal utilizados, não se notando sua existência. Nesta
faixa a banda mostra que é possível utilizá-los e muito, transformando-a em uma
típica canção de Rock Progressivo, com momentos lentos e rápidos e muita
instrumentalização. Linda canção.
Trains é o
momento mais Jethro Tull do álbum, começa altamente folk, com Steven cantando
baixo. A meu ver, a letra fala de lembranças e o passar da vida. E é neste
clima que a canção se segue. Uma guitarra limpa toca os mesmos acordes durante
toda a música, dando um aroma de paixão. O violão aparece novamente, fazendo um
belo solo, simples, curto, mas muito bem encaixado com o som. Mais momentos
bonitos, Steven Wilson monta um jogral com sua voz, muito interessante, nos
lembrando Gentle Giant, que fazia grandes vocalizações. Após este grande
momento da música, um banjo adentra tocando o tema principal e ao fundo,
escutam-se palmas. A música não fica mais rápida, mas parece que cresce, se
agiganta, é soberana de tudo. Aqui temos uma prova de quão majestoso é o som
dos ingleses.
Mais violão, teclado e guitarra. Lips Of Ashes tem uma letra curta e profunda, dando cor a
sentimentos. A melodia é melancólica, não possuindo bateria, o que dá um ar
intimista. Os acordes dedilhados pelo violão são geniais, fogem das melodiais
convencionais, exalando tristeza. A guitarra é tocada com o slide, aquela
ampola de remédio que os guitarristas colocam no dedo mindinho geralmente,
aparecendo em momentos pontuais em toda faixa, deixando um clima de rock
espacial. Outra grande canção.
Aqui está a minha preferida. The Sound Of Muzak tem a letra mais ácida e corrosiva do disco. Fala
de como a música atual é nada mais que um antidepressivo tarja preta e como ela
se transformou em som ambiente, praticamente música de elevador e ameaça: “Uma
das maravilhas do mundo está desabando/Está desabando, eu sei/É uma das
besteiras do mundo que ninguém se importa/Ninguém se importa o bastante”.
Quanto à melodia, tudo anda perfeitamente, o riff principal é feito por uma
guitarra com efeito de violão, a bateria tem ritmos variados e dá um andamento
maravilhoso, principalmente no refrão e solo. O teclado preenche totalmente a
música. Lembro-me até hoje quando o ouvi pela primeira vez, a sensação que o
solo de guitarra me causou. É cheio de personalidade, marcante e demarca o
estilo de Steven Wilson, provando que domina todos os instrumentos que se
propõem a tocar. Um clássico!
Porcupine Tree mostra por que é a melhor banda de
progressivo da atualidade. Você escuta Gravity
Eyelids e consegue citar todas as fontes em que beberam, no entanto, não é
um plágio criativo de ninguém, tem sua personalidade, sua identidade. A viagem
está instaurada, uma bateria eletrônica marca o passo enquanto Steven canta
baixo novamente, instrumentos não identificáveis permeiam no ar. Na metade da
canção, o vôo alto é quebrado abruptamente pelos riffs pesados de guitarra,
trazendo-te novamente para a terra firme. A viagem retorna e você acaba de
ouvir a música voando.
Wedding Nails se
banha totalmente no Metal Épico, lembram em vários momentos as canções do
Nigthwish, no entanto, por ser uma música instrumental não possui os vocais de
ópera. Um teclado demoníaco toca a música inteira, que captura sua alma e leva
diretamente para o capeta. Os riffs de guitarra são rápidos, violentos e de
muita força, mostrando toda a versatilidade da banda, que sabe dar carinho e te
cobrir de porrada ao mesmo tempo. É a música mais progressiva do álbum!
Prodigal faz tudo
voltar à normalidade. Começa com os slides novamente e uma ótima linha de
baixo, cheia de groove. Outra música que possui momentos variados, começando
mais lenta e depois colocando o rock and roll no ar, indo e vindo neste
sentido, sendo extremamente bipolar. A letra é triste e traça variadas
reflexões. As linhas de guitarra são soberbas, tanto nos acordes, quanto no
solo.
3 é enigmática. Possui
uma série de instrumentos e efeitos sonoros. É quase impossível listar todos os
momentos da música. Acho que é mais prudente falar de sentimentos causados por
ela. É calmaria e constância, te faz divagar, sonhar longe, pensar em quem
queria ter amado, em como a terra fica longe quando olhada de cima, como a tristeza
aparece sem ter sido convidada, tédio, temperança, tudo isto misturado e em
ordem não cronológica.
A viagem acaba, e o tom fica grave. The Creator Has A Mastertape é sisuda e te olha feio. Fala do que
criamos e construímos. A guitarra só entra para deixar a música pesada, no
entanto aparece pouco aqui. Um teclado que lembra uma ambulância toca ao fundo.
Esta faixa me causa medo!
Heartattack In A Lay
By é talvez a mais introspectiva do álbum inteiro. A melodia novamente não
tem bateria e é bem calma. Os acordes são dedilhados novamente, imprimindo
muita tristeza, um violão 12 cordas toca em conjunto. Existe uma unidade em
todos os instrumentos e a tristeza aumenta. Novamente temos um jogral de vozes,
que lembra muito Gentle Giant. O ataque cardíaco no acostamento parece
eminente.
O baixo cheio de groove está de volta e permanece a música
inteira. Strip The Soul é mais um
grande momento progressivo do álbum. A letra é extremamente questionadora,
falando um pouco de um lar comum e quanto lixo ele pode ter guardado dentro. A
melodia é completa, sofre muitas variações, tem riffs muito bem construídos de
guitarra e a bateria é totalmente inconstante, não sendo um mero metrônomo.
Esta é a faixa que mais se parece com o que tem sido feito
de rock ultimamente. Um teclado estilo Coldplay toca as mesmas notas, Steven
destila versos estranhos e de pura imaginação. Violinos, que parecem oriundos
de um sintetizador, complementam tudo. Em minha opinião, Collapse The Light Into Earth, é a canção mais fraca deste
maravilhoso disco, no entanto, como já disse anteriormente, todo disco deve ser
analisado em conjunto, por tanto, ela tem sua relevância em todo o contexto
musical da obra.
Para quem nunca ouviu Porcupine Tree, escutem! Qualquer
trabalho deles é muito bom, até hoje nenhum disco deles me decepcionou, e olhe
que já ouvi quase toda a discografia da banda. O último trabalho deles e da
carreira solo de Steven Wilson, valem destaque também, quem sabe um futuro post
aqui.
Grande abraço!
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