Bem vindos, amantes da música!
Continuo falando sobre Rock
Progressivo e novamente falarei sobre músicos modernos! Partamos para um lado
mais folk rock, cujos violões e o blues se misturam a música country, ou música
caipira “Red Neck”. Alguns artistas são os mais lembrados quando suscitamos tal
estilo, Bob Dylan, Neil Young e a minha favorita, Jethro Tull.
Wilco é uma banda de Chicago,
Illinois, liderada pelo letrista e vocalista Jeff Tweedy. Levam a alcunha de
rock alternativo ou indie, sinceramente acho que existem elementos suficientes
para classificá-la como progressivo também, primeiro por misturar um portfólio
de estilos musicais, como rock, blues e folk, e, segundo por ter melodias com
determinada complexidade. E no registro ao vivo gravado em 2005, podemos notar
tudo isto que digo, sendo quase duas horas de música bem feita, principalmente
por contar com os maiores sucessos do grupo, além de muita espontaneidade.
São dois discos, vamos ao
primeiro:
Misundestood
é a primeira. Começa com uma bateria intransponível, Tweedy tocando alguns
acordes e rasgando a voz. Em alguns momentos, os instrumentos tocam todos
toscamente, parecendo até serem de brinquedo. A música toma corpo, fica mais
“pesada”, e transpõem guitarras sujas. É uma melodia relativamente tranqüila e
lembra em muito o estilo country da velha guarda, finalizando com o verso
“nothing” até a exaustão.
Um dedilhado simples e limpo
ameaça Company in My Back. A calmaria
também impera, e, apesar de ser uma melodia sem grandes modulações, formada por
uma pequena coleção de acordes, existem alguns momentos de genialidade, com
grandes riffs de violão, e solos jazzísticos espaçados. Na mesma toada temos The Late Greats, melodia com alguns acordes,
no entanto, é vibrante e absorta, parecendo conectar-se com a última. O piano é
muito importante para todo o disco, já que imprime uma toada de blues. Em
várias faixas como estas ele aparece sem efeitos, sendo, por tanto, a cereja do
bolo.
E é com dois pianos que Hell Is Chrome inicia-se. Parece meio calada,
meio silenciada, não mostra todo o potencial de começo. Conforme vai passando o
tempo, os instrumentos vão falando mais alto. Os versos e o refrão são bastante
repetidos e a certo ponto, temos um grande momento folk rock, lembrando até
algumas do Led.
Handshake
Drugs é extremamente divertida e uma das mais pesadas do disco. O baixo contraria o violão na introdução,
aumentando o êxtase. As guitarras estão mais distorcidas, solam quase a música
inteira e são o grande destaque. Os duelos lembram um pouco os feitos pelo
Lynyrd Skynyrd. Ao final, a microfonia delas, causa torpor, lembrando o Space
Rock.
I
Am Trying to Break Your Heart é a mais viajada, possui vários
elementos, suscitando até as masturbações instrumentais de Frank Zappa, que
inseria sons estranhos, muitas notas fora da escala e loucura pura. O tema
principal roda em torno de três acordes, porém não é impeditivo para a banda
variar e destoar o tempo todo.
Shot
In The Arm tem elementos mais modernos, como o piano que parece com
o do Coldplay. A base também não sofre grandes alterações, no entanto todos os
instrumentos tripudiam em cima dela, com variações no baixo e muitas
microfonias na guitarra.
O início de At Least That’s What You Said é muito
interessante, Jeff novamente sussurra, notas perdidas são feitas, então a
guitarra começa com o mesmo fraseado dos grandes setentistas, lembrando Led ou
Allman Brothers. Por fim, executam um grande solo, cheio de microfonias, entorpecendo-nos
novamente. Isto é o que me chama mais atenção na sonoridade do Wilco, as bandas
chamadas Indie, abandonaram o solo de guitarra, porém, não é o que vimos aqui.
Zappa, Hendrix e outros estão de
volta com os zunidos. Wishful Thinking
destila acordes que poderiam muito bem ter sido pensado por Ian Anderson do
Jethro Tull. Agora o clima é mais Floydiano, tanto na batida da bateria, quanto
na guitarra e teclado, que conservam notas longas por grandes períodos de
tempo. Poderia estar em Wish You Were Here, ou até mesmo o consagrado Dark Side
of The Moon, guardadas as devidas proporções, é claro.
Jesus,
Etc. traz o clima blues/country que estava faltando em sua
totalidade. A calmaria peculiar que aparece em vários momentos neste álbum dá
paz interior ao ouvinte. A mistura de lap guitar, (ou guitarra de colo, em que
se toca com slide) teclado de igreja e efeitos de violino, remetem-nos ao folk
rock das antigas.
Hendrix está de volta com seu
acorde de blues favorito, dando a impressão de que I’m
The Man Who Loves You será uma bordoada. É a faixa mais blues de
todo o disco, contando com saxofone e alegorias. É suja e vagabunda, como a
declaração de amor do título. A melodia gruda na cabeça e tem muito ritmo. É
uma de minhas preferidas, principalmente por não haver mais artistas que
flertam como o blues. Kicking Television
continua no mesmo gênero só que é mais
abusada e agressiva, com requintes de crueldade. Com certeza Jeff Tweedy estava
irritado com alguma coisa que estava passando na TV, pois grita muito,
mostrando um estilo antagônico ao do grupo.
Terminamos o primeiro disco,
vamos ao próximo:
Via
Chicago parece com todas as anteriores, tem calmaria, folk, anarquia
sonora, guitarras com distorções sujas. Então encontramos a beleza desta canção
nos versos entoados por Jeff, em meio a este pandemônio melódico, que nada mais
é que uma declaração de amor a sua terra natal. Hummingbird
tangencia a calmaria de antes e coloca uma pitada de alegria, como um
beija-flor. Em determinado momento, a guitarra e o andamento, tem um ar de
Queen, com melodias alegres e solos efusivos, acompanhados pelo teclado Mercuryano.
Muzzle
of Bees é uma das mais bonitas do disco. É recheada de melodias
diversas e conjuntas, principalmente com os acordes dedilhados no violão em
duetos. É uma injeção de calmante na veia. Mesmo os momentos em que a guitarra
se apresenta, não parecem tirar o estado paradisíaco. O piano toca as notas
necessárias e ainda abusa quando possível. One
by One segue o mesmo estilo da anterior, no entanto não tem o mesmo
brilho, mesmo assim é mais um ótimo country/blues.
A hora Bron-Yr-Aur stomp chegou. Airline to Heaven tem todo o clima do country,
folk e blues explorado nos anos 70, por bandas como Lynyrd Skynyrd e o próprio
Led, que nem americanos eram. O vocal tem todo aquele sotaque sulista e o solo e
a melodia de começo da guitarra lembra em muito o de Jessica, do já citado
Allman Brothers. Wilco sabe muito bem misturar suas influências e propiciar
coisas novas, este é um exemplo.
Radio
Cure leva-nos novamente aos momentos de loucura da banda. A
sonoridade é taciturna, introspectiva e obscura. A melodia sofre muitas
variações, às vezes até difíceis de assimilar, lembrando os contemporâneos do
Radiohead. Ao fim uma mudança brusca, quase bipolar, remetendo-nos à infância,
com música de brinquedo.
Ashes
of American Flags é minha favorita. Lembro-me que todas as vezes que
ouvi este álbum, começava por ela, e depois o colocava em seqüência. As frases
de guitarra que tocam por toda a música são de arrepiar, parecem acompanhar o
canto amargurado de Jeff Tweedy. O solo tem muita espontaneidade e por ser de
improviso tem muita paixão. Por isto sou tão fã de discos ao vivo, pois mostram
lados criativos que fogem dos estúdios.
Heavy
Metal Drummer retorna a alegria as nossas faces e corta o amargo da
anterior, dando mais ritmo. Depois de tantas músicas executadas até aqui, de
vários álbuns, podemos notar que a banda tem muita empatia, realizando grandes
feitos musicais.
Poor
Places mostra toda a força “progressiva” do grupo. O início da
música é o padrão de quase todas até aqui, acordes tocados bem baixos e Tweedy
cantarolando versos abstratos, em seguida a sonoridade efetiva. O teclado é um
show a parte, utiliza-se de boa parte dos efeitos disponíveis e faz várias
inversões, tanto de ritmo quanto de melodia. Ao final mais microfonia.
A barulheira se junta a Spiders (Kidsmoke). Com certeza a mais viajada
e trabalhada até aqui. Novamente é recheada de solos irritadiços, inconstantes
e cheios de sujeira. O que mais me atrai, são as duas notas feitas por baixo e
guitarra que ditam o ritmo na música e somente cessam nas viradas. Aliás, que
viradas espetaculares.
Comment
sintetiza tudo, e finaliza com a sonoridade mais desajeitada, que parece não
pertencer a todo contexto. Tem um que de apoteose. Lembra Frank Sinatra, mas
também poderia estar em The Wall do Floyd. É de se refletir!
Este disco não foi pensado como
uma obra de estúdio, porém, conta com o feeling
artístico da banda ao escolher este setlist. As influências foram sendo citadas
durante todo o texto, no entanto, acho importante salientar a grande influência
de Jethro Tull, pois quase todas eram iniciadas com acordes no violão, que nos
remetem a Wondrin’ Aloud, Mother Goose e outras tantas dos ingleses. Ouça e
repare.
Por hoje é só pessoal!
Grande Abraço.
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