domingo, 17 de junho de 2012

Wilco - Kicking Television - Live in Chicago


Bem vindos, amantes da música!

Continuo falando sobre Rock Progressivo e novamente falarei sobre músicos modernos! Partamos para um lado mais folk rock, cujos violões e o blues se misturam a música country, ou música caipira “Red Neck”. Alguns artistas são os mais lembrados quando suscitamos tal estilo, Bob Dylan, Neil Young e a minha favorita, Jethro Tull.



Wilco é uma banda de Chicago, Illinois, liderada pelo letrista e vocalista Jeff Tweedy. Levam a alcunha de rock alternativo ou indie, sinceramente acho que existem elementos suficientes para classificá-la como progressivo também, primeiro por misturar um portfólio de estilos musicais, como rock, blues e folk, e, segundo por ter melodias com determinada complexidade. E no registro ao vivo gravado em 2005, podemos notar tudo isto que digo, sendo quase duas horas de música bem feita, principalmente por contar com os maiores sucessos do grupo, além de muita espontaneidade.

São dois discos, vamos ao primeiro:



Misundestood é a primeira. Começa com uma bateria intransponível, Tweedy tocando alguns acordes e rasgando a voz. Em alguns momentos, os instrumentos tocam todos toscamente, parecendo até serem de brinquedo. A música toma corpo, fica mais “pesada”, e transpõem guitarras sujas. É uma melodia relativamente tranqüila e lembra em muito o estilo country da velha guarda, finalizando com o verso “nothing” até a exaustão.

Um dedilhado simples e limpo ameaça Company in My Back. A calmaria também impera, e, apesar de ser uma melodia sem grandes modulações, formada por uma pequena coleção de acordes, existem alguns momentos de genialidade, com grandes riffs de violão, e solos jazzísticos espaçados. Na mesma toada temos The Late Greats, melodia com alguns acordes, no entanto, é vibrante e absorta, parecendo conectar-se com a última. O piano é muito importante para todo o disco, já que imprime uma toada de blues. Em várias faixas como estas ele aparece sem efeitos, sendo, por tanto, a cereja do bolo.

E é com dois pianos que Hell Is Chrome inicia-se. Parece meio calada, meio silenciada, não mostra todo o potencial de começo. Conforme vai passando o tempo, os instrumentos vão falando mais alto. Os versos e o refrão são bastante repetidos e a certo ponto, temos um grande momento folk rock, lembrando até algumas do Led.

Handshake Drugs é extremamente divertida e uma das mais pesadas do disco.  O baixo contraria o violão na introdução, aumentando o êxtase. As guitarras estão mais distorcidas, solam quase a música inteira e são o grande destaque. Os duelos lembram um pouco os feitos pelo Lynyrd Skynyrd. Ao final, a microfonia delas, causa torpor, lembrando o Space Rock.

I Am Trying to Break Your Heart é a mais viajada, possui vários elementos, suscitando até as masturbações instrumentais de Frank Zappa, que inseria sons estranhos, muitas notas fora da escala e loucura pura. O tema principal roda em torno de três acordes, porém não é impeditivo para a banda variar e destoar o tempo todo.

Shot In The Arm tem elementos mais modernos, como o piano que parece com o do Coldplay. A base também não sofre grandes alterações, no entanto todos os instrumentos tripudiam em cima dela, com variações no baixo e muitas microfonias na guitarra.

O início de At Least That’s What You Said é muito interessante, Jeff novamente sussurra, notas perdidas são feitas, então a guitarra começa com o mesmo fraseado dos grandes setentistas, lembrando Led ou Allman Brothers. Por fim, executam um grande solo, cheio de microfonias, entorpecendo-nos novamente. Isto é o que me chama mais atenção na sonoridade do Wilco, as bandas chamadas Indie, abandonaram o solo de guitarra, porém, não é o que vimos aqui.

Zappa, Hendrix e outros estão de volta com os zunidos. Wishful Thinking destila acordes que poderiam muito bem ter sido pensado por Ian Anderson do Jethro Tull. Agora o clima é mais Floydiano, tanto na batida da bateria, quanto na guitarra e teclado, que conservam notas longas por grandes períodos de tempo. Poderia estar em Wish You Were Here, ou até mesmo o consagrado Dark Side of The Moon, guardadas as devidas proporções, é claro.

Jesus, Etc. traz o clima blues/country que estava faltando em sua totalidade. A calmaria peculiar que aparece em vários momentos neste álbum dá paz interior ao ouvinte. A mistura de lap guitar, (ou guitarra de colo, em que se toca com slide) teclado de igreja e efeitos de violino, remetem-nos ao folk rock das antigas.

Hendrix está de volta com seu acorde de blues favorito, dando a impressão de que I’m The Man Who Loves You será uma bordoada. É a faixa mais blues de todo o disco, contando com saxofone e alegorias. É suja e vagabunda, como a declaração de amor do título. A melodia gruda na cabeça e tem muito ritmo. É uma de minhas preferidas, principalmente por não haver mais artistas que flertam como o blues. Kicking Television  continua no mesmo gênero só que é mais abusada e agressiva, com requintes de crueldade. Com certeza Jeff Tweedy estava irritado com alguma coisa que estava passando na TV, pois grita muito, mostrando um estilo antagônico ao do grupo.

Terminamos o primeiro disco, vamos ao próximo:

Via Chicago parece com todas as anteriores, tem calmaria, folk, anarquia sonora, guitarras com distorções sujas. Então encontramos a beleza desta canção nos versos entoados por Jeff, em meio a este pandemônio melódico, que nada mais é que uma declaração de amor a sua terra natal. Hummingbird tangencia a calmaria de antes e coloca uma pitada de alegria, como um beija-flor. Em determinado momento, a guitarra e o andamento, tem um ar de Queen, com melodias alegres e solos efusivos, acompanhados pelo teclado Mercuryano.

Muzzle of Bees é uma das mais bonitas do disco. É recheada de melodias diversas e conjuntas, principalmente com os acordes dedilhados no violão em duetos. É uma injeção de calmante na veia. Mesmo os momentos em que a guitarra se apresenta, não parecem tirar o estado paradisíaco. O piano toca as notas necessárias e ainda abusa quando possível. One by One segue o mesmo estilo da anterior, no entanto não tem o mesmo brilho, mesmo assim é mais um ótimo country/blues.

A hora Bron-Yr-Aur stomp chegou. Airline to Heaven tem todo o clima do country, folk e blues explorado nos anos 70, por bandas como Lynyrd Skynyrd e o próprio Led, que nem americanos eram. O vocal tem todo aquele sotaque sulista e o solo e a melodia de começo da guitarra lembra em muito o de Jessica, do já citado Allman Brothers. Wilco sabe muito bem misturar suas influências e propiciar coisas novas, este é um exemplo.

Radio Cure leva-nos novamente aos momentos de loucura da banda. A sonoridade é taciturna, introspectiva e obscura. A melodia sofre muitas variações, às vezes até difíceis de assimilar, lembrando os contemporâneos do Radiohead. Ao fim uma mudança brusca, quase bipolar, remetendo-nos à infância, com música de brinquedo.

Ashes of American Flags é minha favorita. Lembro-me que todas as vezes que ouvi este álbum, começava por ela, e depois o colocava em seqüência. As frases de guitarra que tocam por toda a música são de arrepiar, parecem acompanhar o canto amargurado de Jeff Tweedy. O solo tem muita espontaneidade e por ser de improviso tem muita paixão. Por isto sou tão fã de discos ao vivo, pois mostram lados criativos que fogem dos estúdios.

Heavy Metal Drummer retorna a alegria as nossas faces e corta o amargo da anterior, dando mais ritmo. Depois de tantas músicas executadas até aqui, de vários álbuns, podemos notar que a banda tem muita empatia, realizando grandes feitos musicais.

Poor Places mostra toda a força “progressiva” do grupo. O início da música é o padrão de quase todas até aqui, acordes tocados bem baixos e Tweedy cantarolando versos abstratos, em seguida a sonoridade efetiva. O teclado é um show a parte, utiliza-se de boa parte dos efeitos disponíveis e faz várias inversões, tanto de ritmo quanto de melodia. Ao final mais microfonia.

A barulheira se junta a Spiders (Kidsmoke). Com certeza a mais viajada e trabalhada até aqui. Novamente é recheada de solos irritadiços, inconstantes e cheios de sujeira. O que mais me atrai, são as duas notas feitas por baixo e guitarra que ditam o ritmo na música e somente cessam nas viradas. Aliás, que viradas espetaculares.

Comment sintetiza tudo, e finaliza com a sonoridade mais desajeitada, que parece não pertencer a todo contexto. Tem um que de apoteose. Lembra Frank Sinatra, mas também poderia estar em The Wall do Floyd. É de se refletir!

Este disco não foi pensado como uma obra de estúdio, porém, conta com o feeling artístico da banda ao escolher este setlist. As influências foram sendo citadas durante todo o texto, no entanto, acho importante salientar a grande influência de Jethro Tull, pois quase todas eram iniciadas com acordes no violão, que nos remetem a Wondrin’ Aloud, Mother Goose e outras tantas dos ingleses. Ouça e repare.   

Por hoje é só pessoal!
Grande Abraço.

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