Bem vindos, mentes aparvalhadas!
No post anterior havia começado a
falar um pouco de Rock Progressivo. Iniciei a história de trás para frente,
falando sobre uma banda atual do gênero, pois considero o trabalho feito por
ela de muita relevância. Hoje faço um enxerto e falo sobre uma banda de
sonoridade diferente, mas não menos importante.
Queen é uma banda de suma
importância para quem diz gostar de Rock. Meu contato com a música deles se deu
em tempos idos e não posso precisar quando aconteceu, mas garanto que Bohemian
Rhapsody foi a primeira delas. Até que certo dia me propus a adquirir meu
primeiro disco da banda, que coincidentemente era o álbum debut deles. Um ótimo começo, posso dizer, pois mostra uma faceta
muito interessante dos ingleses, que se perdeu, de certo modo, no restante da
carreira. No álbum auto-intitulado notamos certa fúria e profundidade em várias
das músicas contidas. Vamos a ele.
A ilustração da capa remete-nos a
uma estréia majestosa, digno de quem é. O alguém de pé, iluminado por uma luz roxa,
ainda era desconhecido do grande público, mas nos proporcionou grandes alegrias
musicais. Com certeza, um dos maiores frontmans da história, que conseguiu
quebrar os preconceitos da época devido a sua bissexualidade, com seu carisma arrebatador.
Estamos falando de Farrokh Bulsara, vulgo Freddie Mercury.
Keep Yourself Alive é o começo de tudo, é o início, é aonde queremos chegar. Tem um riff e melodia que lembra a maioria dos clássicos da época, é direto, tem um bicorde que toca a música inteira e dita o ritmo. A primeira música e a primeira demonstração da marca registrada do Queen, vocais incessantes e portentosos, muito bem executados e liderados por um dos maiores do gênero. Toda a banda aparece aqui. A guitarra do Ph.D em astronomia, Brian May já está cheia de efeitos e falando muito alto. O dono das baquetas Roger Taylor mostra que domina seu instrumento e ainda por cima canta como ninguém. John Deacon, talvez o mais fraco dos quatro, marca bem o passo, completando a cozinha. Uma obra de arte, que nos apresenta a “Rainha” de verdade.
Um piano, somente um piano, é
tocado paralisadamente e triste. Temos assim, mais um marco na música. Doing All Right é
triste, mas toma corpo conforme o tempo passa, tendo lampejos de rock folk,
música country, bossa nova e rock pesado. Freddie canta com um tom feminino,
imprimindo o primeiro momento andrógeno de toda sua carreira. Como o título
diz, eles fizeram tudo certo.
Great
King Rat é anormal. Aborda
uma temática no mínimo lúdica, sobre um rei ratão de vida desregrada, é quase
uma confissão cristã irônica. A melodia é divertida, tem um ar de tangos e
tragédias, muita guitarra distorcida, com Brian May lembrando em alguns
momentos o finado mestre Hendrix e depois fazendo levadas no violão a la Paco
de Lucia. Muito blues e rock ‘n’ roll. Grande momento, tudo misturadaço.
Outro lapso hendrixiano, a guitarra de Brian May começa com um efeito
reverso, como um disco tocado ao contrário. Um grito de estourar taças de
cristal é desferido em My Fairy King mostrando
ao mundo de novo quem é Freddie Mercury. Vários jograis de voz, acompanhados de
um piano rítmico são feitos durante toda a música. O soberbo, o clássico e o
rock pesado estão todos juntos neste suflê musical. A letra parece mais que foi
escrita pelo Led Zeppelin, pois fala de um conto de fadas, temática constante
dos contemporâneos do Queen. Os segundos finais são magnânimos, o piano e a guitarra
são de pura virtuose. Uma das melhores do disco.
A bateria toca em conjunto com palmas, Liar
assim começa falando sobre a confissão de um mentiroso. O riff inicial é
totalmente antagônico ao riff e melodia principal. A faixa possui um ritmo
muito interessante, dando às vezes vontade de pular, às vezes vontade de
balançar a cabeça, existem momentos variados em toda ela. A palavra “Liar” é
gritada várias vezes em uníssono por todos da banda, mostrando uma equidade
entre os membros. Por isto ficaram tantos anos juntos e provavelmente
ainda estariam se Freddie Mercury não tivesse sido levado pelo maldito vírus da
AIDS.
Minha faixa preferida começa agora! Mostrou-me um lado instrumental
totalmente paradoxal ao que era Queen pra mim na época. É a melhor introdução
que já ouvi! Brian May dedilha algo impronunciável em seu violão, é complexo e
profundo, sendo acompanhado de perto pela levada de baixo de John Deacon. Uma
virada de bateria inicia de vez The Night Comes
Down. Freddie mais uma vez está agudo, estridente, modulando
constantemente de tom e voz. Enquanto a noite cai, um clima de romance permeia todo
o ar. O final da canção traz a bela introdução de volta, como se fosse o ciclo
do dia, quem sabe até, o ciclo da vida e encerra este petardo lírico.
Modern
Times Rock ‘n’ Roll é curta
e pronta para a próxima, bem punk rockeira. A melodia é simplificada, rápida
e quase não tem a presença de Freddie, que dá lugar a Roger Taylor nos vocais,
que não decepciona de modo algum.
Son
And Daughter é a mais
sábatica e blueseira do disco, em alguns momentos lembra os canadenses do The
Guess Who. Mesmo assim encontra espaço para toda influência clássica do Queen.
Freddie está com a voz mais agressiva e nervosa. Brian May insere uma variedade
de guitarras, solando, microfonando, enfim, fazendo de tudo um pouco. A letra é
um tanto quanto ambígua deixando algumas arestas em aberto.
Esta faixa resume a temática religiosa que aparece em todo o disco, sendo
a mais gospel de todas, era o que poderia se esperar, já que se chama Jesus. Novamente temos uma levada de flamenco
que figura em toda a música, no entanto, é extremamente rock ‘n roll e
psicodélica. Destaque para Brian May que faz um número incontável de solos,
todos tocados em conjunto, mostrando técnica e destreza em manipular a
guitarra.
Seven
Seas Of Rhye parece ser a
continuação de Jesus, só que sem vocais. Outra faixa curta e direta, com muito
piano e guitarra novamente, provando que Freddie não era apenas um exímio
cantor, como também um ótimo instrumentista.
Os fãs de Queen devem ouvir este disco, pois mostra a essência e o
potencial rockeiro da banda. O disco parece carne malpassada, você sabe que não
está totalmente pronta, mas é muito boa mesmo assim. =)
Grande Abraço!
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