Bem vindos, novamente!
Começo uma sessão de posts que
tem um significado importante para mim. Foi na casa de meu tio Alberto, que
ouvi pela primeira vez a banda ao qual falo hoje. Lembro-me que foi amor a
primeira ouvida, gostei de tudo, da guitarra, do teclado, da voz, da bateria e
do baixo. Tudo se transformou em uma maçaroca na minha cabeça e o estrago já
estava feito. Já ouvi diversas bandas do estilo que são fantásticas e tenho uma
apreciação enorme, como verão em posts futuros, no entanto, Yes é a que mais me
diverte e fascina até hoje. Primeiro por que todos os membros são
instrumentistas sem igual. Segundo que introduziram um estilo diferenciado de
fazer música, cortando um pouco o ácido do componente principal da produção de
um disco e colocando energia nova, imprimindo virtuosismo, complexidade, jazz e
música clássica. Muitos acham o estilo cansativo e demasiadamente chato, admito
que em vários momentos isto seja notório, principalmente em bandas como
Emerson, Lake and Palmer, mas no começo dos anos 70 muitas bandas e álbuns
surgiram cheios de inspiração e criatividade não podendo ser ignorados. Falarei
um pouco sobre a banda.
O Yes contou com várias formações
durante os anos, sendo formada sempre por seres anormais e extraterrestres em
seus instrumentos. A banda nasceu na Inglaterra com a associação de Jon
Anderson e Chris Squire, vocal e baixo respectivamente. A interação entre os dois pode ser notada em
toda a discografia da banda, fazendo um coral de vozes assaz interessante. Chris
Squire é um de meus baixistas preferidos, possuí estilo forte e se destaca na
multidão. A associação ganha um integrante novo, Bill Brufford, o dono das
baquetas, e, para mim, o mais notável em seu estilo, suas levadas jazzísticas de
bateria davam o andamento que o Rock Progressivo precisava na época, lembro-me,
que a primeira vez que ouvi King Crimson, senti que conhecia o baterista, mas
não sabia de onde. Para completar a banda, Peter Banks, guitarra e Tony Kaye,
teclados, foram músicos que deram os toques iniciais do projeto, no entanto,
foram substituídos dando lugar para Steve Howe e Rick Wakeman, graças a deus.
Os músicos não eram ruins ou medíocres, Howe e Wakeman é que são de Marte e
Vênus, só isso.
The Yes Album foi o segundo disco
que ouvi do conjunto, o primeiro foi o mais famoso da banda, Fragile. Não quis
começar com este, pois entendo que é uma unanimidade entre todos, preferi falar
de um que me fez virar fã fanático da banda de verdade. Aqui ainda não temos a
participação de Wakeman nos teclados, ao invés disto, temos a estréia do melhor
guitarrista de Progressivo da face da terra, e ainda em atividade, Steve Howe. Sem
mais delongas vamos ao disco!
Como disse acima, aqui é a
estréia de Steve Howe, escute os nove minutos e quarenta segundos de Yours Is No Disgrace e notará que o
guitarrista é o grande destaque, como se falasse a todos, "vim para ficar 'rapeize',
nem queiram me tirar daqui". Foi um dos grandes responsáveis por introduzir a
guitarra virtuosa, rápida e cheia de notas nas músicas. Atualmente este estilo
caiu no lugar comum, e brotam guitarristas do chão com grande formação técnica
e nenhuma paixão! Tempos românticos aqueles. Voltando à música! Existem várias
passagens, seria impossível detalhar todas, destaco três: primeiro o tema principal
de guitarra, que é limpo e sem efeitos, no entanto, é efetuado em toda a faixa,
sofrendo inúmeras alterações e aí está a beleza do som, segundo são os solos de
Howe, que toca limpo, distorcido e faz vários licks soltos, e terceiro a base
de baixo, bateria, voz e teclado, formando um fogão potente que aquece toda a melodia
das cordas de metal. Linda música, causa uma alegria profunda e viajante. Para
os amantes de músicas longas, temos um masterpiece.
Há algumas semanas me propus a
tocar no violão Clap, devo admitir
que a tarefa é bem difícil, e já passam alguns meses e ainda não consegui
executá-la. Você acha possível um inglês, com cara de cientista maluco, fazer
de cunho próprio, um Delta Blues do Alabama? Pois bem, ele fez e muito bem!
Mais parece uma composição de Robert Johnson e seus agregados. A versatilidade
de Howe é notória e com certeza o maior de seus atributos. A música é instrumental apenas, gravada ao vivo e possui muita energia, mostrando toda a cultura musical do guitarrista. Salve o mestre Steve
Howe!!!
Starship
Trooper é a viagem astral corpórea do disco, como o título sugere. A
dupla dos vocais Anderson e Squire aparece, mostra toda a harmonia supracitada
e nos deleita com as variações no refrão. A complexidade da melodia é menor e
mais “viajada”. Existem três momentos delimitados pela banda: Life Seeker"
(Jon Anderson), "Disillusion" (Chris Squire), "Würm" (Steve
Howe). O primeiro movimento tem um riff de
baixo iniciando, seguido por um de guitarra, não sofrendo variação, o segundo
movimento começa aos três minutos, quando um violão blues toca ensandecido e se
segue, até que um riff de guitarra inicia a viagem glacial do terceiro
movimento “Würm”. Esta é a música que para mim define Rock Progressivo, por
que, em linhas gerais, começa devagar e sem muito movimento, e ao longo dela,
toma corpo e ritmo, ou “progride”. É extremamente variada em instrumental,
parece que os integrantes utilizam de todos os recursos disponíveis.
Atente-se a bateria que faz ritmos diferentes em toda a música, não se
repetindo nunca.
Jon Anderson sobe as oitavas,
acompanhado por Squire e inicia uma das melhores músicas do Yes: I’ve Seen All Good People. Também possui dois
movimentos, o primeiro marcado pelos acordes de Howe no violão de 12 cordas,
que lembra em muito as modas de viola caipira aqui do Brasil, acompanhado de
uma flauta doce. O segundo movimento é mais dinâmico e tem muito blues, tanto
nos teclados, quanto na guitarra. O refrão “I've seen all good people turn
their heads each Day/So satisfied I'm on my way” é repetido incansavelmente e
acaba virando uma base para a música. Outra vez o coral de vozes aparece
bastante. Novamente percebemos a "progressão" da música, que encorpa em seu decorrer.
A
Venture é curta para os padrões do Yes. Inicialmente tem notas,
melodia e ritmo tímido, com alguns momentos de ápice ao decorrer da música, no
entanto, nada que atrapalhe a calmaria que ela proporciona. Chris Squire cria
uma linha de baixo forte que preenche a música. Tony Kaye toca o piano em um
estilo jazz lento e melancólico, sem efeitos nem nada, talvez o maior destaque
da música, já que seus companheiros tocam menos notas, fazendo enxertos e dando
cadência somente.
E finalmente Perpetual Change encerra os trabalhos. É a
síntese de todo o álbum. Tem de tudo um pouco, começa seco, com a guitarra,
baixo e bateria batendo direto e em conjunto. Depois a coisa acalma, tendo momentos
só voz e piano, dando novamente um clima de jazz. De novo, tudo muda, um riff
de teclado e baixo bem doido começa e entra em repetição, dando lugar a um solo
de guitarra mais doido ainda. Isto é Yes na sua forma mais pura, muita melodia,
vários instrumentos e voz tocando juntos, de forma não cartesiana. E assim
termina a música, outro riff diferente, cantado por Jon Anderson e acompanhado
de perto pela guitarra nervosa de Howe.
Em todos os primeiros discos do Yes, você perceberá quanto potencial criativo estes rapazes, agora senhores, tinham, pegando o Rock 'n' Roll e inserindo o blues, jazz, folk, música clássica etc, tudo em uma única canção. Alguns contemporâneos do mesmo estilo tentaram fazer igual, mas acabaram enjoando o público, pois não é para qualquer um.
Pode parecer que não destaquei o trabalho de Chris Squire no baixo, mas escute o disco novamente e repare em todas as partes melódicas que você julgar pesadas. É ele que está lá, descendo a lenha, provando que na cozinha, é feita comida forte e apimentada.
Em todos os primeiros discos do Yes, você perceberá quanto potencial criativo estes rapazes, agora senhores, tinham, pegando o Rock 'n' Roll e inserindo o blues, jazz, folk, música clássica etc, tudo em uma única canção. Alguns contemporâneos do mesmo estilo tentaram fazer igual, mas acabaram enjoando o público, pois não é para qualquer um.
Pode parecer que não destaquei o trabalho de Chris Squire no baixo, mas escute o disco novamente e repare em todas as partes melódicas que você julgar pesadas. É ele que está lá, descendo a lenha, provando que na cozinha, é feita comida forte e apimentada.
Não falei sobre as letras por um
simples motivo, não há uma lógica humana que as explique, você terá que lê-las
e ver como se encaixam em sua vida.
Grande Abraço, e até a próxima viagem!
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